Capítulo 2

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Era quarta-feira à noite quando escuto diversas vozes no primeiro andar da casa, meus pais tiveram que viajar para a cidade vizinha onde se encontrava a filial do restaurante de mamãe que ficava aos comandos de minha tia. Papai era o administrador do estabelecimento, então eu e os meninos ficamos sozinhos naquela enorme casa, mas obviamente eles não se contentariam em ficar coçando a bunda em seus quartos.

Não me dou o trabalho de descer para ter a certeza de que os diversos amigos dos idiotas ocupavam nossa sala, eu era sempre muito extrovertida, mas aqueles homens eram realmente egocêntricos, para eles as únicas coisas que importavam era mulher, bebida e dinheiro. Isso incluía meus irmãos também.

Ignoro tudo ao meu redor quando ligo a televisão colocando em um filme qualquer, meus olhos começam a pesar e me deixo levar pelo sono. Acordo com uma música extremamente alta vindo do lado de fora do quarto, levanto com toda a raiva que tinha dentro de mim e desço as escadas com toda a brutalidade que eu conseguia com meus 1,60 de altura.

A caixa de som que ligava o som de toda a área externa da residência ficava na sala de estar, caminho confiante clicando no botão que fez o silencio reinar na casa, resmungos são ouvidos, mas resolvo ignorar, ando em direção á escada vendo de relance o corpo de meu irmão no ambiente.

- Vocês não estão sozinhos, não quero barulho. – Não fico esperando resposta, só queria dormir, a faculdade estava me matando.

Estudar moda sempre foi meu sonho, não sabia dizer quantas vezes sonhei com meu nome estampado em outdoor e revistas renomadas. Cada pessoa que goste um pouco que seja de moda se imagina influenciando milhões de pessoas com seu talento e ter sua própria marca. Participar de ensaios fotográficos também era algo que eu amava fazer, há duas semanas tinha participada de minha primeira campanha patrocinada pela Victoria Secret's, ter minha imagem estampada na capa da marca era um passo enorme de minha carreira.

Minha mãe sempre diz que precisamos fazer aquilo que amamos e apesar do incentivo para assumir a cozinha do restaurante, via a gastronomia somente como um hobbie, diferente de meu irmão Scott que fez administração e ajuda desde sempre meu pai com todo e qualquer assunto burocrático dos negócios da família.

A guerra entre as províncias estava para há dois anos, fazendo meus estudos andarem de um jeito muito rápido, me permitindo mais tempo de alcançar minha ida para Paris e me tornar a estilista do século.

Bato a porta do quarto sabendo o barulho que causaria no andar de baixo, meu sono havia ido embora, sentia meu corpo cansada reclamar por isso, pego meu celular abrindo minhas redes sociais, dois dias sem me atualizar daquele mundo, era quase uma tortura, as notificações começam a aparecer e clico na aba para seguir alguns de volta. Duas aceitações e meu corpo paralisa, não podia ser possível, ele trocará somente algumas palavras comigo aquela noite, não havia explicações, mas o loiro estava me seguindo e eu não seguiria de volta.

°

Me remexo na cama quando a claridade queimava em meu corpo, não sabia em que momento pegará no sono, só sabia que o cheiro de café fresco estava maravilhoso. Me levanto depois de mais alguns minutos parada esperando meu corpo acordar de vez, era sempre assim, eu odiava os 10 primeiros minutos após acordar.

Desço as escadas depois de um banho rápido e uma troca de roupa, a primeira figura que vejo e de Scott, dou um sorriso em sua direção recebendo outro em troca, nossa conexão era incrível, ele era o único que não possuía os olhos azuis dos irmãos Humphrey, o que o tornava especial aos meus olhos.

- Bom dia, princesa! – Sebastian entra na cozinha e meu corpo paralisa pela segunda vez em menos de 12 horas, minha cabeça estava girando, minha respiração estava irregular e eu não sabia se era por raiva ou surpresa, de longe podia sentir o cheiro de seu perfume que indescritivelmente ficará marcado em meu pensamento. – Oi? Aurora?

- Oi, desculpa – Minhas bochechas ficam levemente vermelhas, eu parecia uma idiota. – Bom dia Sebastian, e bom dia, pessoa que eu não conheço. – Forço um sorriso tentando não demonstrar que sua presença estava me deixando afetada, o loiro estava com a cara tão chocada quanto eu, dava para perceber, meu Instagram não possuía meu sobrenome, se ele era amigo de meus irmãos, não teria como saber que eu era a caçula.

- Aurora, este é o Christopher, ele é médico no exército, conhecemos ele quando Sebastian machucou a perna. Christopher, está é Aurora, nossa irmã mais nova. – Scott corta o pequeno clima na cozinha, a cara de Sebastian denunciava que ele não estava entendendo nada, mas meus irmãos eram lentos para perceber algo.

- É um prazer, Aurora – Sua voz vinha acompanhada de um sorriso sarcástico no rosto.

Concordo com a cabeça antes de Scott interromper a conversa alheia do ambiente, sento-me a mesa observando todos os itens postos em cima da madeira, abro minha boca para perguntar de onde surgiu tudo aquilo, quando meus pais não estavam em casa, o máximo que tínhamos era comida pedida por delivery, eu não cozinhava por necessidade, somente em datas importantes, ou quando meu humor estava propicio.

- Chris trouxe quando dizemos que estávamos sozinhos, ele adora essas paradas. – Meus olhos buscam o seus, era algo novo ver um homem fazendo tal gesto, talvez a convivência com meus irmãos tenha me feito esquecer que havia alguns especiais por aí.

- Pode ficar tranquila, não tem veneno. – Sua voz possuía segundas intenções, flashes de nossa conversa no bar vem em minha mente, era obvio que ele não iria esquecer de como foi ignorado, aquele tipo tinha um ego que se abalava muito facilmente.

Meus irmãos já estavam sentados e se servindo, o cheiro estava incrível, não poderia negar, resolvo ignorar tudo começando a me servir também. Ele se senta bem na minha frente, não deixando de encarar meus olhos profundamente, franzo o cenho focando minha atenção em Scott.

- Vamos ao clube, quer ir conosco, Liz? – Me pergunta colocando um pedaço de pão na boca logo em seguida.

- Pode ser, acho que seria bom deixar os livros de lado um pouco, a faculdade está me matando. – Bebo um gole do suco após o pequeno desabafo, meus olhos me entregam ao encarar o loiro em minha frente, ergo uma sobrancelha em sua direção, em um pedido silencioso do que ele estaria aprontando ao me observar com tamanha profundidade.

- Perfeito, sairemos as 10:00. – Exclama e em questão de minutos os três engataram em uma conversa animada.

Deixo meu copo na pia e sigo em direção ao quarto, não sabia quanto tempo teria, então era melhor não arriscar.

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A Cor Da Verdade - Trilogia HumphreyOnde histórias criam vida. Descubra agora