Ainda sobre criatividade, tenho dois problemas.
O primeiro deles é que, apesar de ser extremamente criativa, sempre tive problemas em expressar minhas verdadeiras emoções no papel.
Posso imaginar um livro completo; começo, meio e fim. Com personagens, suas respectivas aparências e personalidades. Mas nunca consigo transmiti-las fielmente.
Minhas historias nunca são publicadas até o final e, meus desenhos sem referencia são um completo desastre; o que me deixa infinitamente frustrada.
O segundo problema é que, por não ter um convívio social muito amplo, talvez eu acabe imaginando demais as coisas.
Precisa de um exemplo? Ótimo, lhe darei um.
O primeiro menino por quem me apaixonei.
La pelos meus 10 anos conheci um menino. Ele tinha cabelo castanho cacheado e parecia ser um garoto legal.
Como crianças são ótimas em fazer amizade (pelo menos é o que me disseram), não foi difícil virar amiga dele. Passávamos bastante tempo juntos e eu sempre o ajudava com as lições na sala de aula. Meio ano letivo depois me declarei apaixonada por ele, e foi assim desde então.
Conforme conversávamos e convivíamos eu descobria coisas novas a respeito dele, como por exemplo, que seu pai havia abandonado ele e a irmã aos cuidados da mãe e partido mundo a fora, e como isso acabou o deixando instável.
Alguns dias ele era calmo e gentil, em outros ele ficava volátil e qualquer coisa o deixava extremamente irritado.
Uma vez, ele se irritou com nossa professora e ameaçou jogar uma cadeira nela. Me lembro de que todas as crianças estavam aterrorizadas, menos eu. Conseguia ver a tristeza nos olhos dele, o medo, a saudade do pai.
Achava que pudesse concertá-lo. Que se ficasse ao lado dele o faria uma pessoa melhor, curaria suas feridas e então poderíamos andar de skate na praça em um dia quente das férias de dezembro.
Isso nunca aconteceu.
O tempo passou e nós crescemos. Ele ficou diferente, eu fiquei diferente. Perdi a conexão que tínhamos e sentia que sem ele eu não conseguiria continuar.
Então imaginei. Criei laços novos. Um mundo onde eu o curava e ele me completava. Comecei a imaginar tudo o que ele falava, e era perfeito. Comecei a imaginar como ele me trava, e era perfeito.
O garoto dos meus sonhos estava ali. Só precisava mantê-lo por perto e ele garantiria a minha salvação assim como eu a dele.
Mas não foi assim. Cada vez que ele falava comigo não era perfeito, era normal. A forma como ele me tratava, me deixava triste e irritada.
Mais tarde, descobri que não gostava daquele garoto que via a minha frente, o menino machucado e deformado pelo tempo e pelas ações do pai. Gostava do skatista, do garoto que sempre falava o que eu precisava ouvir e sempre me tratava da forma que eu desejava.
Minha criatividade tinha passado dos limites e eu tinha criado uma pessoa na minha própria mente, alguém que não existia.
E como se livrar do amor por alguém que não é real?
Ainda procuro essa resposta.
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Estrelas no infinito céu - por Felicity Valentine
RomanceChame isso de biografia se quiser. Um livro sobre coisas que sinto, vivo, gosto e desgosto. Talvez seja interessante pra você, talvez não. Que tal ser confidente de uma garota? #99 em biografia (04/03/22) #36 em sobremim (04/03/22)