Capítulo 1

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Fazia tempo que não me sentia perdida em pensamentos desse jeito. Sinto que passei muito tempo olhando para alguma coisa, um ponto específico e até agora os pensamentos não pararam de surgir em minha cabeça, é como se eu não tivesse controle sobre nada, nem sobre mim mesma. Ás vezes essa sensação simplesmente se instala e não vai embora, chega a ser tortuoso como essa espiral de pensamentos se aconchega e se afunila de uma forma avassaladora e incontrolável. Minha própria respiração, o farfalhar dos meus cabelos nas minhas costas, os olhos que já não piscam mais automaticamente e a garganta que se fecha cada vez mais. Eu não entendo o porquê. Talvez esse seja um dia ruim.

Ao fundo o professor de artes falava sobre como desenhar a anatomia do corpo humano e aos poucos pude sentir que eu retornava para o meu, esporadicamente esses episódios acontecem. Quando sinto que não estou em lugar algum.

O professor Hilston apresentava um slide que se projetava no toldo sobre a lousa e pude ouvir os murmúrios de algumas pessoas falando sobre Carter, de novo, como se fosse novidade que se meteu em alguma encrenca. Decidi voltar minha atenção para a aula porque realmente não queria perder aquela matéria, artes sempre fora minha paixão, entre cores, músicas, pinturas e grafites eu me encontrava e me sentia viva. Os murmúrios aumentaram e começaram a me incomodar, sei que a maioria das pessoas não valoriza essa aula, mas é uma das poucas coisas que prendem minha atenção, me ajudam a não divagar dentro de mim mesma. Estava prestes a me virar pra pedir em tom baixo que dessem uma amenizada, quando a porta foi escancarada. Mal tive tempo de arregalar os olhos e Carter já estava parado á porta com um sorriso lupino em seus lábios, trajava uma camisa branca que deixava a mostra algumas de suas tatuagens e uma calça preta, em sua lateral uma corrente se despojava de uma alça á outra.

Revirei meus olhos, pois sabia que era mais um de seus teatros para chamar atenção. Vi o professor respirar fundo, como se estivesse retomando todo seu autocontrole para não jogar nada na cabeça dele.

- Está atrasado Ethan, já é a 5ª vez essa semana. Quando você vai criar algum senso de responsabilidade? - expirou de forma desapontada.

- Você sabe que não tenho mais jeito - disse com um sorriso de canto - a essa altura eu já teria desistido se fosse você, Hilston.

- Pois bem, só poderá participar após o intervalo - Rebateu em tom firme.

- Sem problemas - afirmou com um jeito convencido, saindo da sala deixando a porta completamente aberta, como se nada e nem ninguém importasse para ele. Um maldito dono do mundo.

A sala foi tomada por murmúrios.

- Como ele pode ser tão gato? Eu já peguei ele em uma festa e ainda não me conformo de não conseguir um replay - a menina atrás de mim cochichou para a que estava ao seu lado.

- Caramba, ele pode fazer o que for e eu vou passar aquele pano. Aquele rostinho e o corpo de gostoso que ele têm, valem muito a pena - disse em resposta.

Me virei discretamente, por curiosidade após o breve silêncio que se estendeu e puder ver ela dar uma leve mordida em seu lábio inferior. Era engraçado como as pessoas, davam tanta importância por algo tão superficial como aparências, eu nem sabia o que pensar, não prestei muita atenção nele, em geral sou uma pessoa que prefere investir a atenção nos estudos ou em hobbies. Mesmo que não fosse, Carter seria minha última opção e talvez nem a última, preferiria saltar da ponte á ter algo com aquele arrogante, fora que ele esbanja luxúria, quando encaro seus olhos posso ver o caos ali dentro. Carter é confusão e eu preciso de paz e calmaria, livros e chuva enquanto tomo um cafézinho quentinho com açúcar. Apesar do nosso passado. Ouvi o sinal tocar.

- Hora do Intervalo - sinalizou o professor.

Levantei rapidamente, não via a hora de encontrar Jenna, precisava conversar com ela sobre algo, fazia tanto tempo que não voltava para essa faculdade. Fiquei cerca de 3 anos fora, estava na França com minha avó Suzan, ela me ensinou tanto durante o tempo que fiquei lá e eu vi tantas coisas lindas, tudo lá fora simplesmente um sonho. Agora eu estava de volta á Los Angeles, meus objetivos se resumiam a me manter invisível e evitar Ethan Carter a qualquer custo. Não queria correr o risco de que ele soubesse que eu estava de volta, com certeza pegaria no meu pé, pois sempre fez isso e depois de tudo o que eu passei.. Só precisava de paz. Enquanto andava pelos corredores, não deixei de fazer algumas observações. Como em todo lugar tinham algumas pessoas se pegando em alguns cantos, outras mexiam em seus armários e algumas estavam indo para algum lugar. Eu não sabia onde o refeitório ficava, então confiei na minha boa intuição e como já fiz muitas vezes, segui as pessoas. Felizmente minha intuição estava certa e agora eu estava no refeitório, morrendo de fome pra variar, seria melhor comer primeiro antes de procurar minha melhor amiga, acabei não contando pra ela que estaria aqui durante a nossa vídeo chamada, queria muito fazer surpresa.

𝑴𝒆𝒖 𝑫𝒐𝒄𝒆 𝑨𝒎𝒐𝒓Onde histórias criam vida. Descubra agora