Esferas Elementares

Capítulo 12 - Banhos, discussões e profecias.

Luke

Já faziam muitos anos desde que alguém me via tomando banho, desde que fiquei velho o suficiente para expulsar os meninos mais novos do banheiro do orfanato e poder desfrutar de uns minutos de paz. Por isso era estranho estar em uma banheira – no meio de um quarto enorme e luxuoso – com um garoto que não podia ser muito mais velho que eu parado ao lado da parede como uma estátua esperando, como disse ele, poder me ajudar se eu precisasse. Era um banho, como eu poderia precisar de ajuda?

Deixei isso para lá e aproveitei a água quente e cheirosa na qual eu estava afundado até o pescoço, ela estava fazendo um bem danado ao meu corpo dolorido, depois de uma batalha, vir para outro mundo, dormir no chão e ser levado para a prisão, então eu não recusei quando me ofereceram um banho.

Nós fomos tirados da cela assim que a princesa foi embora – a princesa! Isso era surreal – e o comandante Gladyr e alguns outros guardas nos trouxeram ao prédio grande e lindo com a fonte na frente pelo qual passamos quando atravessamos os enormes portões. Era o palácio, e sim a sede da guarda ficava nos arredores dele, mas aparentemente a prisão não, Tyler questionou sobre isso ao comandante e ele disse que o lugar onde estávamos era usado para interrogatórios e detenções curtas, de pouco mais de um dia.

Quando chegamos ao castelo não vi nem a princesa nem o homem que apareceu depois e a levou embora, mas quatro jovens com as roupas antigas que todos por aqui pareciam usar – os homens com camisas compridas, calça e botas e as meninas com vestidos compridos – apareceram, pareciam nervosos, beirando ao pânico, eu sabia disso só de olhá-lo e nem tinha o poder de Zoe. Eles pediram para que os seguíssemos e assim fizemos, subindo uma imponente escadaria de pedra e quando chegamos ao imenso corredor cada um deles arrastou um de nós para uma porta de madeira e quando dei por mim estava no maior e mais luxuoso quarto que já tinha entrado na vida.

Como o resto do castelo o quarto era coberto por moveis de madeira escura, cortinas de veludo vermelhas, tapetes antigos, tinha até uma versão menor do enorme lustre que parecia de cristal e vi no teto quando entramos. Tudo nesse lugar parecia saído de um filme de época, as roupas, os moveis, os quadros, até as pessoas com expressões serias e mesuras quando encontrava alguém – os jovens que nos receberam tinha feito uma mesura quando nos viram! – estávamos onde, num filme de 1800?

Afundei um pouco mais na água até cobrir toda a minha cabeça, eu ainda não tinha tido tempo de pensar no que exatamente significava estar aqui em Trigan, o tal mundo mágico que devíamos salvar, e o que devíamos fazer para que isso acontecesse. Mas a dúvida que me corroia mesmo era se eu conseguiria, os outros três pareciam mais preparados que eu para isso e olha que Mira só tinha conseguido sua esfera ontem.

O arrogante do Tyler parecia saber exatamente o que estava fazendo e isso era irritante, sobretudo por que eu não tinha ideia nem de como me comportar perto de outras pessoas às vezes. Já Zoe parecia não se abalar com nada, a garota linda que parecia não me enxergar era como uma rocha, ela parecia inabalável, mesmo que eu soubesse que esse não era o caso. Ela conseguia ficar irritada e sorrir divertida, até tagarelar com guardas mal-humorados, ela era uma caixinha de surpresas e mesmo sem saber se devo – ou posso – queria ver um pouco mais.

- Melhor nem pensar nisso – digo a mim mesmo depois de tirar a cabeça debaixo d'água. O garoto parado a poucos passos de mim me olha curioso e suspiro. – Ótimo, nem meus monólogos posso ter mais.

A verdade é que eu não podia querer saber mais sobre Zoe, por que a curiosidade que eu sentia sobre ela era completamente diferente da que eu sentia por Mira. Com a garota dos olhos azuis era fácil de conversar, fácil de rir e até tocar, ela estava sempre me abraçando ou apertando um braço meu e me arrastando por aí e isso não me afetava – mas afetava Tyler o que é bem divertido -, porém quando a garota envolvida é a negra de sorriso desafiador e cachos volumosos eu só fico lá olhando-a e admirando sua beleza quase que em pânico, e o pior de tudo era que ela podia sentir cada um dos meus sentimentos constrangedores.