Lionheart - Livro I

Capítulo VI

Eu demoro alguns minutos para conseguir controlar minhas emoções, depois da minha briga com Jake. Por mais que eu queira vê-lo sangrar, não é como se eu pudesse dar ouvidos aos meus impulsos assassinos e simplesmente atacá-lo, não importa o quanto a ideia me fascine. Não, eu preciso pensar no que fazer adiante, já que no momento ele me tem na palma de sua mão.

Então eu saio da pequena dispensa, logo após ele ter me deixado sozinha, e volto para o meu quarto, para colocar a cabeça no lugar. O cômodo onde eu havia acordado quando cheguei aqui é um pouco maior do que o quarto que eu divido com Isaac, em Arnnen. Os móveis têm qualidade superior e a tinta na parede parece fresca. Exausta, eu me largo na cama, enquanto tento pensar em opções válidas para sair da confusão em que me meti. Mas meu cansaço vence a irritação e acabo apagando, acordando algum tempo depois com a sensação esquisita de estar sendo observada.

Abro os olhos, apenas para encarar um rosto pálido acima de mim.

Porra.

— Você está atrasada — Peter diz, e eu o empurro para longe, me sentando na cama — Ai! Mais cuidado!

— Você está louco? Me acordar assim do nada, que merda é essa? — esbravejo, ainda atordoada pelo sono interrompido. Observo Peter, que parece completamente à vontade no quarto, que agora eu considero como se fosse meu. Ele se reaproxima, sentando na cama ao meu lado, e eu noto um hematoma arroxeado em sua bochecha.

— Jake não tolera atrasos. Você precisa ir para a academia. Seu uniforme está no armário.

Jogo as cobertas de lado, irritada. Não sei quanto tempo dormi, mas sei que não foi nem de longe o suficiente. Mesmo assim, faço o que ele diz e abro o armário, notando alguns conjuntos de um uniforme semelhante ao que ele está usando, além de toalhas e roupa de cama. Então este é mesmo meu quarto.

Tiro a roupa que estou vestindo, ignorando Peter que desvia o rosto constrangido, a substituindo pelo uniforme.

— Um banho cairia bem — Reclamo — Qual é a urgência? Não é como se seu chefe estivesse louco para me ver novamente.

— As atividades da academia militar imperial ocupam quase todo o nosso dia, então não espere muito tempo livre. No final do dia eu te mostro onde ficam as salas de banho e o resto das dependências que você tem  permissão frequentar. Agora vamos — Ele me puxa pelo pulso, casualmente, como se fôssemos amigos — Ou vamos perder o café da manhã.

Então está de manhã. Não fazia ideia de que horas eram quando cheguei aqui, quanto tempo dormi ou há quanto tempo estou fora de Arnnen. Não ter noção do tempo me incomoda, especialmente agora que ele é essencial para a minha sobrevivência. Penso no veneno que corre em minhas veias, preocupada. Eu dormi algumas horas e preciso de uma dose diária do soro, para não acabar morrendo. Jake prometeu me manter viva, pelo menos por enquanto, mas é difícil saber se posso confiar que ele irá cumprir com a sua palavra.

— O que vamos fazer hoje? — Pergunto, deixando que ele me arraste corredor afora — O imperador disse que eu deveria...

Sou interrompida pela figura imponente e mal humorada de Jake, que nos aguarda do lado de fora no corredor. Olho para sua mão, vendo resquícios dos cortes causados pelo nosso embate e quase sorrio.

— Estão atrasados — Ele diz e já começa a caminhar. Peter o segue imediatamente e sem escolhas, eu vou logo atrás deles — Este lugar tem regras. Você trabalhará sob meu comando, mas não na minha unidade. Obedeça todas as ordens dos mestres da academia e não abra a boca se não falarem com você. Qualquer transgressão será punida imediatamente. Se falhar no seu trabalho, não terá mais utilidade ao Império, entendidos?