Bernard
Monto meu cavalo mais rápido do que o necessário e saio apressado pelas ruas de Santos.
Estou ansioso. Muito ansioso.
Não sei o que está acontecendo comigo. Eu não costumo ser assim. Mas desde a primeira vez que a vi, não me reconheço.
As casas e pessoas passam um pouco rápido demais pela minha visão periférica enquanto me afasto da cidade em direção à fazenda em que a garota que assombra meus pensamentos mora.
Eu deveria voltar apenas à tarde, mas não pude aguentar mais tantas horas.
Passei o último dia revivendo cada segundo do nosso encontro. Seu sorriso, seus olhos castanhos altivos e confiantes.
Os sentimentos que me invadiram ao ter o breve vislumbre de seu rosto naquele primeiro dia, não foram nada comparado ao que senti estando frente a frente com ela.
Tive que me segurar para não sorrir como um bobo quando a vi ontem no escritório do pai. Quase não pude acreditar que era ela.
Conforme conversávamos, minha admiração atingiu níveis inimagináveis. Sua inteligência, coragem e força me deixaram fascinado. Ela é diferente de tudo que eu já conheci.
Eu só conseguia pensar em beijá-la, sentir a maciez de seus cabelos sob meus dedos e o seu pequeno corpo contra o meu.
Estou perdido.
Não sei se conseguirei me controlar quando estiver diante dela novamente. É um sentimento indecoroso, ceratemtne, mas parece que esteve todo esse tempo guardado.
Assim que chego, deixo meu cavalo com um rapaz prestativo que vem ao meu encontro. Involuntariamente, olho ao redor à procura de longos cachos escuros, mas não a vejo.
A mesma criada do outro dia me recebe na porta antes mesmo que eu possa fazer alguma coisa.
Ela me conduz pela casa até o gabinete em que estive da última vez. Sei que é uma possibilidade remota, mas desejo que ela esteja lá como no outro dia.
No entanto, é um senhor de meia idade quem me recebe, parecendo um pouco surpreso.
— Bom dia, Sr. Guimarães! Eu sou Bernard James, filho do duque de Windsor. — O cumprimento com um aperto de mãos.
— Olá, meu jovem. Deve ter vindo tratar da compra das sacas de café, estou certo?
— De certo que sim.
— O aguardava apenas a tarde. Já ouvi falar da pontualidade dos ingleses, mas não achei que chegaria tão cedo. — Ele ri calorosamente enquanto aponta a cadeira a sua frente. Sorrio também enquanto me sento.
— Surgiu um compromisso a tarde, então resolvi vir pela manhã. Mas se o senhor não estiver disponível agora eu posso voltar amanhã. — Ou falar com a sua filha…
— Não, de modo algum. Não estou tão ocupado agora e como o senhor já se deu ao trabalho de vir até aqui, é melhor resolvermos logo. — Ele sorri novamente. Me pego vislumbrando alguns traços de sua filha nele e isso me leva à feição angelical de Anaya. De novo ela permeia meus pensamentos.
— Sr. James, minha filha já me passou tudo que foi acordado na reunião de vocês. Aliás, peço desculpas por não ter podido estar presente.
— Não há o que desculpar, senhor. Sua filha conduziu a negociação com maestria.
Ele sorri orgulhoso.
— Sim, ela é uma garota muito inteligente, sabia que o faria. — Ele faz uma pausa e me olha sério. — Fiquei muito satisfeito quando ela contou-me sobre a reação do senhor. Nós sabemos como a sociedade trata as mulheres. Odiaria ter que desistir de uma transação tão significativa por minha filha ter sido desrespeitada. Eu não seria tão amigável se isso estivesse acontecido, o senhor deve concordar comigo.
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Além do que os olhos podem ver - Concluída.
Short StoryO conde de Halfeld, Bernard James Watercliff, não sabia o que estava por vir quando trocou os frescos campos da Inglaterra pelo calor dos trópicos do Novo Mundo, o que ele tinha em mente era mais uma viagem de sua monótona vida de negócios. Anaya G...