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Axel continuou na torre até o momento que as paletas de cores do céu mudaram para dar lugar ao amanhecer, não importava se Eric estivesse dormindo ou Ivar brigando com ele por suas perguntas, ele quis permanecer ali o máximo possível. Axel conseguiu sair da torre quando notou que a pele de Eric não parecia mais tão sensível e que sua febre tinha baixado. Deixou os remédios com Ivar e lhe explicou o necessário para cuidar do irmão, como limpar e manter a pele limpa e o que fazer caso a febre retornasse. Repetiu tantas vezes as mesmas instruções que Ivar pareceu muito disposto a lhe jogar pela janela caso ele não se apressasse para ir embora.
Caminhou tranquilamente, com as mãos nos bolsos e o rosto coberto pelo capuz do moletom. Ele sentia que deveria estar com dor de cabeça ou quem sabe com alguns sinais de ansiedade, mas não. Sentia-se anestesiado, incapaz de sentir alguma coisa, talvez fosse um mecanismo de defesa do seu emocional e no fundo temia como reagiria quando o tempo passasse e a realidade o atingisse com força, pois ainda parecia um sonho complicado e interminável.
A única coisa palpável e real em sua cabeça era sua preocupação com Eric.
Linteis ainda dormia, a cidade parecia muito bonita coberta de neve e reluzindo os tímidos raios de sol numa imagem muito pacífica. Pensou em Ivar e Eric voando pelos céus de vários mundos diferentes e perguntou se alguns deles se pareciam com isso, sua mente não conseguia formar nenhuma imagem clara dos mundos sobre os quais ouvir Ivar contar e sobre os quais seus pais contavam na sua infância.
Entreteu-se com esses pensamentos por um bom tempo e teria chegado em casa tomado por sua imaginação se não tivesse sentido alguém lhe observando, um eco fraco aos seus passos. Axel olhou ao redor discretamente, fez o melhor para ouvir algo mais claro e conseguiu ouvir passos pertos demais dos seus. Estava sentindo o coração bater dolorosamente e seu olho esquerdo ardendo quando virou bruscamente decidido a descobrir quem era que o seguia. Não deu muito certo porque ele trombou com uma mulher ruiva e esguia, muito bonita e que lembrava um pouco sua mãe quando jovem.
-Ah, me desculpa - Ela pediu esfregando o nariz - Eu estava distraída.
-Não, eu também estava distraído - Olhou ao redor novamente e além daquela mulher alta e elegante, não viu mais ninguém ali.
Ele franziu a sobrancelha e deu as costas para ela, pronto para retornar ao seu caminho quando a mulher segurou o seu pulso - Na verdade... você pode me ajudar?
-O que houve?
-Por acaso você viu esse gato? - A mulher virou a tela do celular para ele - Ele não voltou para casa ontem, estou preocupada...
Cerrou os olhos um pouco para a tela e pensando melhor, pareceu ter visto o gatinho alaranjado há algumas ruas, quando sua mente estava entretida com sua imaginação. Axel a acompanhou até onde o gatinho estava encurralado por dois cachorros de rua, ele os espantou e ajudou a ruiva com o felino assustado. Aquela não foi a primeira vez que resgatou um gato, há um tempo, voltando para casa depois do serviço, ele avistou desde a ponte uma sacolinha mexendo nas margens do rio Tenebris e dentro da sacolinha encontrou um gatinho amarelo com manchas pretas. Pensou em o adotar, mas Lynx rosnou tanto para o pobre filhotinho que Axel implorou a ajuda de Rurik, por sorte o ruivo aceitou ficar com o bichinho.
A mulher ruiva agradeceu e saiu com o gato no colo para a direção do seu lar, enquanto Axel voltou para casa, estranhando aquele encontro. Morava na mesma rua desde sempre e conhecia praticamente todas as pessoas nas redondezas, claro que pessoas mudando-se não era incomum, mas mesmo assim, aquela ruiva parecia não pertencer àquele lugar. Resolveu checar o celular ao invés de entregar-se a paranóias sem sentido e sentiu a nuca gelar com o tanto de ligações perdidas da sua mãe. Kaira iria o matar, independente da sua idade, era uma das desvantagens em ser um adulto que mora com os pais.
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Ravenmaster
FantasyAxel Hansen não compartilhava da mesma fé que os seus pais. Para ele, o cataclismo que dizimou o seu mundo anos atrás não passou de uma forma da natureza se equilibrar, e não um castigo dos deuses como muitos acreditavam. Por causa de um acidente, e...