Conti cancelou o show como num estalar de dedos, decidida em seguir logo ao temido hospital. Chegando lá, foi rápida e então viu-se à frente do leito onde Lorena estava um tanto, apenas, acordada. Charlotte, ao seu lado, estava inconformada, pensativa e andando de um lado para outro, não deixando de encarar a mulher no leito.
Lorena apertou a mão de Conti, que estava em pé ao seu lado, e abriu os olhos vagarosamente, com um sorriso minúsculo ao vê-las.
— Zama... — Dirigiu-se à Lady, com a voz baixa. — Está bem arrumada, Zama...
— Zama? — Johnson indagou, com uma expressão aliviada por vê-la acordada. Foi correndo até elas assim que a escutou.
— É meu primeiro nome. — Dissera Conti, dando de ombros e sorrindo. Olhou Lorena uma outra vez, vendo-a com uma expressão de fraqueza. — O que aconteceu, querida?
Hernandez balançou a cabeça.
— Eu... Eu não sei bem.
— O policial disse que alguém tentou contra você, Lore. — Charlotte começou. — Você viu ele?
— Pior que não vi, Lottie... — Parou, com pouca voz. — Foi tudo muito rápido. Eu estava entrando em casa, sabes, por aquele beco que sempre é esquisito, mas meu único caminho. — Outra pausa. — Eu só ouvi a voz dele, estava escuro. Ele me atingiu, eu gritei, os pitbulls do senhor Secondina saíram correndo... Só consegui me arrastar e, quando tentei olhá-lo, desmaiei. — Desta vez, fechou os olhos, tentando lembrar-se de tudo. — Eu só senti que ele estava tremendo muito, muito mesmo, muito nervoso e furioso... Tanto que me atingiu pouco. Ainda bem.
— E isso foi pela madrugada?
— Pois é... Mas só consegui falar há pouco tempo sobre... Você, Zama, para que a trouxessem. Estou feliz que as duas estão aqui.
Charlotte sorriu pequeno, olhando-as, mas ainda estava intrigada e ela mesma tremia um tanto. Falou um pouco, mas logo saiu e foi tomar um ar, apesar do corredor de um hospital não ser o mais cômodo dos lugares. Só tinha memórias ruins relacionadas a isso. Foi ao terraço, fumou cigarro por um tempo e sentiu raiva por aquilo tudo. Lorena era, literalmente, a pessoa mais adorável que já tinha conhecido. Ela era como um sol e, apesar de fatos ruins terem-na levado ao dancing, ela estava feliz lá.
E, apesar de vê-la bem, a má sensação de Charlotte persistiu, tal como Lady Conti sentia.
Ainda ficou lá por horas.
Lorena teve uma piora e voltou à sala de cirurgia. Acompanhando a dona do dancing no corredor, tentando animá-la a dizer que tudo iria ficar bem, viu Joseph aparecer e conversar com um policial ao fim do corredor, parecendo apressado para tal, um tanto perturbado. Um deles, que parecia ser o tal do Rhett, estava com os nervos à flor da pele também — no entanto, aos poucos foi sendo vencido. Ao meio do diálogo caloroso, Joseph acabou por avistar Charlotte e sinalizou que já iria falar com ela.
— Pois bem, — Johnson lia os lábios de Benson, praticamente, pois ele tentava não falar tão alto aquilo tudo — saiba que, ignorando este novo fato e os anteriores, vou denunciá-lo por sua negligência. O farei, senhor, podes ter completa certeza. Mesmo que não sirva, eu vou acabar sujando seu nome. — disse isso olhando em seus olhos, e Charlotte desejou poder ir lá apenas para ver a expressão do delegado, já que ele estava de costas para ela — Independente da ameaça de demissão ou não, senhor, eu preciso concluir meu trabalho. Há vidas em risco. O senhor sabe do que estou falando. Isso já poderia ter acabado...
Conti cutucou-a, e Charlotte virou-se.
— O que tanto vês?
— Joseph vai pegar o caso. Certeza. — Desta forma, respirou fundo. Não sabia nem o que sentir. Desde que pisou no dancing, mais cedo, algo muito estranho lhe ocorreu... — Se ele conseguir ter liberdade para resolvê-lo, logo tudo estará bem.
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Perfídia
Misterio / SuspensoÉ 1963, inverno na Grande Maçã e Charlotte Johnson está, pela primeira vez em muito tempo, à frente da própria vida e entregue aos terrores já imaginados do mundo maior. Não que já não tivesse os vivido, pois tinha. Estar ali, entretanto, podia ter...