Um Caso Para Dois [CANCELADA]

O Incidente

— Fala sério, Kyle! — Nica bufa, depositando o copo de café intocado que acabara de comprar na mesa de sua chefe para poder enfim cruzar seus braços em descontentamento. 

A loira acabara de informar que ela seria designada a proteger uma vítima sobrevivente de um ataque em tempo integral. O que significava que todo o seu cronograma iria mudar, e Nica não gostava nem um pouco de mudanças. A última coisa que precisava era ser deslocada para um caso.

— Esse nem é meu departamento, além do mais eu gosto de patrulhar com o Andy, eu gosto de estar sempre em ação. Eu não quero ficar de cão de guarda! — resmungou para a mulher impassível à sua frente.

— Nica, isso não é sobre o que você quer, isso é sobre seu dever como policial. Eu como capitã devo designar as pessoas adequadas para cada caso e você é a pessoa mais adequada para esse.

— Mas o Andy vai ficar sozinho, ele precisa da parceira dele. — ela tentou mais uma vez.

— Nica... — dessa vez Kyle se levantou para ficar cara a cara com sua subordinada, apenas a mesa separava as duas e a loira se inclinou levemente sobre ela. Ela sempre fazia isso quando a conversa ficava mais séria e isso foi um sinal para Nica descruzar os braços e prestar atenção. — Essa pessoa... essa pessoa que sobreviveu... trata-se de um menino. Ele tem quatorze anos e ouviu o seu pai e a sua mãe serem assassinados enquanto ele se escondia dentro de um armário. Eu te escolhi para esse caso porque essa criança tá aterrorizada e eu não quero colocar um monte de brutamontes encarando ele dia e noite para aterrorizá-lo mais ainda, esses ficam do lado de fora vigiando a casa enquanto você fica dentro com o garoto. Entendeu? — aquilo parecia uma pergunta retórica mas Nica consentiu com a cabeça mesmo assim, só por via das dúvidas.

Kyle não precisava se exaltar com ninguém, seu semblante firme e seu tom austero eram o suficiente para ela ter o respeito dos seus subordinados, até seu irmão caçula a respeitava veementemente. E mesmo Nica que às vezes conseguia amaciá-la nunca tentava testar seus limites.

— Além do mais — a loira prosseguiu — você leva jeito com situações mais delicadas. Não é só pela sua aparência, não pense que seja só por isso. Você é paciente, cuidadosa e o mais importante, você é empática e vai saber exatamente do que o menino precisa nesse momento. Então sim, você vai ser deslocada para esse caso por algumas semanas e eu sei que vai fazer um ótimo trabalho. 

Nica engoliu um seco ao saber que duraria semanas mas não pôde deixar de corar com todos os elogios desferidos a ela.

— A papelada do caso já tá na sua mesa, você tem a manhã para estudar sobre e ao meio dia alguém vai te deixar no novo endereço da vítima. Alguma pergunta, Pierce?

— Nenhuma, capitã. 

Nica assentiu e após ser dispensada foi em direção a própria mesa, que ficava a poucos metros da sala de sua chefe, lá já podia ver o sorrisinho de escárnio de Andy, ele era seu melhor amigo e parceiro de patrulha mas como um bom amigo não perdia a oportunidade de tirar sarro dela em certas situações.

— Você vai ficar de vigia, é? — ele riu enquanto Nica se sentava na mesa dela, em frente a sua.

— Não é de vigia, é o programa de proteção a testemunhas, ok? — ela revirou os olhos.

— Então vai ficar de babá. — ele deu uma gargalhadinha fazendo-a revirar os olhos novamente — Cara, eu não queria ser você.

— Você sabia que às vezes você consegue ser tão chato que eu acho que vou até aproveitar esses dias longe de você. Finalmente terei férias de Andy Barclay!   — Nica retrucou fazendo Andy levar a mão ao peito enquanto ele fingia ressentimento.