Lábios Vermelhos.

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-Alucard-

   Acredito que festas talvez não sejam meu forte, o jogo de luzes e o som alto confunde os meus instintos 100% aguçados de vampiro, mas se em todas as festas da cidade eu obtivesse a sorte de encontrar a deusa do amor  eu jamais pararia em minha casa que é alugada no nome de um laranja porque sou menor de idade nos cálculos humanos e aparentemente não tenho permissão para assinar documentos ou morar sozinho, e esqueci de forjar um documento de emancipação.
As danças humanas são um pouco estranhas, inclusive alguns parecem tão perdidos assim como eu, mas finjo que sei o que estou fazendo e sigo o ritmo da minha parceira de dança, tento manter uma certa distância entre nossos corpos para que eu não faça nenhuma idiotice e comprometa meu disfarce que foi meticulosamente estudado durante anos, me esforço para escutar a música mas a única coisa que me atrai é o seu perfume sedutor e quente.
 A mesma se aproxima de mim sem saber o perigo que corre em chegar tão próximo  de um predador demoníaco, mas perco o controle quando Afrodite encosta seu pescoço alvo e suculento em meu ombro fazendo com que seu perfume impregnasse na minha mente e na minha roupa.
Seguro sua cintura fina e a aperto contra meu corpo sentindo seu coração acelerar, posso sentir sua excitação e decido por impulso puxar seu cabelo de forma não muito grosseira fazendo com que a mesma olhe nos meus olhos, até que decido beijá-la.

O nosso beijo é quente e urgente, como se as nossas vidas dependessem disso para continuar fazendo algum sentido, o seu hálito doce e os lábios macios me fazem querer mais e mais dessa nova sensação que é o desejo por alguém e não mais o sangue. A aproximo mais de encontro a mim, segurando forte sua cintura como se ela fosse fugir em algum momento, porque meu corpo pede mais e mais e não consigo parar com o nosso beijo, é como um vício impossível de largar.
Sua língua entra em contato com a minha em movimentos que me causam arrepios estranhos, tento me afastar para não machucá-la mas Afrodite se aproxima novamente tentando me apertar contra si, sinto seu corpo arder em desejo (sim, nós vampiros conseguimos sentir o que a presa sente, como uma maldição) e isso faz com que as minhas presas cresçam e  fiquem aparentes por uma fração de segundos mas consigo controlá-los com a mesma proporção na qual eles aparecem, decido me afastar  e tento ser o mais delicado possível para não machucá-la ao afastar nossos corpos (infelizmente).

- Você namora?- A mesma pergunta desconfiada do meu afastamento repentino.

- Não, eu só não estou me sentindo muito bem por conta da bebida estranha que bebi mais cedo  e estou começando a ficar preocupado com a minha irmã que não aparece já tem um tempinho, nós nos mudamos recentemente, sabe? -Minto e torço para que ela acredite nessa desculpa mal dada.

- Claro, entendo perfeitamente... Eu só fiquei um pouco confusa mas compreendo, nos despedimos por aqui então?- A mesma estende a mão em despedida mas ao invés de apertá-la formalmente eu aproveito para depositar um beijo na palma da sua mão direita a olhando no fundo de seus olhos.

-Foi um prazer, Afrodite.- Me arrisco novamente ao me aproximar de Afrodite para dar um selinho de despedida, seus lábios vermelhos são macios e o hálito doce, minhas mãos frias deslizam até o seu queixo o segurando com um pouco de força mas a solto logo em seguida, a deixando sem fôlego.

- O prazer foi todo meu!- Ela me dá as costas e leva consigo os lábios vermelhos que quase me levaram á loucura, me deixando um tanto triste e ansioso para as próximas oportunidades que possam surgir, bom, pelo menos eu espero que tenham outras vezes.

Sinto a presença da minha irmã encrenqueira se aproximando de forma nada discreta, é impressionante o fato de que ela realmente tenta não chamar atenção.

- Finalmente acabou com o seu divertimento, Alucard?- Chegou a mesma  estraga prazeres de sempre, com seu cheiro misturado em cigarro e vinho barato que deve ter pegado de algum rapaz ou moça que ela deve ter se atracado por aí.

- Tivhá, como você consegue ser tão mau humorada até em festas ? Pelo menos concerte sua roupa e o seu cabelo que está totalmente desgrenhado!- A cabeleira loira quase branca da mesma parece que não vê um pente tem décadas. A alça do sutiã está aparente e o zíper do vestido vermelho colado as  poucas curvas está entreaberto.

- Só um aviso irmãozinho, os humanos da nossa idade não falam dessa forma, sinto te dizer mas vai precisar se esforçar um pouquinho mais se não quiser parecer estranho e deslocado. E eu também não vou ficar segurando vela para você né, já não basta termos dividido a mesma barriga durante três anos?- Sim. nós vampiros classe B temos três anos de gestação, eu sei, somos estranhos.

