you're not enough to one Lee

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ALGUMAS HORAS ANTES

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Seria uma completa mentira se Changbin ousasse dizer que estava bem, seria muito mais do que florear a forma como seu peito parecia arder ao fechar a porta atrás de si. Seria negar que, tudo o que mais desejava naquele momento, era continuar com o ômega e se perder em todas as suas curvas como se não tivesse volta. Às vezes ele pensava que não tinha mesmo. Mas a vida, bem, a vida era uma megera miserável e acontecia inevitavelmente, então lá estava ele se arrastando pelos corredores da grande casa dos Lee enquanto tentava não pensar em sua própria miséria. Quer dizer, não é como se ele tivesse inveja daquelas paredes bem pintadas em texturas complexas e claramente Caras, não, a única coisa da qual ele desejava ali era todo o resto. Era Felix e sua família que, definitivamente, não era perfeita mas também não era como a sua própria. Então sim, ocasionalmente ele se sentia meio puto em como a vida podia ser uma vadia em qualquer perspectiva. De qualquer forma, Seo não estava nem um pouco ansioso para ver aquelas pessoas lá, tipo, Seungmin havia lhe garantido que sua mãe estava bem o suficiente e fora de risco, isso já lhe bastava. Ele, com toda certeza, não precisava ver Changmin ou Soojin apenas para se lembrar de que sangue que corria em suas veias era igual ao deles e como isso só tornava tudo pior. Dois filhos da puta de merda.

Bem, não é como se tivesse sido uma grande surpresa. Changbin não era cego, ele via como a irmã parecia bem próxima ao limite. Dia após dia, um segundo por vez. Ele via como Soojin olhava para a mãe, ele via todo o rancor ali e a forma como ela culpava Bo-ah por absolutamente tudo o que não funcionava em sua vida, começando pelo fato de ser uma beta. "Nem para me gerar como ômega esse seu útero barato serve", a loira falou uma vez enquanto empurrava a comida na sonda fixa no corpo da mãe que parecia desligada do mundo ao seu redor como sempre. "Louca imprestável", completou com amargor. Naquela ocasião, Changbin e a irmã brigaram o bastante para ele sair com o supercílio rasgado por um abajur que o acertou de raspão porque, merda, ele tinha tentado fazê-la entender que não era como se todas as merdas em que estavam atolados fosse culpa apenas da mãe. Quer dizer, Changmin tinha tanta culpa quanto, certo?

- Eu vou embora - Soojin falou uma certa noite enquanto pintava as unhas no balcão da cozinha e observava o irmão de olhos semicerrados enquanto o mesmo se dividia entre fazer o jantar e estudar para a porra de uma prova que teria no dia seguinte. Ele tinha quase dezesseis e ela catorze. Eram apenas crianças tentando lidar com a forma como a vida era escrota ao seu redor.

- Uh, sim, tudo bem - falou sem prestar a devida atenção, os olhos grudados no livro aberto e uma das mãos mexendo o molho até a consistência certa. Tipo, como ele poderia saber que aquilo era a porra de uma despedida?

Mas era.

Dois dias depois ela não estava mais lá. Deixou um bilhete e mandou um cartão de natal algumas semanas depois. Changbin não teve um bolo de aniversário naquele ano porque estava ocupado demais tentando conseguir dinheiro para os remédios e alimentação solúvel da sua mãe para pensar em qualquer outra coisa. Nos anos seguintes ele apenas deixou de se importar com isso enquanto pulava de cama em cama e aprendia a cuidar de uma mulher como Bo-ah. Nunca mais viu Soojin depois daquilo, nem Changmin. Nada. Nem mesmo um sinal mísero de vida, nada além do silêncio absoluto. Bem, até aquele dia na casa do Lee. Porra, Soojin parecia tão bem com um sorriso grudado no rosto como se não houvesse nada que lhe pesasse os ombros. Como se ele e sua mãe não passassem de algo que aconteceu e que não merecia ser lembrado. Merda, era com o dinheiro dela que os malditos sobreviviam em algum lugar com boa ventilação e sem parecer a porra de um esgoto.

O mundo era uma bola de gude, às vezes.

E agora lá estava ele, mais uma vez prestes a encarar seu passado. Seo era realmente muito bom em fingir que estava bem, para falar a verdade, ele era o melhor quando o assunto era apenas sorrir para as desgraças da vida e continuar dia após dia. Mas, porra, enquanto encarava o prédio gigante com cheiro de álcool e gente morta, bem, ele não se sentia tão confiante assim. Não quando seus ossos pareciam doer nas juntas e menos ainda quando sabia que Changmin e Soojin estavam em algum lugar do lado de dentro com suas feições ansiosas esperando para finalmente poderem sumir mais uma vez sem jamais olhar para trás. Poderia ser um pouco de egoísmo de sua parte mas tudo o que ele queria no momento era sentir seus ombros leves por mais alguns minutos. Sabe, sentir que todas as merdas do mundo não estavam em suas costas e, porra, apenas poder respirar com alguma tranquilidade. "Felix disse que tudo bem querer ser normal" pensou enquanto encarava o letreiro bem iluminado do outro lado da calçada e fazia um grande esforço para não pensar no quanto a conta hospitalar seria absurdamente pesada em seus bolsos. "Está tudo bem, isso não me torna o vilão. Isso não me faz como eles porque eu ainda estarei aqui no final do dia e continuarei mesmo quando todos se forem, então me dê apenas mais alguns minutos".

ALPHA DELIVERY  ||  ChanglixOnde histórias criam vida. Descubra agora