Onde tudo começou.

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Sabe quando sua vida muda drasticamente e você sente como se não houvesse mais oxigênio no mundo?, essa tem sido a minha realidade a dois anos.

Deixa eu começar com alguns acontecimentos recentes, começou uma pandemia aonde o mundo praticamente parou, uma doença que infelizmente levou a vida de muitos, e abalou completamente muitas pessoas, e eu faço parte desse grupo e vou te explicar o por que. Os anos anteriores a esse acontecimento eu vivia de uma forma tão intensa, eu sorria espontaneamente, tinha uma facilidade em fazer amigos, e eu tinha uma rotina escolar incrível, sempre rodeada de pessoas e "amigos" e isso me fazia amar tanto a escola em um grau que eu odiava faltar um dia sequer a aula, até o início do ano da pandemia eu estava no meu tão sonhado ensino médio, sonhava em curtir cada segundo e sem desperdiçar nenhum minuto se quer, e os dois primeiros meses foram um sonho, então tudo mudou, os quinze dias de recesso se tornaram um mês, dois meses, sete meses, e as aulas se tornaram online, essa doença assustou tanto todos que eu praticamente fiquei quase três meses sem sair de casa, e isso começou a transformar meu medo em pânico, espirros, tosse, falta de ár subindo escadas, cada um desses se transformou em um gatilho pra mim, fiquei meses sem ver minha mãe e irmã, enfim isso foi me destruindo de dentro pra fora, e daí tudo infelizmente só piorou. Comecei a desenvolver ansiedade e por conta dela engordei quase vinte quilos, ganhei estrias, gordurinhas aqui e ali, senti horror do meu próprio corpo por meses, minha ansiedade começou a aumentar drasticamente sem eu nem se quer conseguir dominar, pensamentos sobre mil coisas ao mesmo tempo, medos, e isso foi ficado cada vez mais e mais incontrolável, até um dia que na escada do meu prédio eu desabei, senti meu corpo desligar e minutos depois acordei desorientada deitada em meio aos degraus com meu pai e avó em volta de mim aterrorizados pois isso nunca tinha acontecido antes, e era uma crise de choro eu apagava, era só eu ficar muito nervosa ou ansiosa que acontecia e isso eram poucas vezes, porém durou meses e mais meses até que finalmente parou de uma hora pra outra e isso foi tão incrível que parecia até mentira, porém ainda continuei tendo crises só que eram leves, choro, comer compulsivamente, ou simplesmente ataques de fúria inesperados, isso começou a fazer parte da minha rotina porém quando fui ver o resultado fiquei assustada, perdi o brilho no olhar, a motivação em fazer amizades, e principalmente a alegria que eu tinha em conversar com as pessoas, me olhava no espelho e me sentia péssima, como se estivesse morta por dentro, comecei a chegar em um ponto aonde eu não sentia mais emoções como antes, era o tempo todo dentro do mundo que criei internamente, colocava meus fones de ouvido e ficava horas e horas ouvindo músicas, pensando e alimentando medos e as minhas inseguranças. Um bom tempo se passou e no ano seguinte foi aonde tudo piorou de fato, foi o recomeço das aulas e eu já estava no segundo ano do ensino médio sem nem ter vivido o primeiro, entrei na sala e me sentia em outro universo, não conseguia prestar atenção, morria de vergonha de falar de forma que a turma me ouvisse, e isso durou dois meses pois eu e a minha família achamos que estudar de manhã seria melhor pra mim, pois de certa forma ficaria mais em casa e então foi feita a mudança, oque só piorou as coisas, lembra quando eu disse lá em cima que sempre fui rodeada de amigos e coloquei aspas nessa palavra, então foi aí nessa mudança toda que vi a verdade e senti na pele oque é ver seus "amigos" de anos desfazerem da sua presença, fingir que sou invisível e o pior é ignorando quase todas as vezes que puxava assunto, e isso foi agravando cada vez mais a minha