Caverna Infestada - I

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Em um pequeno morro distante do centro da aldeia, um senhor ia ao encontro de uma grande árvore de folhas rosadas. Enquanto subia o pequeno morro se apoiando em um cajado, o senhor arfava. Estava trajado de roupas rústicas de cor verde-escuro e usava uma capa em suas costas que balançava de forma incansável.

Ao chegar no topo do morrinho, se apoiou no cajado com as duas mãos e se inclinou um pouco.

- Enfim... Te achei... - disse ele, em meio a baforadas. - Sabia que estaria aqui... Ethan.

Debaixo da árvore estava um jovem, deitado com os braços entrelaçados atrás da cabeça.

- Como me encontrou? - disse o jovem.

- Já te disse que não pode vagar sem permissão... - o senhor cortou a conversa.

- Eu queria andar um pouco. - O jovem se assentou, cruzou as mãos e esticou os braços para cima. Seu corpo emitiu um estalo. - Mas não fui lá embaixo. - Ele pontou para o amontoado de casas ao longe. - Até pensei que poderia passar por lá...

- De forma alguma! - O senhor, com o cajado, abaixou a mão do jovem. - Você não é nem louco, Ethan!

- Só queria provar um sorvete.

- O que sempre disse? Confiança é construída com tempo, uma moeda escassa e valiosa! Algo que não se deve entregar para qualquer um! Por isso, é difícil de conseguir a confiança dos outros. Escute.

O jovem assentiu, sério.

- Perdão, mestre Heiko.

Os olhos do jovem eram como áureas bolas de fogo; seu cabelo avermelhado lembrava os frutinhos da árvore; os raios do sol amarelavam a sua pele morena do lado direito e seu braço esquerdo era coberto por escamas negras com garras na mão.

O senhor sorriu e se virou para as casas, segurando o cajado com apenas uma mão.

- Se precisar ganhar a confiança dos outros, estabeleça relacionamentos... Qual a melhor forma de se estabelecer relacionamentos?

- ...Ajudar?

- Isso - O senhor levantou o dedo indicador da mão livre -, ser gentil, também. Mas o ódio é também uma forma de relacionamento. Se atente ao relacionamento que você cria com as pessoas. Seja grato pelas que estiverem do seu lado. Gratidão é o que faz as pessoas investirem confiança e tempo em você. Agora, busque um sorvete para mim.

- Hã?!... - O jovem arregalou seus olhos.

Um leve ronco, assim como uma tremedeira, percorreu o abdômen. Ele pôs a mão na região.

- Está com fome? - disse o senhor com um sorriso no rosto, - Traga um javali assado da taberna e meu sorvete.

O jovem ficou boquiaberto.­

- Minhas felicitações, meu pequeno. O tempo passou tão rápido... Eu não posso mais te manter sob minha proteção. Preciso confiar que você conseguirá viver no meio das outras pessoas. Escute... Apenas queria frisar que você não deveria confiar em todos, confie naqueles que estão dispostos a te ajudar de alguma forma, e, certamente, ajude para que confiem em você. - O senhor gargalhou e removeu um saquinho rechonchudo do seu quadril e entregou ao jovem.

O saquinho fez "tsc" ao cair nas mãos do jovem.

- Muito obrigado, líder! - disse Ethan sorrindo e olhando dentro do saquinho.

Moedas douradas, em ambos os lados dessas havia aros cruzados pela extremidade.

Começou sua descida do pequeno morro, a grama roçava entre seus dedos do pé e lhe arrancava um sorriso bobo. Algo lhe acertou as costas, mas sem causar dano.

A Floresta dos ExiladosOnde histórias criam vida. Descubra agora