Capítulo Décimo Primeiro

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Bernard

Minha cabeça dói. Muito.

Maldição, todo o meu corpo dói. Como se estivesse sido pisoteado por vários cavalos.

Não tenho forças o suficiente para mexer um músculo sequer. A única coisa que consigo fazer é ouvir as vozes ao meu redor e tentar entender onde estou.

Ao longe, ouço uma voz masculina e, logo depois, uma feminina. A voz dela.

Anaya fala de forma calma, mas posso sentir sua força e determinação mesmo sem distinguir ao certo o que é dito por ela.

Minha Anaya.

As memórias se confunden em minha cabeça como um mosaico. Lembro-me do baile… de dançar com Anaya inúmeras vezes e depois pedi-la em casamento. A lembrança me faria sorrir se eu já tivesse controle sobre meu corpo.

  Depois disso, lembro-me de uma conversa nada amistosa com meu pai e após… nada. Apenas um branco.

Me esforço para tentar entender o que Anaya está conversando com o homem, mas, de repente, as vozes cessam. Ouço um farfalhar e então o silêncio.

Será que foi embora? Logo agora?

Forço meus olhos a abrirem, mas não vejo muita coisa antes que eles se fechem novamente.

De repente, sinto sua presença perto de mim e o delicado toque de sua mão na minha. Ela está falando novamente, mas ainda não consigo entender.

O medo de que ela se vá e deixe-me me dá forças para apertar sua mão de leve. Ouço o seu arfar.

— Oh meu Deus, Bernard! — Sua voz está mais próxima a mim, de modo que consigo, enfim, identificar o que é dito. — Meu amor, você está me ouvindo?

Aperto sua mão novamente e tento abrir meus olhos mais uma vez. Pela visão embaçada, consigo ver o seu rosto próximo ao meu, embora não possa distinguir sua expressão.

  — Oh, graças a Deus você está acordando! Ben, meu amor, sou eu, Anaya. — Tento sorrir, sem sucesso.

Como se eu não soubesse. Creio que a reconheceria em qualquer circunstância.

  — Graças a Deus! Eu preciso chamar o doutor.

Ela faz menção de levantar-se, mas aperto sua mão para impedi-la. É um desejo irracional, mas não quero que ela saia de perto de mim agora. Preciso desfrutar de sua presença antes que a inconsciência me atinja outra vez.

— O que foi? Você está sentindo alguma coisa? Devo chamar o médico para vê-lo.

Mais uma vez aperto sua mão, tentando articular alguma palavra, mas minha boca abre e fecha sem sair som algum.

— Você quer que eu fique com você? É isso? — Mais um aperto. Ela parece entender isso como uma afirmação. — Está bem. Mas logo precisarei chamá-lo para que ele possa lhe examinar.

Pisco lentamente, tentando desembaçar a visão. Suas feições se tornam mais claras diante de mim e, simples assim, todas as dores são esquecidas. Só de tê-la junto a mim já me sinto melhor.

— Oh, Bernard, estou tão aliviada. — Ela afaga meu rosto de leve, como se não pudesse acreditar no quê seus olhos vêem. Nem eu posso acreditar que ela está aqui ao meu lado. — Você não sabe o quanto temi por você. — Lágrimas descem por seu lindo rosto, fazendo meu coração se contrair. — Quando soube, pensei que nunca mais o veria. Fiquei tão… tão assustada ao vê-lo aqui, tão frágil.

Aperto sua mão uma vez mais, na tentativa de confortá-la, de lhe dizer que tudo ficará bem. Vê-la chorar corta meu coração.

Quero perguntar-lhe o que aconteceu, a quanto tempo estou desacordado, mas as palavras não saem. Só consigo reproduzir alguns poucos sons desconexos.

Além do que os olhos podem ver - Concluída.Onde histórias criam vida. Descubra agora