Dependência Emocional

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— Hoonie, eu preciso te contar uma coisa — Jake disse baixo, ele estava ao lado de Sunghoon na van escolar, já estavam voltando para casa.

— O que foi, hyung?

— Sabe o Nishimura? Ele conversou comigo e...Ele deu aquele sorriso triste, era igualzinho o sorriso do Niki quando ele estava cabisbaixo e...

— Eu já sei até onde isso vai parar, e não! Aquele não é o nosso Niki.

— Mas como é possível existir um garoto tão idêntico com o nosso garoto? Parece coincidência demais, Sunghoon.

— Eu sei que parece, mas o nosso amigo morreu, ok? Mesmo com vários motivos para acreditar que aquele seja o Niki, não tem motivos para que os sequestradores o soltassem depois de tantos anos e com risco dele contar para a polícia.

— Mas e se ele não se lembra de ter sido sequestrado? Podem ter feito algum tipo de lavagem cerebral no Niki.

— Jake, não fique criando teorias do que aconteceu ou não, o nosso Nishimura Riki foi sequestrado e morto, nesse exato momento não resta nada dele além de ossos — Park sabia que aquilo havia machucado o seu melhor amigo, mas ele precisava entender a realidade, assim como Sunoo, mas esse já era um caso mais difícil de resolver.

▪︎

Jay passou pela porta do bar tão conhecido por ele, era lá que ele conseguia beber já que o dono não se importava nem um pouco com a idade do garoto, mesmo que fosse errado fazer isso, ele queria saber de dinheiro e isso o americano tinha de sobra.

— O de sempre, Park? — O homem perguntou assim que Jay se sentou no banco, apoiando os braços no balcão e acenando a cabeça positivamente.

Jay Park estava com a cabeça recheada de nuvens negras, algo que ele já estava acostumado, não conseguia parar de pensar no desaparecimento de Minjeong e em Nishimura Riki, tudo ao seu redor o lembrava do passado e não conseguia lidar com tanta informação sem ter, pelo menos um pouco, de álcool circulando no seu corpo.

— Você não é muito novo 'pra beber? — Jay se assustou com a voz ao seu lado, colocou a mão no peito e viu Nishimura Riki sentado no banco ao lado. Ele usava aquele mesmo moletom preto, uma calça jeans rasgada e bem velha, o cabelo loiro estava um pouco bagunçado e seus olhos estavam vermelhos.

— E você não é muito novo para usar drogas? — Ele devolveu brincando com o japonês e o fazendo rir — Estava chorando de novo, Riki?

— Ultimamente não anda fácil — O garoto soltou virando o seu rosto para o outro lado.

— Entendo, ultimamente não anda sendo fácil para mim também, na verdade faz muito tempo que as coisas não andam bem — O moço do outro lado do balcão deixou o copo de bebida na frente de Jay, repetindo o mesmo logo depois e colocando outro copo, dessa vez na frente de Nishimura — Agora sou eu que te pergunto, você não é muito novo para beber?

— É assim que lidamos com os problemas, Jay hyung — Riki sorriu e virou o copo de uma vez na sua boca. Aquilo deixou Jay atordoado, era o mesmo sorrisinho que o seu Niki dava quando estava mal e não queria preocupar os seus hyungs.

— Sunoo sabe que você bebe?

— Não, e não pretendo contar.

— Me desculpe perguntar, mas o que você e o Sun tem? São apenas amigos? Eu conheço muito bem o Sunwoo e ele está sendo bem afetuoso com você — Jay precisava tirar essa dúvida, sabia que o seu amigo poderia estar criando um feição por Nishimura que não deveria, um apego emocional muito grande.

— Estamos nos conhecendo, por enquanto somos amigos — Ele levanta a mão e pede mais um copo de soju.

— Por enquanto?

— Eu sei que o Sun hyung é bastante carinhoso comigo e eu nunca recebi esse tipo de afeto antes, nunca tive amigos e meus pais não eram tão carinhosos. Confesso que eu gosto do Sunoo e esse sentimento poderia evoluir, mas caso isso aconteça, ele nunca irá saber.

— E por quê?

— Mesmo que ele sinta algo por mim, não poderíamos ficar juntos, acho que meus pais me matariam se soubesse que estou em um relacionamento.

— Seus pais são super protetores? Ou são só conservadores.

— Digamos que um pouco dos dois.

— Entendo, e como consegue beber sem eles descobrirem?

— Bom, eu aprendi a ser cuidadoso e passar despercebido pelos lugares, meus pais não me notam se eu não quiser que eles me vejam — E ele virou o segundo copo de bebida.

Jay resolveu ficar em silêncio, já havia notado que Nishimura não tinha uma família boa e que vivia rodeado de problemas, assim como ele passava com os fantasmas do seu passado. Riki deveria ser um garoto bom, mas sabia que deixar Sunwoo perto dele era um perigo.

Sabia como iria acabar aquela amizade e seria com lágrimas e muita tristeza, ambos eram dois jovens de coração ferido e uma alma conturbada com problemas. Nishimura era um adolescente que passava por problemas familiares e descontava a tristeza na bebida, e Sunoo era um menino que tinha crises de ansiedade constantes e gostava de se isolar por qualquer coisa que o afetava.

Nenhum dos dois tinha psicológico o suficiente, sabia que aquela amizade iria criar uma dependência emocional de ambos os lados, e então isso vai começar a machucar. Jay deveria agir e fazer algo para afastá-los, antes que Sunwoo saísse mais ferido com essa história.

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