Bruna narrando.
Dirley vai sair da cadeia daqui 2 semanas, até lá, estou me produzindo toda para o grande dia, e ainda assim, não vou deixar de ir visitar ele nesses dois fins de semana. Ele me faz feliz demais, e estou com ele para sempre.
Não ligo para o que as pessoas falam a respeito disso, até porque cuidam muito da minha vida, mas nunca me deram nada. Sinceramente, não ligo mesmo. Conheço meu marido, e sei que ele me ama mais do que o suficiente.
Como todos sabem, conheci o Dirley quando eu tinha 15 anos e ele 27 anos de idade. Sempre fui aquele tipo de menina iludida por traficantes, bandidos e etc. Eu tinha aquela obsessão de ser chamada de "mulher do chefe", "patroa" e tudo mais.
Eu morava em São Paulo, e acabei conhecendo uma menina pela internet que conversa vai e vem, ela me apresentou o primo do marido dela, que por sinal também estava preso.
Foi o que aconteceu, comecei a conversar com ele e aos poucos, fui me apegando ao mesmo. Ele era gerente da favela da praia linda em São Pedro da Aldeia, Rio de Janeiro, e conversávamos tanto que acabou virando rotina, era todos os dias, toda hora, e aos pouquinhos ele foi pegando confiança em mim.
Ele me provava que só falava comigo, que eu era a única mulher em que ele se interessava, e, quando ele demorava para responder ou algo do tipo, era porque o celular estava com outro preso, ou porque ele estava resolvendo as coisas da boca de droga. E, sim, ele me mandava print do que estava resolvendo, com quem estava falando, e fazia o possível para me dar atenção.
Depois de um tempo, ele pediu para que eu fosse visitá-lo, e eu com 15 anos, não tinha nem como, né? Então prometi para ele que eu iria esperá-lo, e que não importava o tempo, eu honraria com a minha palavra.
Quando eu fiz 16 anos, Dirley me disse que se minha mãe assinasse, eu poderia fazer a carteirinha para ir vê-lo. Minha mãe sempre foi bem conservadora, e nem sonhava que eu conversava com um presidiário, não tinha nem como eu falar sobre isso com ela, seria completamente fora de cogitação.
Resumindo, ele implorou para que eu desse um jeito, e eu naquela época, toda apaixonada, e, digamos, iludida, só tentei achar uma forma de conseguir fazer o que ele pedia. Eu sentia muita carência nele, e comecei a mandar fotos íntimas, depois começamos a fazer chamada de vídeo, e tudo o que tinha direito eu fazia, para agradá-lo, mas parecia que era tudo em vão, porque ele ficava feliz, mas depois vinha com os mesmos papos de eu ir visitar ele, conversar com a minha mãe e etc.
Era tudo mais fácil para ele, claro, mas para mim era bem complicado, até que um dia ele me fez a seguinte proposta, de ele arrumar uma casa para mim lá no Rio, e eu ir morar lá, com ele me sustentando e me dando de tudo. A única coisa que eu não poderia fazer, seria ir para bailes ou ficar com outros homens.
Pensei e repensei sobre isso, até eu colocar na minha cabeça que iria sim, fazer isso. Pois bem, dei um jeito de conseguir a carteirinha virtual, e falsifiquei a assinatura da minha mãe, pela internet.
Ele me mandou um dinheiro, e eu fiz o combinado. Cheguei na casa dele, e fui super bem recebida pela mãe dele, lá. Realmente, até hoje foi a melhor escolha da minha vida.
Pedi ajuda para a Grazi, aquela minha amiga que me apresentou para o Dirley, e ela me ajudou com tudo para eu fazer uma surpresa de visita para ele.
No fim, deu tudo certo, consegui conhecê-lo, perdi minha virgindade com ele, e confesso que ele era e sempre foi, um verdadeiro príncipe encantado comigo. Sempre me tratando bem, me ligava todos os dias, me mandava dinheiro, eu andava do jeito que eu achava que merecia, e eu tinha aquela fama de "mulher do gerente", não era muito, mas já era o bastante para eu ser muito respeitada, na favela.
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Refém da vida
Ficção AdolescenteA intenção oculta do crime é já o próprio crime. Perigo e prazer dão no mesmo galho. O falso amor de si mesmo transforma a solidão em prisão. O caminho é esse tem pedra, tem sol tem você amando tem você sozinho é só escolher ou vai, ou fica.