Caverna Infestada - II

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Um rastro de destruição foi feito a partir da aldeia. A julgar pela distância em que os destroços foram e a trilha de árvores derrubadas, estava a quase uma milha de distância da aldeia de Jade.

– Que raios – murmurou se assentando e apoiando na árvore caída ao seu lado.

Nuvens fechavam o céu. A lua, com seu brilho amarelado transpassando pelas nuvens densas, estava em seu zênite.

Ethan fechou seus olhos e reclinou sua cabeça na árvore tombada.

As folhas esverdeadas balançavam lentamente, de vez em quando alguns esquilos corriam e agitavam seus galhos.

Ao soprar leve do vento, sons de rosnado surgiram de não muito longe.

– Hã? O que? – Ethan se levantou com dificuldade e passou a observar. Silhuetas humanas apareceram por todos os lados. – O que voc...?

Estavam mais visíveis agora que rapidamente se aproximaram. As formas humanas, mesmo sob a luz da lua, eram totalmente negras. Os olhos eram completamente vermelhos e a boca se esticava estranhamente mostrando dentes pontudos e circulares como cones, as orelhas também eram pontudas. Uma rosnou e fez gestos, como que dando comando às outras para cercarem Ethan. Sua mão era grande e seu dedo esticado para o jovem apresentava uma garra longa.

Ethan girou o tronco para observar o outro lado, com um grunhido, levou a mão à lateral do abdômen. A área estava arroxeada e seu braço direito, coberto de sangue.

As criaturas avançaram com gritos. Ethan correu na direção oposta de onde havia sido arremessado, se afastando cada vez mais da aldeia. As criaturas quase o alcançavam, mas ele usava de esquivas e zigue-zagues pelas árvores. A chuva fez questão de cair com força.

Água, suor, pavor, tudo misturado na face do jovem que não tirava os olhos semicerrados do caminho em sua frente. O terreno ficou mais difícil de se locomover, Ethan quase caía nas poças, quando seus músculos pareciam não responder.

Uma criatura pulou de uma das árvores com suas garras arreganhadas. Ethan se agachou, sem querer pisou na lama e escorregou. A criatura passou direto.

Ethan se pôs a correr imediatamente. A sua aura surgiu, o cabelo mudou, seus olhos mudaram, sua velocidade nem tanto. Foi suficiente para se afastar um pouco, mas sua aura desapareceu e as criaturas de sombra foram chegando mais próximo e em maior quantidade.

Uma surgiu da direita, do meio das árvores. Ethan levou o braço direito ao máximo para o lado oposto e acertou a têmpora da criatura. A criatura mudou de direção no mesmo momento e Ethan grunhiu segurando seu braço direito totalmente acabado.

A aura surgiu mais uma vez.

– Pedra gigante... Esquerda... Descida... Grande Lago... – murmurou consigo. – Agora sim. – E sorriu. As criaturas foram se distanciando no horizonte.

Um clarão. Um estrondo. Uma pisada em falso.

O jovem subiu na rocha cheia de musgo e caiu no abismo. Quando estava olhando para as criaturas, não viu o caminho logo na esquerda.

– Argh! Droga de rocha! – Ethan saiu de cima de seu braço direito. Sua aura esvaiu.

Uma criatura, que estava nas árvores, pulou com a bocarra aberta em cima de Ethan. O que o jovem pôde fazer foi se proteger com o braço escamado.

Ele gritou com os dentes parecidos com agulhas perfurando as escamas. Um liquido negro e viscoso saía de seu braço. A criatura puxou, rasgando a carne de Ethan e levando parte de seu antebraço. Ele deu mais um grito agonizante, se contorcendo de dor, já não bastasse isso, as outras criaturas de sombra chegaram de todos os cantos e se serviram. Ethan se debatia, gritava para que se afastassem, e se descolava de uma ou outra criatura, mas elas novamente avançavam. O corpo do jovem não era mais o mesmo. Uma poça de água e sangue se formou.

Ethan parou de se debater, sem forças, imóvel com a cabeça virada para o topo da rocha.

Uma melodia suave soou. Uma luz forte expulsou a escuridão. Ele chegou a franzir o cenho.

As criaturas olharam para cima. A luz pairava, era como um pequeno sol que surgira mesmo sabendo que não era sua hora, ou a lua, diminuta, que decidiu ver o que estava sob as nuvens que tapavam sua visão. Ela se aproximou ao ponto de estar em cima deles e irradiou.

Ethan abriu os olhos lentamente. Lágrimas surgiram em seu rosto e ele se cobriu com as mãos. Respirava de forma inconstante, acelerada, com o coração palpitante sob o peito desnudo.

– Me ajudem... – murmurou ­– Me ajudem, eu não quero ficar aqui fora...

Chorava, tremia, soluçava, fungava.

– Aqui. Beba. – Uma voz feminina veio do seu lado.

Uma moça ajoelhada, com um curativo na bochecha e uma bandagem cobrindo todo seu braço esquerdo. Ela tinha cabelos brancos que chegavam quase ao chão; os olhos azuis, que mais pareciam ser joias de tão brilhantes, não se desviavam do jovem; sua pele era branca e sem nenhuma mancha ou cicatriz, usava um vestido branco.

– O que?! Quem é você?! – Ele se afastou.

– Confie em mim. – A moça estendeu com as duas mãos um pequeno frasco com um conteúdo azul. – Tome. Beba logo.

O jovem tomou o conteúdo lambendo os beiços e entregou o frasco. Estranhamente suas lagrimas cessaram e seu rosto se tornou menos apavorado, sobrou nada de seu antigo estado.

A moça se levantou, pegou uma bolsa feita de couro e uma flauta de madeira muito bem acabada, amarrou seu cabelo como rabo de cavalo com uma tira de couro que retirou da bolsa e pegou um objeto enrolado por uma fita, parecia uma espada sem guarda mão. Suas orelhas pontudas ficaram à mostra.

Ethan examinou o braço escamado e seu corpo, estava totalmente curado e sem marcas.

– Ei! – ela falou, provocando um "hum?" do jovem – Esse Heiko..., Yasmin, Lisa. Eles devem ficar muito preocupados e te procurar.

– Como sabe esses nomes?

– Você falou dormindo. – Ela girou e andou.

– Ei!.... Cabelos brancos! – Ela se virou com o grito do jovem. – Aonde vai?

– Um lugar seguro! – Ela sorriu. – Campo Florido! E meu nome é Melryen!

Após a declaração, ela seguiu seu curso, andando por uma estrada próxima da margem do rio. Ethan permaneceu sentado por um tempo, reflexivo.

O sol, mesmo longe de seu ápice, declarava avidamente sua soberania, egoísmo e poder sobre o céu; não havia nuvens e os resquícios da passagem de alguma estavam evaporando pouco a pouco na grama e nas árvores. Na esquerda, um grande lago se estendia até onde não pudesse ser mais visto por olhos normais, ainda que com uma vista fora do normal, era necessário forçar para ver apenas neblina onde aparentava ser a outra margem. Mais ao longe, na direção que a moça de cabelos brancos havia tomado, uma extensa cadeia de montanhas parecia tentar tocar o céu de tão gigantescos que eram seus picos.

– "...ficar muito preocupados e te procurar." – repetiu consigo, – Só se for na caverna...

Ele se levantou, passado longo período desde a partida da moça. Uma aura azulada e enevoada surgiu em seu redor, seus olhos amarelados se tornaram azuis e seu cabelo vermelho se tornou escuro. Ele partiu com uma velocidade inimaginável.

O vento rufou, bramindo como uma águia.

A Floresta dos ExiladosOnde histórias criam vida. Descubra agora