Ele Está Morto

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— Sempre saio com dois casacos quando o tempo está nublado e caso eu sinta mais frio — Riki explicou se afastando um pouco do garoto que ainda estava assustado. Sunwoo o olhou de cima a baixo e pode finalmente ver o seu rosto detalhadamente, os olhos eram os mesmos que Sunoo conhecia, os lábios grossos e as pintinhas no seu rosto pareciam as mesmas.

— Obrigado, mas não precisava se preocupar.

— Você estava tremendo.

— Eu podia ter me virado, mas de qualquer forma, muito obrigado — Sunwoo vestiu o casaco e se abraçou para esquentar o corpo — Por que não foi ainda?

— Vou andando, estou esperando a chuva acalmar.

— Eu também, onde você mora? Talvez podemos ir juntos, não é? — Sunwoo odiava fazer novas amizades pois sentia que estava traindo um alguém mas aquele Nishimura Riki podia ser o seu, por isso pela primeira vez em muito tempo iria puxar assunto para fazer amizade.

— Acho que não, meus pais são um pouco rígidos com amigos que faço então não ia ser legal eles te verem.

— Oh sim, então me conte, como era viver no Havaí?

— Normal, eu não tinha muitos amigos e passava a maior parte do tempo trabalhando.

— Já foi em alguma das praias?

— Algumas poucas vezes.

— Nasceu lá?

— Não, eu nasci no Japão e vivia em um orfanato, um casal de havaianos passou a lua de mel por lá e quiseram me levar, foi assim que eu me mudei para o Havaí quando ainda era um bebê.

— Que legal, como que alguém que cresceu e viveu praticamente a vida toda no mesmo lugar não tem nenhum amigo? Nem um mesmo?

— O trabalho ocupava bastante o meu tempo — Riki puxou o seu capuz para esconder seu rosto novamente — A chuva acalmou, eu vou indo.

— Ok, eu devolvo o seu casaco amanhã.

Nishimura não se despediu e seguiu seu caminho para fora do colégio sem olhar para trás, já Sunwoo caminhava em passos rápidos na rua para que chegasse na sua casa antes que a chuva resolvesse voltar com força, na sua mente passava e repassava aquele momento com Riki e podia jurar que nos seus olhos podia ver o seu Riki.

O coreano podia ser bem avoado e acreditar facilmente em certas coisas, mas existia algo que ele não acreditava de forma alguma, e isso são as chamadas coincidências.

Esse Nishimura Riki não deve ser uma coincidência.

▪︎

No dia seguinte o Kim devolveu o casaco para Riki escondido dos outros alunos e então seguiu o seu dia normalmente, fazendo Jungwon estranhar já que Sunoo não era uma pessoa muito sorridente.

Depois do último sinal tocar, Sunoo esperou todos os seus amigos e foram conversando animadamente pela rua até chegarem na sua casa, os pais de Kim trabalhavam o dia todo e chegavam apenas de noite, sendo assim, tinham muito tempo para eles.

— Meninos, tem um motivo pelo qual os chamei para vir aqui — Sunoo contou ficando de pé no meio da sua sala de estar.

— Sabia que você estava aprontando — Jungwon disse cruzando os braços.

— Sabem o Riki? Aluno novo? Eu andei investigando e descobri mais alguns detalhes sobre ele — Sunwoo sorriu animado — O seu nome inteiro é Nishimura Riki, nasceu no Japão mas foi adotado por um casal de havaianos quando ainda era neném e foi levado para morar no Havaí com eles.

— Oh não, eu sei onde essa conversa vai parar — Sunghoon suspirou.

— Já falamos sobre isso, Sun — Jungwon disse — Já viu que as histórias não batem?

— E daí? Isso são detalhes, vocês não percebem? O mesmo nome, a mesma nacionalidade e a mesma idade que o Niki teria atualmente.

— Disse certo, teria.

— Sunoo, se fosse verdade o seu pensamento, por que os sequestradores devolveriam o Riki depois de anos? Não existe resposta plausível porque eles não faziam isso — Jay comentou.

— Não sabemos o que eles queriam com ele, mas talvez já estivessem se cansado.

— Aí eles o matariam e não devolveriam para família dele e o faria inventar uma história toda — Jake disse.

— Mas o Riki... — Sunoo iria argumentar, no entanto, Jungwon o interrompeu.

— O NOSSO RIKI ESTÁ MORTO, SUNWOO, NÃO CONSEGUE ACEITAR? JÁ SE PASSARAM ONZE ANOS DESDE QUE ELE SE FOI, APENAS ACEITE QUE ELE NÃO VAI VOLTAR — O Yang saiu correndo para fora da casa do amigo estressado e com o peito doendo pelas palavras que usou. Para ele também não era fácil aceitar o que havia acontecido naquele dia, mas precisava fazer isso para seguir em frente.

Os outros meninos não disseram nada, apenas foram para suas casas e deixando Sun sozinho. O garoto correu para o seu quarto e não fez questão de trancar a porta já que ninguém entraria, ele se sentou no chão e apoiou seus cotovelos na cama, deixando que lágrimas rolassem seu rosto novamente.

Ele não podia aceitar que o fim foi há 11 anos atrás, não poderia, não deveria. Nishimura Riki não seria sequestrado atoa, por que fariam isso com uma criança de 5 anos? Por que não havia mais sinais dele? E por que os meninos não pensavam como Sunoo e não percebiam que podiam estar mais perto do seu amigo de infância do que imaginavam?

— Eu estou enlouquecendo? Deus, é isso que me reserva pela frente? — Sunwoo se perguntou molhando o seu lençol com as lágrimas — Eu irei ver o meu Riki em todos os lugares até que enlouqueça de vez e me mandem para um hospital psiquiátrico? Eu sou um louco, Deus? O meu Niki se foi injustamente mesmo? Por que o Senhor faria isso com ele? Por quê?

Kim chorou como a tempestade do dia anterior, chorou até seus olhos arderem, até sua cabeça começar a latejar, até sua garganta ficar seca, Sunwoo chorou até não aguentar mais.

Cada lágrima representava um pingo de sua dor, para alguns era só um líquido, mas para o Kim, elas doíam. As lágrimas que saiam dos seus pequenos olhos doíam e queimavam o garoto, a sua ansiedade e sua saudade o faziam sofrer constantemente.

Até quando ele viveria assim?

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MISSINGOnde histórias criam vida. Descubra agora