Capítulo VIII

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Hematomas azuis, amarelos e arroxeados estão espalhados pelo meu pescoço depois do que houve na noite anterior, e Grant, o babaca, parece ter se convencido de que isso foi uma punição pelo nariz quebrado. Ele cochicha com seus colegas, igualmente irritantes, me lançando olhares de tempos em tempos, e eu faço o melhor para ignorá-lo enquanto assisto Astrid falar. Aparentemente, essa é uma aula de estratégia e história da guerra, mas suas falas são tão monótonas que é difícil manter o interesse.

Astrid gesticula para um mapa que mostra toda a extensão do Império de Fogo em sua glória absoluta. Os países vizinhos parecem minúsculos próximos a ele. Eu mal consigo notar, de onde estou, o pequeno amontoado de terras ao sul que representa as três províncias. Sinto um aperto no peito ao me lembrar de Arnnen. Eu preciso dar um jeito de voltar para casa. Astrid fala com a voz baixa, como se a ideia de gastar sua voz com algo tão trivial como uma aula fosse absurda. Ela discursa vagamente contra os inimigos do Império, apontando para um pedaço de terra ao norte que tem aproximadamente dois terços do território comandado por Raphael.

— Olhem para Hexeria — diz ela. — Este é o país que se atreve a desafiar nossa soberania. As tensões têm aumentado nos últimos meses, e os incidentes de fronteira têm se tornado mais frequentes e violentos. Por isso estamos aqui.

— Eu não entendo — comento entediada, ao lado de Peter — Hexeria não parece ser tão ameaçadora, não julgando pelo tamanho. Também não tem vantagens geográficas quando é cercada pelas terras de Raphael em dois lados. Parece uma luta desigual. Por que criar uma unidade especial de combate quando o exército poderia dar conta? Tem algo de especial lá?

Um garoto de nariz redondo e bochechas proeminentes decide se virar para trás, como se me corrigir fosse a coisa mais importante do mundo.

— Você por acaso é burra? Hexeria tem bruxas. Elas são inimigas do Império há mais de um século.

— Do buraco de onde ela veio, as pessoas mal sabem ler, Marcus — Grant entra no assunto, se virando para me encarar, com a voz anasalada pelo nariz quebrado. — Você acha mesmo que ela saberia qualquer coisa além de como chupar...

— Silêncio! — A voz de Astrid ressoa na sala, de repente autoritária e inquestionável. Grant se cala imediatamente, salvando-se por um triz de ter mais um osso em seu corpo quebrado. — Conversas paralelas não serão toleradas. Guardem seus comentários estúpidos para si mesmos.

Ela me encara por um momento antes de voltar sua atenção ao mapa. Eu penso em perguntar sobre que tipo de ameaça ela está falando, mas duvido que ela me daria muitas explicações. Ela já decidiu que me odeia, provavelmente por influência de Jake.

— Bruxas são um problema para o Império porque não sabemos como enfrentá-las. Por isso, Jake veio para cá — Peter explica baixinho, enquanto finge anotar algo. — O rei de Hexeria clama ter se aliado a elas, mas aposto que elas o controlam por debaixo dos panos. Pelo menos é nisso que o meu pai acredita. Elas foram banidas  e, se pisarem aqui, serão condenadas à morte.

Eu penso em atualizá-lo, já que o pai dele convidou Anabele para vir para cá, mas decido guardar o pequeno detalhe para mim. Não acho que seja a ideia mais inteligente admitir em voz alta sobre meu histórico de trabalhar para uma aparente inimiga do Império do Fogo. No entanto, não deixo de ficar curiosa sobre o quão bom Jake realmente é. Se as bruxas de Hexeria forem capazes de metade do que Anabele é, ele não tem a menor chance.

Depois da aula de Astrid, seguimos para o lado de fora do palácio, onde o instrutor de combate nos espera. Eu não sei que tipo de aula será essa, mas a cara dos garotos à nossa volta parece um indicativo não muito promissor. Lucas, o professor responsável, é alto, mais do que Jake, e seu corpo esguio é quase completamente coberto por tinta colorida. Quando ele sorri, consigo ver sua língua bifurcada, que me faz pensar em serpentes. Logo no início da aula, Lucas nos faz correr por quilômetros ao redor do Palácio, em uma trilha cercada pela mata que parece não ter fim. Eu gosto de correr, então não me importo de percorrer alguns quilômetros ao ar livre. Mas alguns, como Peter, por exemplo, parecem perto de entrar em colapso, enquanto ele grita insultos e provocações, mais por achar divertido do que para nos encorajar, na minha opinião.

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⏰ Última atualização: May 23 ⏰

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