Ao meu biso Chico, seu amado Vale do Jequitinhonha e suas histórias que nem Deus sabe se deveriam começar com E ou com H
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Seu suor a banhava de sal enquanto ele a agarrava com urgência buscando o próprio prazer. Seokjin a preencheu com seu gozo quente emitindo um gemido rouco seguido de um riso baixo e satisfeito. O coreano tinha, nos lábios carnudos e inchados pelos beijos necessitados que trocaram, um sorriso ladino irresistível como seu carisma. Mahina, sua amante, o observava inebriada.
— Por que sinto que nunca mais o verei?
A pergunta chegou aos ouvidos dele em um sussurro triste. Seokjin sorriu mais largo.
— Devia começar a se considerar uma mulher sensitiva, Mahina-ssi. — O honorífico tradicional da língua de seu país natal era a única coisa que denunciava que Seokjin não pertencia a Osaka de nascença, já que o japonês que falava era pronunciado com elegante precisão.
Fumeki Mahina era uma dama da alta sociedade japonesa, sendo esposa de um dos políticos mais influentes de Osaka e um dos mais ativos na colonização. Uma mulher normalmente contida que encontrava nos braços de seu amante vadio uma liberdade indescritível. Seus olhos se inundaram de um sal semelhante àquele ao que Seokjin tinha pintado sua pele nua poucos minutos antes.
— Não chore, sempre poderá achar um bom amante se continuar procurando — Seokjin comentou em um tom brincalhão, vestindo a calça de tecido puído com pressa. Podia ouvir passos nas escadas. — E seu marido ficará muito contente quando souber de minha partida.
Ele ofereceu a ela uma piscadela seguida de um sorriso largo e Mahina secava os olhos de um pranto sentido por ver a partida do Kim quando o viu saltar sua janela pelo que seria, de fato, a última vez.
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A mala em suas mãos era de um peso quase nulo. Não tinha muito o que levar para onde quer que o vento o guiasse. Caminhava pelas ruas desertas da madrugada de Osaka em direção ao porto no qual encontraria um Jungkook certamente furioso.
A camisa de algodão seco estava completamente aberta, deixando que o vento frio brincasse com seu tecido como uma bandeira de paz encardida. O suor em sua pele esfriava ao prazer da brisa e ele seguia sem pressa com os pés descalços, os sapatos esquecidos no chão do quarto de Mahina. Sorriu ao pensar na cena do poderoso marido da mulher encontrando seus sapatos furados deixados debaixo da cama do casal, seu prazer ainda escorrendo pelas coxas de sua esposa.
Normalmente era mais prudente, não gostava de colocar em perigo a vida de suas amantes, mas já se deitava com Mahina a tempo o suficiente para saber que o marido da mulher não teria como fazer nada contra ela. Todo o dinheiro e toda a influência que tinham colocado o homem no topo da política japonesa vinha da família de Mahina, então ele teria que viver com o fato de que sua mulher gostava de trazer os coreanos que ele tanto desprezava para seus lençóis.
Seokjin gargalhou escandaloso consigo mesmo pensando no pedido que a mulher tinha feito a ele assim que chegou à sua casa naquela noite mais cedo:
— Me dê um filho.
Acendeu um cigarro de palha que tinha sido enrolado para ele por Jungkook e tragou fundo, preenchendo seus sentidos com a fumaça para, em seguida, deixá-la bailar livre em direção à Lua.
Avistou por fim seu irmão mais novo sentado em um amontoado de caixotes abandonados à beira da praia. O garoto tinha a mala — tão leve quanto à de seu irmão — apertada contra o peito enquanto olhava ao redor, claramente nervoso.
Tinham que embarcar no primeiro navio em direção à América do Sul, pois, assim que o Sol nascesse, os oficiais do Imperador entrariam sem bater à porta na casa pequena onde costumavam morar em Ikaino. Mas os policiais não encontrariam os irmãos procurados por "perturbarem a paz", o que, para um coreano, significava ter ainda alguma fé em libertar sua terra das garras do Japão.
— Hyung! — Jungkook o chamou aflito ao finalmente ver o irmão chegando ao local combinado.
Seokjin abriu os braços e, com o cigarro sambando para cima e para baixo no canto de seus lábios almofadados, gritou:
— Jungkook! Meu caro, Jungkook! Por que a aflição?
— Achei que não viesse mais, tem noção que se nos atrasarmos seremos homens mortos? — o mais novo perguntou enquanto Seokjin se aproximava. Jungkook, então, notou seu estado. — Onde estão seus sapatos?
— Por aí, um presente de essência inóspita que deixei à minha querida Mahina. — Jungkook negou devagar, rindo pelo nariz.
— Não sei como pode não temer a morte, irmão.
O Kim mais velho franziu o cenho enquanto abria a mala para tirar de dentro um par de chinelos. Os calçou e apagou o cigarro contra as pedras que formavam uma pequena parede que os separava do mar.
— Eu não temo a morte, é verdade — concordou, olhando o irmão de soslaio para ver se tinha sua atenção. Como sempre tinha sido, Jungkook observava cada um de seus gestos com devoção. — Eu a espero, será minha última amante.
— Não sei por que ainda te escuto — Jungkook resmungou, arrancando uma risada alegre do irmão.
Do navio atracado, ouviram três apitos seguidos, o sinal para que os foragidos embarcassem. Os dois irmãos se encararam antes de deixarem o olhar vagar pela ainda adormecida Osaka. Aquele não era o lar dos Kim, mas era mais perto de casa do que o lugar para onde iam. Jungkook respirou fundo, se impedindo de chorar, e se chocou ao se virar para Seokjin e ver que o mais velho derramava suas lágrimas à vontade enquanto acendia outro cigarro.
— Como é mesmo o nome do lugar para onde vamos? — o mais velho perguntou enquanto caminhava lado a lado com Jungkook em direção ao navio.
— Cacau.
O nome de origem estranha pairou suave entre eles na pronúncia carregada de sotaque do mais novo. Aquele nome simplório de um município esquecido nas terras tropicais brasileiras foi a última coisa que Kim Seokjin e Kim Jungkook ouviram antes de subir a bordo do navio que os levaria diretamente para um novo lar tão estranho para eles quanto seu nome.
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capítulo gentilmente betado por by_taejin
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Cacau
Fanfiction[CONCLUÍDA] Kim Seokjin e Kim Jungkook têm que deixar Joseon quando passam a ser procurados pelo governo japonês por crimes contra a ordem. Graças à ajuda de um antigo amigo do pai dos garotos, eles conseguem entrar em um cargueiro em direção ao Bra...