CAPÍTULO 4.

11 3 0
                                    

A casa não é tão extravagante quanto eu havia temido, mas mesmo assim é a casa mais linda em que já pus os pés

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

A casa não é tão extravagante quanto eu havia temido, mas mesmo assim é a casa mais linda em que já pus os pés.

Dois andares, de frente para a praia e erguida sobre umas pilastras, como todas as outras casas da vizinhança. Para chegar ao
primeiro andar é preciso subir dois lances de escada.

No topo do segundo lance, eu paro, antes de acompanhar meu pai para dentro e conhecer sua nova família.

Tiro um instante para observar a vista. Mais  parece uma muralha de praia e mar, estendendo-se até onde meus olhos alcançam. A água parece ter vida própria.

O mar inspira. Expira. É magnífico e assustador ao mesmo tempo.

Será que minha mãe chegou a ver o oceano antes de morrer? Ela nasceu e cresceu no Kentucky, na mesma cidade onde morreu ontem à noite. Não me recordo de ouvir histórias sobre qualquer viagem que ela tenha feito, nem de ver fotografias de férias de infância. Sinto uma tristeza por ela.

Não imaginava o que sentiria ao ver o oceano pela primeira vez, mas agora quero que todos os seres humanos na terra tenham essa experiência.

Ver o oceano ao vivo parece quase tão importante quanto ter casa e comida. Não é exagero pensar que deveria haver um projeto de caridade com o único propósito de ajudar as pessoas a conhecer a praia. Deveria ser um direito humano fundamental. Uma necessidade. É como se fossem anos de terapia contidos numa única vista.

— Lili?

Desvio os olhos da praia e vejo uma mulher parada na sala de estar. Ela é exatamente como imaginei. Luminosa feito um picolé, com dentes brancos, belas unhas cor de rosa e cabelos loiros com aparência de caríssimos.

Solto um grunhido, mas não pretendia que fosse ouvido por ninguém. Acho que talvez tenha saído mais alto que o esperado, pois ela inclina a cabeça. Mesmo assim, a mulher sorri.

Vim preparada para evitar abraços, então seguro o quadro da Madre Teresa e a mochila na frente do corpo, como um escudo.

— Oi.

Entro na casa. O ambiente cheira a roupa de cama fresca e... bacon. Que combinação estranha, mas até a dupla roupa de cama/bacon é muito melhor que o cheiro de bolor e fumaça de cigarro que vivia entranhado em nosso trailer.

Madchen parece confusa com os cumprimentos, já que não há como me abraçar. Meu pai joga as chaves na cornija da lareira.

— Cadê a Camila? — pergunta ele.

— Chegando!

Ouço uma voz aguda e artificial, acompanhada do som de passos descendo as escadas. Uma versão mais jovem de Madchen surge à vista, exibindo um sorriso ainda mais branco que o da mãe. Ela vem dando uns pulinhos, bate palmas e solta um gritinho. Honestamente, é assustador.

Ossos do coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora