Arruda

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🐆

— Bebe pelo menos um café, não sou tão forte assim para ficar te carregando por aí — Seokjin tentou brincar enquanto estendia o copo plástico para Açucena.

Ela tinha se recusado a deixar o hospital assim que acordou e descobriu que a amiga estava gravemente ferida, mas viva.

Aparentemente um grupo de mulheres passava pela estrada quando Euclides surgiu sujo de sangue pedindo por socorro. O rapaz disse que Luzia se afastou para ir ao banheiro e não voltou e quando foi atrás dela a encontrou quase morta. Mesmo com o depoimento crível e testemunhas, a polícia o prendeu mesmo assim, mais para mostrar serviço do que por motivos concretos.

Seokjin observou o rosto cansado de Açucena. A pele dourada tinha um tom cinzento e os olhos normalmente brilhantes pareciam foscos, circundados por um tom de hematoma. Suspirou e se sentou ao lado dela quando ela finalmente aceitou o café.

— Ela está machucada, mas não sofreu nenhum ferimento grave — ele explicou tentando soar o mais tranquilo quanto possível. Não era a verdade inteira e a moça sabia. — Vai demorar um pouco para ela se recuperar, mas Luzia é forte, ela vai ficar bem, Açu.

— Eu não devia ter saído do lado dela, eu nem devia ter deixado ela ir pra lá — respondeu em um tom de voz rouco. — E se aquilo que me seguiu na estrada foi atrás dela depois?

— Não adianta pensar nisso agora — ele falou levando as mãos até os cabelos dela juntando os fios em um coque para que não entrassem dentro de seu copo. — Mas vamos descobrir quem foi, eu juro. — Ela o encarou com os olhos marejados e assentiu. — Jungkook foi ver como Euclides está e depois vai passar na casa da família da Luzia pra ajudar com o que eles precisarem. Você pode ficar aqui na policlínica até ela acordar, mas só se me prometer que vai comer e dormir pelo menos um pouco.

Ela riu soprado antes de bebericar do seu café.

— Qual a graça? — ele perguntou rindo junto dela, mais de alívio do que por entender.

— É que você é inacreditável.

— E o que isso significa? — Ela deu de ombros. — Aish... — resmungou deixando um carinho no pescoço ainda marcado por seus beijos. Ele olhou ao redor para garantir que estavam sozinhos e se inclinou selando os lábios nos dela.

— Não foi Euclides, tenho certeza que não foi! — ela falou aflita, Seokjin segurou sua mão entre as dele.

— Eu também sei, não se preocupe, nós vamos descobrir quem está fazendo isso e vamos prender o desgraçado.

— Jin... Você acha mesmo que a Luzia vai ficar boa, não acha?

Ele tinha visto o estado da moça com os próprios olhos e também tinha perguntado a opinião do Doutor Francisco. O quadro não era dos melhores, traumas múltiplos como os que ela sofreu eram sempre perigosos e a falta de equipamento capaz de detectar a real gravidade dos ferimentos diminuía em muito o que podia ser feito por Luzia. Mas ele assentiu e mostrou a Açucena seu melhor sorriso.

Ainda era um bom mentiroso.

— Eu reuni alguns documentos, coisa antiga que encontrei no arquivo, acho que encontrei alguma coisa.

— Euclides, você está bem? — Jungkook perguntou preocupado. O colega estava sentado no chão da delegacia com a cabeça entre as mãos, a voz estridente denunciava as horas que passou chorando. Ele não só tinha que lidar com a aflição de ter a mulher que amava gravemente ferida, mas também tinha sido acusado e preso injustamente por aquilo.

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