ansiedade que eu achei que estava controlando. Eu comecei a criar um pânico horrível da escola, as vezes eu até conseguia ir porém não dava duas horas e eu acabava tendo uma crise de ansiedade, então praticamente parei de ir, se fui cinquenta vezes no ano a aula foi muito, e oque agravou cada vez mais e mais a minha ansiedade. Acabei tendo que conviver com esse medo ao ir a escola, sair, ir a igreja ou em qualquer outro lugar aonde houvesse pessoas, muitas pessoas, e só de me imaginar nesses lugares o meu medo, pânico, terror ou qualquer outro nome que defina essa sensação só aumentava a cada vez que saía de casa, não vou mentir que esse é o final da minha história pois não é, este é só o começo. Acabei abrindo mão das minhas idas a escola e acabei focando em cuidar de mim, mais foi bem difícil, de me olhar com carinho, procurar não me culpar, de aceitar que eu não tenho que agradar a todas as pessoas e muito menos tentar ser perfeita, pois buscar a perfeição tem o seu preço e ele infelizmente é muito caro, leva seu amor próprio, sua identidade, suas escolhas e tudo passa a se tornar a vontade dos outros, isso acaba se tornando uma compulsão, uma doença, e nos agredimos cada vez que desapontamos alguém ou falhamos em algo seja com pensamentos, castigos, até automutilação em muitos casos, não vou esconder nada e serei o mais franca possível ao dizer que isso aconteceu comigo e eu nunca pedi ajuda, falei ou demonstrei na frente de ninguém essa parte da minha vida, que foi bem longa. Bom, entorno de outubro desse ano acabei passando por uma crise horrível, em um grau que eu jamais havia tido, eu tive uma crise de ansiedade convulsiva, eu tive diversas convulsões e infelizmente fui parar na emergência e fiquei internada, mais logo passou e o pós crise foi assustador, meu corpo doendo, garganta ardendo, fraqueza, cansaço e uma dor interna inexplicável, eu costumo dizer que é uma dor na alma e que só que passou sabe definir e sentir isso, é uma sensação que não desejo a ninguém mesmo, e dessa crise eu tive mais três em um intervalo de três meses entre elas, e cada uma trouxe uma internação consigo, porém a última dessas eu fiquei muito mal, posso dizer com clareza, eu nasci de novo, pois quase perdi minha vida e de uma forma que me marcou pra sempre, aprendi muitas coisas com essa crise, o medo de perder algo ou alguém pode transformar uma pessoa e isso aconteceu comigo, eu passei por lembranças, sentimentos, lembrei de pessoas e isso me mostrou que as vezes estamos tão presos a essa dor que não vemos o principal, nós mesmos. Não vemos amor, carinho, bondade, cuidado, não sentimos felicidade, ficamos tão dentro desse sentimento que quando saímos nem que sejam só cinco minutos nós vemos muitas coisas, coisas boas e além da habitual sensação de inutilidade, peso, fracasso, inferioridade e a sensação que se sumissem não faríamos falta. Bom, isso me fez ver muitas coisas de uma forma diferente, me senti diferente e me vi em uma situação que eu precisava tomar uma decisão, dar a mão e ceder a ansiedade e depressão ou lutar com todas as minhas forças em busca de ár, de luz, esperança de que amanhã será diferente, e isso começou a fazer parte da minha rotina diária, uma luta constante e a todo minuto, e o pior são os gatilhos emocionais que cada um de nós temos, uma memória, uma palavra, uma pessoa entre muitos outros, e se manifesta de formas diferentes em cada um, uns lidam melhor e outros tendem a reviver e sentir tudo novamente quando esse gatilho é acionado, que é o meu caso, e como uma pessoa ansiosa eu digo com toda a certeza que é uma dor inexplicável e absurdamente dolorosa, eu costumo dizer e definir como uma dor na alma.

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⏰ Última atualização: Jun 01, 2022 ⏰

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