O Inquilino

IV

Acho que acertei em cheio, quando decidi ficar mais um tempo aqui com minha mãe.
Não achei certo ir embora e deixá-la, Sam também não achou legal ir embora com a família.
Sabíamos que era importante que ficássemos e assim fizemos.
Foram dias especiais esses, foram dias de acolhimento, de deixar com que a tristeza fosse indo embora a seu tempo.
Sam teve que retornar a sua casa, havia muito o que fazer pessoalmente no trabalho. Mas em uma de nossas conversas, ele cogitou seu desejo de se mudar para cá. Alice ficou tão bem com nossa mãe, Chris não tem parentes, e ela ficou encantada em ver como a vida com a avó por perto é mais leve, é mais fácil. Tenho certeza que foi dela essa ideia deles virem para cá. Conversei com Sam e minha cunhada, sobre isso, ajudando nos prós e contras e com tudo, eles acabaram decidindo ficar na cidade da nossa mãe. Achei certeira essa decisão, isso fará bem para todos, em especial para nossa pequena Alice que poderá ser dengada e paparicada pela vovó o tempo que quiser.
Mamãe ficou feliz com essa novidade.
Então Sam, voltou mais para se desligar do escritório ou quem sabe, eles lhe propõem algo em que ele possa vir e continuar trabalhando com eles, mas morando aqui perto da nossa mãe. Meu irmão é advogado e a empresa que trabalha presta serviços jurídicos a várias empresas, espero que dê tudo certo para eles. Mesmo porque, Sam não é apegado às coisas, se precisar vir para cá e começar do zero, ele não se importa.
Tio Phil tem grande participação na formação de valores que temos. Ele sempre nos mostrou que devemos valorizar o que nos é importante, nos ensinou a termos nossas prioridades acima das coisas. Ele sempre falava, que para o mercado, para as empresas, até mesmo para as forças armadas, somos apenas números, e sendo números, podemos ser substituídos. Por isso a importância de sabermos escolher o que nos é importante.
E assim, tenho certeza de que se Sam precisar escolher entre o emprego e sua mudança, ele ficará com a mudança.
Como sou dona da minha própria empresa, posso me dar o luxo de tirar um tempo maior aqui, sem maiores empecilhos. Ainda que eu tenha grandes responsabilidades, consigo gerenciar tudo daqui.
Quando mamãe viu que não estou com a mínima vontade de ir embora, até me propôs morar com ela. Mas ainda não posso mudar, tenho vários clientes e com isso, preciso estar por perto de vez enquanto.
Passei a manhã inteira fazendo videoconferências com algumas pessoas, participei de reuniões, deleguei algumas coisas.
Não estou de férias, apenas ausente fisicamente, só que, a demanda do trabalho não para só porque estou longe. Cintia, meu braço direito, tem me ajudado e muito nesse período, e claro, tudo fica mais fácil quando você tem uma ótima equipe te assessorando, te ajudando, seguindo com o trabalho sem medir esforço.
A coisa segue quando cada um assume sua responsabilidade e faz acontecer. Seria muito difícil eu deixar as coisas assim, se eu não tivesse esse respaldo da minha equipe. Mas eu soube fazer as coisas e assim venho colhendo os frutos.
Acabei adotando a pickup do meu tio como minha. Sam nem se importou, com essa de ter família, adotou de vez um utilitário.
Por hora, está sendo bem legal dirigir ela pela cidade. Mamãe fala que pareço uma criança com brinquedo novo.
Mas essa é a pura verdade, para mim, parece que o Natal chegou bem antes. (risos)
Sei que se meu tio puder ver como estou aproveitando do seu carro, ficará bem feliz. Ele nunca se importou de me deixar usar seus carros, ao contrário, sempre sentiu orgulho de me ver usando eles.
Tio Phil sabia muito bem dividir as coisas e se alegrar com cada uma delas, poucos homens que conheço, deixaria uma formiguinha guiar seus carros. Mas essa formiguinha aqui, foi treinada pelo melhor e com isso ganhou a confiança não apenas dele, mas de muitos dos seus amigos. Porque diversas vezes tio Phil me colocou para dirigir seus carros e simplesmente sentava ao lado, seus amigos não acreditavam quando ele descia do passageiro e do lado do motorista saia eu, com meu enorme tamanho e pilotando igual gente grande.
Lembro dele falando: Desde quando, tamanho é documento, e todos riam!
Os dias têm passado de maneira leve e tranquila, estou conseguindo conciliar o trabalho e a leveza de estar aqui com minha mãe. Ah essa leveza, o que posso dizer, colo de mãe é tudo de bom e mais um pouco.
Tem coisa melhor do que o aconchego de uma mãe?!?
Fala sério???
Comidinha gostosa, sobremesa preferida o tempo todo, caminhadas cheias de histórias e mais histórias, aconchego no sofá para assistir a um bom filme, sentindo o calor do colo que só uma mãe tem.
Ah me desculpa, eu aproveito mesmo esses momentos e sem me sentir culpada.
Temos saído bastante para fazer as coisas corriqueiras e aproveitamos cada momento. Eu não me lembrava do quanto a companhia da minha mãe é agradável.
Ela até me acompanhou algumas tardes à praia, ficou lá tomando sol, enquanto eu pegava algumas ondas. Ela acha incrível como gosto de surfar, Sam também gosta, mas eu acabo gostando mais que ele. Tenho um relacionamento muito íntimo com o mar, sinto como se eu fizesse parte dele e ele de mim. Sei lá, quando estou na prancha não penso em muita coisa, apenas em aproveitar o momento e deixar as coisas rolarem. É meu momento zen, sempre me sinto outra pessoa depois de algumas ondas, sempre foi assim. Hoje não disponho de muito tempo livre, por conta do trabalho, mesmo porque, a cidade que moro fica um pouco longe do litoral, sendo mais fácil para mim, aproveitar quando venho para a cidade da minha família. E quando aqui estou, aproveito ao máximo a praia.