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O café da manhã fora agitado, faltavam 4 dias para o aniversário de casamento de Felix, e apesar da animação para isso lhe faltar, Jieun estava à mil, à noite haveria um baile para os convidados, assim como haveriam nas noites que se seguissem até o fático dia da comemoração oficial, ideia do pai e dos sogros, à altura de vossas extravagâncias.

Quando o Lee mais velho saiu, levando o mais novo consigo para as aulas de dança e das matérias escolares, Felix acompanhou Hyunjin, Chan e Jieun ao quarto do Hwang.

— Dessa vez não poderei me demorar, infelizmente – Jieun disse ao adentrarem o ateliê – Preciso acompanhar minha sogra à cidade para escolher algumas decorações

— É uma pena, senhora Lee, vossa companhia é admirável – Hyunjin disse, escolhendo seus pincéis

— Me avise quando forem, preciso ir ao centro resolver alguns assuntos de meu pai e comprar alguns presentes – Chan disse, com uma animação notável

— Presentes, é? – Felix provocou, fazendo Chan o fuzilar com o olhar, rindo em descontração

— Então seremos apenas eu e o senhor Lee – Hyunjin disse, e Felix podia jurar que o garoto estava cantarolando

Até o momento da retirada de Jieun e Chan, o local permanecia animado, apesar da tensão entre Felix e Hyunjin, o francês tratava  Jieun muito bem, não existia quaisquer expressão que desmentisse suas palavras, e mentalmente chegava a sentir pena.

— Cuide de Jieun por mim, por favor, Chan – Felix pediu à porta, e após uma afirmativa, os dois partiram

— Finalmente – Hyunjin disse se espreguiçando e deixando um sorriso soberbo nascer – Agora somos só nós dois, chéri

— Controle-se, ande, deixe-me ver o que está pintando – Felix resmungou, indo até o lado do rapaz – Somos eu e Chan na varanda ontem...

— Acertou – Hyunjin disse, pendendo a cabeça para o lado, afim de encostar no braço do Lee – As expressões de vocês eram interessantes, quis retratar

Felix assentiu, analisando os traços da imagem, e se perdendo no próprio olhar distante retratado

— Eu estava assim? – O Lee questionou, apontando para sua expressão

— Só não está quando está comigo – Hyunjin dizia calmamente, apontou também para a pintura – Essa expressão sua, como se tivesse muito à dizer, à beira de transbordar, todavia segura tão firme dentro de si

Lee não respondeu, apenas se moveu sentar na beirada da cama, com o olhar perdido

— Você me faz querer externar o meu eu diferente – Comentou, sem olhar algum ponto em específico – Me faz cometer pecados e acreditar na liberdade

— Interessante – Hyunjin disse e riu fraco – Você me causa o contrário

— Como?

Hyunjin não respondeu, apenas levantou-se e fuçou suas coisas, em busca da sua amada arte

— Olhe, se lembra? – Perguntou, prendendo a imagem em um suporte livre

— A noite em Paris... Você havia me desenhado – Felix disse afetado pelas lembranças – Mas por que estou nu?

— Eu lhe disse que você me causa o contrário, chéri... Todas as minhas obras, escondem algo sombrio, alguma perspectiva profunda que não se é boa. Mas essa, não, eu o representei com realmente és, a tua verdade, Felix, naquela noite você parecia tão livre e leve, tão destemido, que fez eu me questionar se eu realmente era um pecado, se eu gostaria de ser visto como um, porque... Por mais que você me dissesse que eu era, seus olhos diziam o contrário

Felix encarava abismado o pintor, sem saber como reagir, então, permitiu-se deitar na cama, encarando o teto

— Hyunjin... Você é tão... Livre, naquela noite, você me contou que se envolveu com homens e mulheres, como consegue se manter tão orgulhoso quanto à isso?

— Ora pois, o que há de errado? O único homem casado com quem me envolvi foi você – Hyunjin disse, guardando a arte novamente

— Sabes a sociedade em que vivemos, se um homem que dança já é criticado, alguém que pratica o homossexualismo..

— Não repita

— Perdão? – Felix perguntou confuso, se sentando novamente

— Não use a palavra homossexualismo, não é uma doença, Lee Felix, por acaso somos doentes? – O Hwang falava sério, e o Lee se assustava com a firmeza no tom – Você acha que sou doente por amar?

— Eu não... – Felix não soube responder, estava em choque

— Esqueça – Hyunjin disse após um suspiro pesado, e voltou para sua tarefa, não puxando mais conversa até o fim da tarde

A noite chegou e Felix se sentia aéreo, confuso, tanto com a conversa com Chan na varanda, quanto com a conversa com Hyunjin, Chan falava consigo algo, mas o moreno estava longe demais para entender

— Felix, está me ouvindo? – Chan questionou preocupado

— Perdão, eu... Me distraí – Disse envergonhado, tentando focar no primo – O que dizia?

— Sabes o filho do delegado Han? – O Bang perguntou em um sussurro

— O que tem ele?

— Eu o vi hoje na cidade, estava indo ao banheiro no restaurante, quando o encontrei ao beijos com o chefe de cozinha Lee Minho, aquele com quem estudei – Felix abriu a boca surpreso, enquanto Chan contava animadamente sobre aquilo, não exibia qualquer timidez ou estranheza ao assunto

E Felix se permitiu sentir aquela áurea, sem julgamentos, passava então a entender a fúria de Hyunjin com sua fala desenformada e enraizada em julgamentos. Observou em um certo momento, o Hwang lhe encarando, sorriu, tombando levemente o rosto de lado, o Hwang riu

— Lee Yongbok, venha comigo – O tom firme na voz do pai, aproximando-se sorrateiro e agarrando-lhe discretamente o pulso assustou Felix

Olhou para Chan, confuso, e murmurou um "desculpe", antes de acompanhar o homem, e naquela noite, no corredor de um dos cômodos, com pessoas animadas na festa ao fundo, Lee sentiu toda a sensação de prisão lhe voltar, o pai lhe advertia com raiva sobre as críticas que a escola estava a receber pela presença de garotos dançando, soava enojado quando se referia à aparência afeminada de alguns alunos,e culpava mais uma vez Felix.

— Irei lhe dizer uma última vez, Yongbok, se seu irmão for contaminado por aqueles impuros, você estará morto, eu não permitirei tal desonra. – E assim, de forma brusca, o Lee mais velho abandonou Felix naquele corredor, engolindo um choro de anos

Sua garganta estava fechada, o peito doía e os olhos ardiam, e a sensação de braços conhecidos lhe rodeando, e o perfume francês lhe invadindo as narinas, o Lee se permitiu transbordar por uma noite.

Paris calls me - HyunLixOnde histórias criam vida. Descubra agora