- Vamos embora agora, faça o que tiver que fazer e iremos partir.

- Você não manda em mim aqui, ok?

- Quanto mais tempo você desperdiçar, vou fazer questão de ser ainda mais chato.

Tivhá caminha até ao banheiro feminino tentando aparentar  ser normal, alguns humanos bêbados esbarram nela e outros tentam cantá-la com cantadas péssimas mas a minha irmã os ignora, essa é a minha garota.
Olho ao redor e percebo que todos os convidados já estão cambaleantes e posso escutá-los marcando afters em cidades longe daqui, prefiro nem entrar em detalhe nas conversas com conteúdos sexuais, essa festa com certeza teria sido tempo perdido se eu não tivesse tido a sorte grande de encontrar Afrodite, eu nunca vi uma mulher tão linda em toda minha vida (são exatos cento e dezessete anos).
Olho para meu relógio de couro com detalhes em dourado e o visor digital informa que são duas e onze da madrugada e não estou com nenhum pouco de sono, digamos que eu durmo em torno de duas horas por dia e quanto mais tempo fico sem beber sangue, mais sono sinto,  mas estou sem beber o líquido vermelho já tem alguns meses então estou dormindo mais do que deveria, mas o energético me deu um gás para aguentar essa noite barulhenta sem nenhuma gota de sangue no corpo.

- Estou pronta, podemos ir?- A minha irmã implicante me encara com olhar de poucos amigos, porém, cara feia para mim é fome (é o que dizem).

- DEVEMOS ir Tivhá, eu estou faminto e não quero comer comida.

Sigo caminhando enquanto Tivhá se apoia em meu braço direito para não cair com aqueles saltos enormes que ela usava, procuro a chave automática nos meus bolsos para destravar o carro  que está estacionado e quando viramos a esquina o destravo apertando o botão direito, entramos no carro e botamos o cinto e dou partida na ignição da chave, finalmente me livrando de tantas pessoas no mesmo local. Dirijo rápido sem prestar atenção no que a minha irmã estava tagarelando, a minha garganta está ardendo de sede e não posso correr de forma alguma senão adeus disfarce e olá punições vampirísticas! 
Depois de quinze longos minutos dirigindo sem parar em nenhum sinal vermelho chegamos ao nosso apartamento, destravo o cinto de segurança e abro a porta do correndo andando rápido, mas antes  jogo a chave do carro para minha irmã estacionar.
A recepção está quieta e o recepcionista estava mexendo no celular e aproveito para não fazer contato visual, não estou em meu melhor momento para discutirmos sobre gostos culinários como é de costume, decido abrir a porta de emergência e ando rápido até o sétimo andar sem prestar atenção em nada ao meu redor, quando chego em meu apartamento digito a senha na trava digital e a porta abre com um leve rangido.
Corro para a geladeira dos fundos e apanho sete pacotes de sangue A+ e os abro como suco de caixinha e vou devorando o líquido com desespero, as presas aparentes rasgam a embalagem fazendo com que um pouco do liquido derrame em minha camisa preta, lambo como se fosse ketchup e me termino de me alimentar, repito o mesmo processo até acabar com todas as bolsas de sangue que retirei da geladeira.

- Você até parece um monstro assim, todo desgrenhado, sujo de sangue na roupa e no rosto e com essas presas á mostra.- Tivhá me provoca entrando em casa e fechando a porta.
- AGORA não, por favor, me deixa.

- Eu não vou te deixar Alucard Morningstar! Você quase pôs tudo a perder por uma garota tão nova, a MINHA sede não chega nem aos pés da SUA meu irmão, eu consigo fazer o que faço sem me comprometer mas você está NOS prejudicando desta forma Luca.- A mesma respira fundo, fazendo uma leve massagem nas têmporas.- Eu quero que você tenha cuidado, a sede machuca e você sabe que é a única forma de nos ferir de verdade, a comida não basta, e outra, eu tenho certeza que a Afrodite Tenebris não merece morrer em suas mãos.

- Eu sei, mas ela é diferente... Eu não vou conseguir ficar longe minha irmã.

- Então você vai ter que fazer o máximo para se controlar.

Caminho para o banheiro e tranco a porta, não preciso ascender as luzes porque enxergo perfeitamente no escuro, retiro minhas roupas detonadas pelo sangue e as jogo na cesta de roupas sujas e entro no box abrindo o registro, a água gelada cai pelo meu corpo tranquilizando meus músculos e sinto as prezas sumirem.

Foi por pouco.







Afrodite: E o Beijo da Meia Noite.Onde histórias criam vida. Descubra agora