Eu realmente não sou uma boa pessoa.
E nunca tentei me convencer - ou convencer a ninguém - do contrário.
Boas pessoas não são assassinas.
Dirijo pela estrada, tentando ignorar a culpa que revira meu estômago enquanto a garota amordaçada e amarrada chora no banco de trás. Não sei o seu nome mas tenho certeza que seu rosto será mais um a atormentar o meu sono à noite.
Bem, talvez eu mereça isso.
— Só cale a boca, tudo bem? — Eu digo, a encarando pelo reflexo do espelho, enxergando o medo vivo estampado em seus olhos — Ou eu terei que apagar você.
A ameaça obviamente tem o efeito contrário, aumentando o volume do choro irritante. Decido então fingir que ela não está ali e piso no acelerador. Quanto mais rápido tudo isso terminar, melhor. Assim que chego na parte Oeste da cidade, território de Anabele, dou de cara com os portões, enormes barreiras de ferro que guardam o Forte, fechados e solto um suspiro de irritação. Eles sabiam que eu estava vindo. Estaciono o veículo e, antes mesmo de ponderar se devo sair do carro e encontrar o responsável pelo incômodo, sou interrompida por dois dos vigias noturnos. Um deles se aproxima e bate no vidro, que eu abaixo com má vontade. Até parece que eles não sabem que sou eu.
— O que você quer, Rony? — Pergunto. De repente a imagem do meu carro passando por cima dele surge na minha mente e eu quase sorrio.
— Só estou fazendo meu trabalho, garota. Tenho que verificar o que entra e o que sai. Ordens lá de cima — Ele olha para a garota no banco de trás e faz sinal para que o segundo vigia abra o portão de acesso, que rapidamente o obedece.
Sigo com a velha caminhonete até o pátio e estaciono na primeira vaga. Olhando em volta percebo que o local está vazio. Não há sinal de nenhum deles por aqui. Melhor assim. Saio do carro e abro a porta de trás, puxando a garota para fora sem muita gentileza. Talvez eu devesse tratá-la melhor, mas acho que isso soaria de certa forma hipócrita, já que eu a coloquei nessa situação. Seus olhos imploram por piedade e eu quase a deixo ir embora, mas sei que preciso seguir o combinado.
— Anda, garota! — Eu digo, quando ela tenta correr na direção contrária, já cogitando arrastá-la pelo corredor — Ou você vem por vontade própria ou eu chamo os caras que você viu na entrada para levarem você. E eu garanto que eles não serão nada gentis.
A garota balança a cabeça devagar concordando obediente e mesmo apesar de parecer prestes a vomitar a qualquer momento, consegue acompanhar o meu ritmo. É triste que ela não saiba que estaria mais segura com eles.
Uma parte minha acha decepcionante que ela tenha aceitado seu destino tão facilmente. No lugar dela eu lutaria até o último segundo, tentaria correr para longe ou pelo menos causar algum dano em meus captores. Qualquer coisa além de desistir.
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Lionheart - Livro I
FantasyNa pequena província de Arnnen, Juliet Arrow, de 20 anos, realiza os trabalhos sujos de uma misteriosa organização para proteger a vida de seu irmão. Tudo muda quando a mulher que controla sua existência a envia para um Império feito de aço e fogo...