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E pior, ele me pegou plenamente "babando" por ele.
Ahhh essa não!!!
Que vergonhaaaa!!!
Sou pega de boca aberta literalmente e possivelmente, fazendo aquela cara que fazemos quando nos deparamos com algo espetacular.
Que Kong!!!
Tento mudar meu foco, mesmo com óculos de sol, sei que ele me pegou em flagrante. Tento ser o mais natural possível, se bem que diante desse "homem" não vejo muita chance de ser natural.  Volto minha total atenção à água de côco. Mas quem disse que consigo.
Que frustrante!!!
Pior ainda, ele está vindo na minha direção, o que vou fazer. Gente do céu, o que fazer?!?
Caramba por essa eu não esperava!
Minha vontade é correr para dentro do meu carro e sair. Mas lembro que sou uma mulher adulta, madura  e que essas atitudes de adolescentes, já deixaram de fazer parte de mim faz uns bons anos.
Ah não, ele está vindo!
E agora???
"Respira Olivia, respira Olivia, mantenha a calma, nem parece uma mulher determinada, madura, independente e dona de si!" saio pensando em prol de me ajudar.
"Certo, certo, determinada, madura e dona de si… ok, ok,ok… madura, dona de si e, e… ah, determinada!"
Mas que disse que dá certo.
E quando me dou conta, ele está a poucos passos de distância de onde estou.
Agora já era!
"Oi"  e aquela voz tipo trovão me alcança.
Olho, sem saber se respondo ou não, se me faço de tonta e deixo passar, mas infelizmente a educação que recebi me faz retribuir o gesto e vamos lá.
"Oi" digo mais para mim mesma, do que para ele.
E a voz de trovão em dias de profunda tempestade continua.
"Me desculpa te incomodar, mas você é a sobrinha do Phil, certo?"
Eita, ele deve saber bem quem sou, pois vive me espiando, me observando e até bisbilhotando diga-se de passagem.  Mas vamos lá, educação em primeiro lugar.
"Sim, sou!" acabo respondendo educadamente.
Ele retira os óculos de sol que está usando.
E aquele gesto tão natural aos mortais, para aquele homem parece algo bem próximo ao nado sincronizado, sabe aqueles movimentos que te fazem parar de respirar de tanta perfeição, pois é, esse homem conseguiu isso, apenas tirando os óculos.
Estou estupefata com a capacidade que ele tem de se tornar protagonista em tão pouco tempo.
E a voz de trovão me traz de volta desse meu delírio, fazendo eu me recompor rapidamente.
"Bem, acho que não fomos apresentados, sou Erick Liez, sou eu quem alugou a casa do seu tio"
Até parece que ele não sabe, que eu sei muito bem onde ele anda se escondendo, mas se é  para brincar, estou dentro!
"Humm… prazer Sr. Liez, sou Olivia Miller sobrinha do tio Phil"
E lá vamos nós nessa brincadeira.
"Seu tio sempre falou muito de você e do seu irmão… Sinto pela perda da sua família (diz com tristeza na voz)…  ele me faz muita falta, em pouco tempo se tornou um bom amigo… Phil era um grande homem!"
Prefiro manter o silêncio, afinal, meu tio era uma pessoa única  mesmo.
"Sei que não é hora de tratar dessas coisas, mas não queria ser inconveniente e falar disso com sua mãe… Então vi que você está lidando bem com tudo isso e quando te vi aqui, achei um bom momento para conversar com você"
Então ele sabe que estou lidando bem com tudo.
Bingo!!!
Ele segue me espiando, ou espionando, ou vigiando, ou xeretando, ou seja lá o nome que ele ande dando para o fato de ficar de olho em tudo o que faço.
"Então Srta. Miller…"
" Pode me chamar de Olivia" digo, não gosto muito de formalidades.
"Olivia, certo!... Então, Olivia, não sei se vocês tem planos para a casa que era do seu tio... Mas se precisarem dela, só me dêem um tempo para eu achar outra e assim me mudar" ele me pede, enquanto me olha nos olhos.
Carambaaa, esse homem com esse jeito de olhar, coloca em perigo qualquer calcinha desavisada.
Que situação mais vexatória gente!
Mantenha o foco Olívia!!!
Mantenhaaaa… o… maldito  focooo!!!
" Sr. Liez… "
"Pode me chamar de Erick", me diz.
"Ok… Erick, não estamos querendo desocupar a casa, já resolvemos tudo em família e você pode seguir conforme o contrato que fez com o tio Phil"
Ele abaixa a cabeça, respira fundo, mostrando um certo alívio ao receber a notícia.
"Bom, fico mais tranquilo em saber. Não queria ser um incômodo para vocês. Phil me ajudou muito quando cheguei, acho que isso seria o mínimo a fazer em sua memória"
"Como eu disse… tudo segue como vocês combinaram. Sei que se houver qualquer mudança, mamãe falará com você, mas acho improvável"
Ele fica me olhando enquanto falo, nitidamente me absorvendo, ele não disfarça, vejo algo meio estranho nele, mas resolvo ignorar,  tenho a impressão que essa história foi um pretexto para puxar papo comigo.
Melhor eu ir, não estou muito confortável com ele me olhando assim, me sinto como se  estivesse nua, não sei explicar, mas é esquisito.
Me vejo desprotegida com ele me encarando assim, parece que minhas reservas estão mais expostas do que nunca e isso não é bom.
