Capítulo 2

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Minha prima não para de babar e interrogar Daniel. Eu já tinha falado dele pra ela diversas vezes, em algumas ocasiões ele falou com ela pelo telefone. Mas nada disso pareceu ter importância quando desci do carro com ele.
     Minha insegurança em relação aos meus avós já passou. Não guardam rancor nem desaprovam meu relacionamento. Minha avó Cláudia amou Dan, principalmente porque ele parece muito interessado em todas sua histórias. Meu avô Paulo o amou porque ele ri de todas suas piadas sem graça e conta piadas diferentes, que são ainda piores.
     Já não posso dizer o mesmo de minhas tias, que desaprovam seu estilo de roupa e acham que ele tem cara de marginal. Minha família tem a mente tão fechada que, na maioria das vezes, prefiro que eles nem saibam das coisas que eu faço ou penso. E, enquanto minhas tias desaprovam, minhas primas sentem inveja.
     Mas não paro para pensar em nada disso. Não é como se a opinião deles fosse afetar meu relacionamento de mais de dois anos. Tudo que eu faço é visando a minha felicidade, não a deles.

     O almoço de Natal aqui é sempre o mesmo. Arroz, feijão tropeiro, maionese, salada de alface e tomate, leitoa assada, frango assado e farofa. Pra beber: vinho, refrigerante e cerveja. E de sobremesa o tão famoso pavê.
     Me forço a comer a carne, tentando não pensar que era um ser vivo que morreu apenas para satisfazer o desejo de um humano. Sempre evito comer carne e, quase sempre que como, eu acabo chorando. Mas minha família não entende. Então, vir na casa da minha vó e não comer a carne preparou é falta de educação. Também não como feijão, mas já desistiram de me forçar a comer há muitos anos.
     Faço de tudo para participar da conversa, mas é tudo tão absurdo que pego o celular e começo a ler o livro que tinha baixado. Adoro ler. No outro dia, quando fiz Dan assistir Jogos Vorazes comigo, foi porque tinha acabado de terminar os livros. Ele não gosta, pra ser bem sincera, ele não entende o que eu sinto quando leio. É o único momento em que não preciso ser eu e lidar com todos os problemas da vida real.
     Estou terminando o último livro de A Rainha Vermelha, não aceitei o final de Tempestade de Guerra, mas agora percebo que muitas questões foram respondidas em Trono Destruído. Até agora RQ é minha série de livros predileta, antes era A Seleção.
    
     Termino o livro antes de irmos embora. Assim que saímos coloco os fones e finjo que as últimas duas horas não aconteceram.
     Minha mãe e meu namorado estão conversando animadamente sobre o meu futuro. Isso mesmo, eles querem decidir por mim o que vou fazer de faculdade e o que vou fazer depois da faculdade. Como se isso fosse decisão deles.
     Depois que eu havia terminado o livro e não tinha mais o que fazer, fui obrigada a socializar com minha família. Na hora que entrei na conversa, Dan estava falando para meus tios que nós dois faríamos faculdade de Direito e que ele tinha planos de ser juiz e, se eu quisesse, poderia dar aulas, mas não mais que isso, pois tinha que ter tempo para cuidar dos nossos filhos. Filhos que eu nem quero ter. Concordávamos sobre isso no passado, mas meus pais fizeram lavagem cerebral nele falando sobre como queriam um neto.
     Eu sei que o amo e tudo, mas, em algumas ocasiões, me pergunto porquê ainda estamos juntos. Não temos os mesmos gostos, as mesmas metas, muito menos as mesmas opiniões, até nosso círculo de amizade é diferente. O que mais gosto nele é o sentimento de segurança, mas até quando isso vai ser suficiente?

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⏰ Última atualização: Feb 03, 2022 ⏰

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