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𝙲𝙰𝙿𝙸𝚃𝚄𝙻𝙾 𝚄𝙽𝙾
༄ ❦︎ ༄
𝙰𝙻𝚎́𝙼 𝙳𝙰 𝙲𝙾𝙻𝙸𝙽𝙰

“Não me corte, me soque, só me deixe ir
Até a enfermaria onde eu me entorpeço
Estou pálida como uma folha de papel
De tanto esvaziar meus pulmões na neve
Sim, estou tossindo
Estou sangrando, curativos não vão sarar isso.
Porque eles me odeiam, então eu estou fingindo.
Tudo, tudo isso para que me levem, levem.
Me levem para casa
Me dê essa permissão cor-de-rosa para ir embora
Isso é velho
Estou cansada de desejar ser esquecida.”
— Melanie Martinez.

                              ༄ ❦︎ ༄             

Haviam pontinhos de luz na minha janela.

A pouca claridade e as gotas que batiam nele demonstravam a chuva raivosa que tinha no lado de fora. Aquele dia estava mais frio do que antes, o clima estava péssimo graças ao inverno que eu tanto odiava. A tempestade que fluía dele levava toda tranquilidade que eu estava tentando formar naqueles segundos. Eu sentia falta do verão, dos dias quentes que ele sempre me dava, dos dias de alegria. Lá, parecia ser sempre assim: sem nenhuma emoção. Vazio. Seco.

Sem vida.

O quarto frio era sempre o mesmo, assim como a angústia que eu tinha enfrentado por estar submersa e aprisionada sobre aquela cama que tornava os meus dias cada vez mais solitários. Eu deveria ter me acostumado, fazia tanto tempo que me encontrava por lá. Três anos se passaram e as mesmas sensações de desconforto não mudaram; eu me sentia ainda mais diferente da garota que chegou naquele lugar pela primeira vez. Eu era tão boba no começo — sonhava e criava mundos em minha cabeça, como se a qualquer momento eu pudesse entrar neles e me afogar naquelas fantasias dos livros que eu me acostumava a ler. Mas, como toda magia podia ser quebrada por um personagem de um livro, fui despertada desse encanto de uma forma que nunca imaginaria que poderia ser tão cruel. Talvez, deveria ter sido assim desde o começo; não devia ter deixado minha imaginação fértil me dominar daquele jeito, dando a liberdade de me machucar da pior forma do mundo, impossível de esquecer. Por alguns segundos, tentei buscar meus avós em meus pensamentos, a saudade e o conforto que sentia com eles me corroía todos os dias e as mesmas perguntas sem respostas rodaram em minha mente. Por que me deixaram? O que eu fiz para me abandonarem daquela forma, em um lugar como aquele, sem sentido algum? No entanto, em meio a nova onda de questionamentos, eu sabia de suas explicações: não havia nenhuma. Eu havia sido rejeitada, simples e absolutamente e ninguém iria vir até a mim para me resgatar.

༄ ☘︎ ༄

— O que achou do Doutor Renault, querida?

Suspirei, sentindo a euforia em meu corpo. Forcei um sorriso cansado deixado pela viagem em meus lábios e virei para minha avó, Louise, que estava me olhando pelo retrovisor do velho veículo Tucker do meu avô. Ela sorriu levantando uma de suas sobrancelhas, esperando a minha resposta sobre o velho doutor sem cabelo que eu consultei pela última vez e que tinha paciência de sobra para as minhas perguntas.

— Gentil. — era a única resposta que eu podia admitir, já que ele era apenas daquele jeito. E questionável. Argumentava coisas sem sentido o tempo todo sobre as minhas pernas, me obrigando a colocar ele na minha lista de médicos nada surpreendentes no meu diário sombrio.

E o dr. Renault com toda certeza, era um dos mais irritantes que eu conheci.

— Oh. — ela desviou o olhar para a estrada, observando as fascinantes folhas coloridas que dançavam pelo vento e que me fazia a imitá-la, em empolgação — Ele disse notícias extraordinárias sobre sua melhora. — ela continuou, me surpreendendo e não consegui deter o sorriso na minha boca — Você está evoluindo cada vez mais.

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⏰ Última atualização: Feb 07, 2022 ⏰

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