Já chega!
"Erick… (chamo sua atenção, ele volta a se atentar no que falo) se era somente isso que queria me perguntar"
Ele não me responde, continua com aquele olhar estranho.
Gente, o que é isso?!?
Nunca me senti tão desconfortável assim!
Melhor eu ir embora, está tudo estranho, incomum, esquisito.
Por educação vou me despedir e sair fora.
"Prazer em lhe conhecer Erick e qualquer dúvida pode falar com minha mãe… tchau e boa corrida"
Ele não me fala nada!
Nem tchau, nem nada.
Fica me olhando sem o menor constrangimento!
Não é possível que ela não veja o papel estranho que está fazendo. Parece não se importar nenhum pouco.
Gente que situação mais esquisita e desconfortável.
Entro no meu carro.
E lá está ele, me olhando e sei lá, pensando no que.
Que homem mais estranho, para não falar antiquado.
Saio com o carro, afinal, esse homem é estranho  demais!

Entro em casa e mamãe está na cozinha, fazendo sei lá o que para variar.
"Olivia em meia hora sirvo o jantar!" me fala cheia de alegria.
"Legal mamãe! Vou tomar um banho e depois já desço"
E assim vou para meu quarto. Antes dou uma olhada no telefone e claro, tenho algumas coisas para ver. Por mais que eu esteja longe, meu trabalho segue a todo vapor. Não vou conseguir tomar banho agora.
"Mamãe,  posso demorar mais um tempo para descer. Preciso resolver algumas coisas do trabalho" grito do pé da escada.
"Ok, querida! Isso me dá tempo de escolher algum filme para nós"
"Obaaa… tem sorvete?" pergunto.
"O que você acha?"
Minha mãe é incrível!
E volto, acabo falando com a Cintia, estamos tendo alguns imprevistos com o lançamento de uma biografia sobre um atleta. Achei que conseguiríamos a autorização dele, mas nem o autor, nem a nossa equipe jurídica conseguiram. No entanto, a obra é incrível e já tínhamos decidido que mesmo que não houvesse essa autorização, iríamos lançar assim mesmo.
"Cintia, vamos em frente, seja como for. Você me trouxe esse trabalho e estamos juntas nessa"
"Eu não imaginava Olivia, que teríamos tanto trabalho com isso"
"Não tem problema, vamos seguir adiante. Se o plano A não der certo, vamos de plano B e pronto"
"Como sempre, você não nos deixa abandonar o barco"
"Nunca minha querida, sempre teremos percalços no caminho, mas para cada um que surgir, encontraremos um meio de contornar"
"Verdade minha amiga” me fala uma Cintia bem animada.
"Você trabalhou muito nessa ideia, embarquei com você nela e vamos que vamos. Já deu tudo certo!"
E assim seguimos com as urgências.
Respondi as mensagens e emails, e agora estou ao telefone com o Rui.
Ele sai me contando que não conseguiu ainda voltar, está cansado desse tempo longo passado fora. Tentei, meio que sem sucesso, acalmar seu coração, mas Rui quer mesmo é voltar para sua casa. Enquanto falamos, aproveito para ir tirando minha roupa para tomar meu banho finalmente. E de repente me viro na direção da janela do meu quarto e lá está aquele olhar que tanto me incomoda… O inquilino do meu tio, está me olhando sem a menor cerimônia, sem a menor culpa ou constrangimento.
Fico sem saber o que fazer, sei da minha condição, e o quanto estou exposta. Estou completamente despida, sem nenhuma proteção, totalmente nua!
No entanto, ele se aproxima ainda mais  da sua janela, sem nenhuma reserva, sem nenhum acanhamento, sem nenhum embaraço  ou receio de que eu o veja.  Estou paralisada sem saber o que fazer. Vejo que ele está bebendo alguma coisa, e a cada gole que ele dá na bebida, meu olhar segue o caminho do líquido.
Estou perdida diante da tensão que se desenvolve entre nós.
Ele tem plena consciência do que está fazendo comigo e pior, meu corpo está cedendo a seu encanto, me deixando numa condição que nunca imaginei passar. Meu sangue começa a acelerar, meu coração aumenta seu ritmo, sinto uma eletricidade percorrer meu corpo como nunca senti, percebo que estou prestes a perder o controle.  Gotas de suor começam a surgir em mim e assim deslizo minha mão sobre meu corpo, sem tirar meus olhos do intruso que me observa.  Busco acalmar meu corpo, seja lá do que for,  que esteja acontecendo com ele. 
Percebo que seu olhar começa a seguir cada movimento que minha mão faz em minha pele. E assim, meu corpo segue se mostrando mais do que eu poderia desejar. Vejo que ele já não está mais ligando para o que estava bebendo. Que sua atenção agora está presa a cada movimento meu. E sem perceber estou me abrindo mais do que devia. O ar está pesado, mal me dou conta que a respiração está mais ofegante. Há partes em mim que estão começando a se  desfazer, sem que eu consiga fazer nada para acalmar.
Seu olhar segue me devorando, sem nenhuma inibição, sem nenhum constrangimento, sem nenhum acanhamento.
E quando estou quase me perdendo diante daquele estranho…
"Olivia, você já tomou seu banho?" a voz da minha mãe corta o silêncio  e interrompe, seja lá o que estava acontecendo aqui no meu quarto…

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