Déjà vú

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— Irei postar assim que estiver pronta, relaxe. ─ Digo, fechando o notebook.

─ Espero muito, Black. Você pode ganhar uma grana com isso! ─Ela diz, entre um sorriso, tirando sua mão de meu ombro.

Assim que saí da faculdade, comecei a proucurar um emprego no centro de Nova Iorque, e por sorte achei um bar.
"The Dark Star" não era muito movimentado na época, porém eu podia finalmente expor meu amor pela música. Não rende muita grana, mas rendeu o suficiente para conseguir comprar um apartamento e me sustentar. É maluco pensar que saí de uma família grande e rica para viver em um apartamento compartilhado e pequeno no subúrbio da cidade, trabalhando em um bar falido de um senhor de meia idade que mal se importa com a própria vida. Mas é, aconteceu. E querendo ou não, agora essa é a minha realidade.

— Ei! Garoto! — O senhor chama, mancando ao andar até o cômodo. ─ Daqui a alguns minutos precisa entrar no palco. Estão te aguardando.

─ Tudo bem, olho tonto. Já estou indo.

─ Já disse 'pra não me chamar de Olho tonto moleque! — Ri baixo em resposta. O Sr.Moody, com apenas um olho, uma perna manca e um rosto carrancudo me faz repensar na teoria que um dia ele já amou alguém. Ou se é que pode.

Deixo os dois nos fundos do estabelecimento e vou até o backstage improvisado que fizemos. Há alguns meses atrás, Marlene achou alguns rabiscos e insistiu por semanas para que eu pelo menos fizesse o acústico e tentasse tocar. A insistência foi tanta, e o tempo livre de sobra me fizeram tentar por pelo menos uma vez. Marlene se encantou, coisa que até hoje eu não entendi o porquê.

Fútil. É como eu descreveria minhas canções. Ninguém deseja escutar a deplorável vida amorosa de um adulto de 26 anos que mal sabe o rumo da própria vida, que se afunda em álcool e cigarros para esconder a realidade triste que é viver. Pego a jaqueta de couro que Dorcas, uma amiga, havia customizado há algumas semanas atrás. Saio para a frente do bar, com minha guitarra em mãos, subo no palco. Hoje o movimento estava maior, mais pessoas andando pela rua principal. Isso era ótimo.

Isso era realmente o que eu queria para a minha vida? A mesma pergunta que gira na minha cabeça várias e várias vezes. Eu podeira ter assumido os negócios da família, ou ter continuado a faculdade e ter me formado em Relações Internacionais ou Finanças. Ter criado uma família, comprado uma casa. Mas todo dia eu acordo olhando para o teto branco e pensando: Mais um dia.


O palco fica ao lado do bar, atrás das mesas dos clientes, tendo uma boa vista. Algumas leds ficavam a baixo e atrás do palco, dando um clima a mais. E claro, como todos os "Shows" que eu faço são a noite, fica mais bonito ainda. Ajusto o tamanho do microfone, escolhendo o deixar no tripé por enquanto. Os equipamentos já deveriam estar em ordem quando cheguei.

─ Are you mine? — Chamo a atenção das pessoas presentes, algumas preferindo beber e comer seus aperitivos sem distrações, e outras parando para ver-me tocar. Segundos depois do nome ser dito, as batidas baixas começam a tocar de fundo – Marlene ligando as caixinhas – e aos poucos aumentando conforme a melodia corria.

(Para melhor visualização, recomendo ver esse vídeo)

Eu sou um fantoche em uma corda
I'm a puppet on a string

connected by the letters﹙𝘄𝗼𝗹𝗳𝘀𝘁𝗮𝗿﹚Onde histórias criam vida. Descubra agora