A Mensagem

Capítulo 1

Ele é incrível. A maneira como nossa conversa flui, como ele se preocupa comigo. Ele foi a melhor coisa que já me aconteceu.
     Deitados no sofá, assistindo Jogos Vorazes, eu não consigo parar de olhar para ele.
     -- Sabe que eu só tô assistindo isso por você, né? É absurdo, nenhum adolescente de 16 anos faz tudo isso. -- Ele me diz ainda olhando para a TV.
     -- Sei lá, mas o filme é muito bom. Tirando a idade deles e como parecem ter o dobro, o enredo é maravilhoso. Vai muito além do romance. A crítica política que tá implícita é simplesmente… é incrível! -- defendo meu filme favorito (um dos).
     Daniel revira os olhos e continuamos a assistir o filme.

     Estou tão feliz com o fim deste ano. Foi um ano bom, no geral, mas acredito que com o divórcio dos meus pais e a morte do meu gato ocorrendo durante os últimos 12 meses, acredito que 2022 será um ano melhor.
     No Natal, vou para a casa dos meus avós maternos, sei que meus avós paternos gostariam que eu ficasse com eles, mas, desde que meus pais se separaram, eu não vejo a família da minha mãe. Eles entendem. E eu passo na casa deles quase todos os dias.
     Meus avós por parte de mãe, Cláudia e Paulo, não me visitam há muito tempo. Tenho medo que se ressintam comigo desde que escolhi viver com meu pai. Além de poder matar as saudades deles, é a oportunidade perfeita para que conheçam Dan.
     Dan e eu estamos juntos há quase 3 anos. Nos conhecemos desde sempre, não consigo me lembrar de uma época em que não fôssemos amigos e, depois de tanto tempo, percebi que o sentimento ia além da amizade. Fiquei extremamente feliz quando soube que ele sentia o mesmo. Estamos juntos desde então.
     Muitas pessoas acreditavam que não duraríamos um mês. Enquanto outras nos disseram que sempre esperaram por isso. Mesmo nossos pais não se surpreenderam quando contamos a eles, acho que desde quando brincávamos de casinha aos 5 anos eles imaginavam que isso fosse acontecer, eventualmente. Não sei se foi o destino, se realmente não daremos certo no futuro, mas prefiro acreditar que era pra ser assim. É confortável estar com Dan, não concordamos em tudo, mas evitamos qualquer assunto em que não concordamos.
     Política é um tema muito sensível quando ele vai jantar lá em casa. Ele e meu pai não entendem meu ponto de vista e acham que tudo que eu falo sai do nada. Às vezes acho que eles esquecem que eu sou uma leitora voraz, que eu escuto todos podcasts de notícias que eu consigo assim que acordo, que eu assisto jornal e fico o dia todo procurando notícias. Eles sempre me subestimam. Prefiro ignorar, mas em alguns momentos penso em todo o machismo que sofri dentro de casa sem nem mesmo perceber.
     O silêncio no carro é extremamente desconfortável. Minha mãe nos buscou na casa de Dan -- ela e meu pai não suportam chegar perto um do outro. Desde o divórcio, minha relação com ela mudou. Antes, ela adorava mandar em mim e não ligava para meus sentimentos ou opiniões. Acho que ela começou a perceber o que fazia de errado quando escolhi meu pai, não ela.
     Tentei colocar música para amenizar o desconforto, mas minha mãe não gosta de música (principalmente as que eu escolho).
     Seguimos por todo o caminho com apenas o barulho do carro.