o desespero de quando te conheci

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O sol estava se pondo quando Louis saiu, utilizando agora um longo sobretudo com uma tonalidade clara e felpuda por dentro. As noites costumavam ser geladas na terra dos sonhos.

Tudo que Louis precisava era ir até uma pequena loja de feitiços e apanhar o verniz especial que ele tanto usara em momentos como esse.

Lembre-se, Louis nunca gostou de magia, por isso, seria difícil entrar no recanto onde as coisas envergavam e se contorciam para o lado das trevas, para o total contrário do que toda a magia da natureza fazia.

O lugar onde Louis iria era o pesadelo da terra dos sonhos, lá nada se sabe e tudo se deseja.

Não me leve a mal, a magia das trevas não é feia, ela também tem sua beleza, muito mais antiga, intensa e principalmente poderosa, porém com ela sempre há um preço e isso era algo que fazia os pelos de Louis se arrepiarem.

O caminho se tornava mais escuro conforme Louis o adentrava. As luzes piscavam e o ar se tornava mais gélido. O pintor focava em não trocar contato visual com ninguém.

A loja se encontrava em uma rua onde a movimentação era maior, bruxos de cabelos coloridos e vestes despojadas caminhavam por lá, todos extremamente elegantes. Louis se sentiu mal vestido, entrando ainda mais em seu sobretudo.

O ar era envolto de fumaça, seu nariz detectou pelo menos três ou quatro pessoas fumando uma erva com cheiro doce, um odor um tanto atrativo para ele. Chacoalhou a cabeça, lembrando que precisava se manter afiado naquele lugar, não sucumbir a tentações, o que era praticamente impossível naquela área.

Ele sentia a adrenalina mesclada com um medo desesperador dentro de suas entranhas, uma linha tênue entre uma excitação que vinha de dentro e um pânico controlado.

A loja era muito antiga, a madeira era escura, como se tivesse anos de tinta preta sobreposta, velas eram vistas por todos os lados.

O chão era tomado de cera derretida, o que talvez indicaria que o local estivesse mais quente, porém Louis nunca se sentiu aquecido para aqueles lados da terra dos sonhos antes e aquilo não iria mudar agora.

Houve um tilintar de sinos quando o pintor abriu a porta, olhando para o topo da entrada, como de costume, verificando novamente que não havia nenhum sino ali.

- Mágica - soltou Louis em um sussurro quase inaudível, arrependido quase que imediatamente.

- É isso que você encontrará aqui, garotinho.

A voz causou uma sensação amarga na boca de Louis, era arranhada, rouca, com uma sombra maligna e sinistra. O homem virou para observar a bruxa, que estava ao lado de diversas flores secas, ela possuía um longo cachimbo em tom esverdeado em seus lábios grossos e vermelhos.

Caro leitor(a), há algo essencial nesta história que você precisará entender imediatamente. No mundo dos sonhos havia dois tipos de magia. A da natureza, que simbolizava a luz, os elementos e as criaturas, e a das trevas, que simbolizava a barganha, gerada por fome de poder, porém acima de tudo era extremamente atrativa, tudo era convidativo, especialmente os mestres e mestras das artes das trevas.

Esses bruxos e bruxas eram cruelmente perfeitos, seus traços eram cortantes, suas peles eram como porcelana tingida e seus olhos tinham um brilho misterioso, como um portal. Eles eram atrativos para qualquer um, seja seu coração puro ou não.

Por este motivo, aquele lugar deixava Louis em um certo êxtase, sendo um homem que admira tanto a beleza alheia.

A mulher possuía vestes pretas e um espartilho rente ao seu corpo curvilíneo e voluptuoso, ela olhou Louis dos pés a cabeça com um expressão safada - você parece delicioso - a mulher levantou as sobrancelhas sugestivamente, o homem não sabia como reagir.

- Eu agradeço o elogio - Louis pigarreou, tentando parecer educado, porém sem entender o porquê - Estou procurando um verniz secante, é uma questão urgente.

- Claro, claro, sempre é - reclamou a bruxa, que já havia levantado do seu canto para buscar o verniz que Louis havia pedido - quanto você precisa? - quando o garoto virou em direção a mulher, segurou sua expressão para não demonstrar o susto que levou, a bruxa agora possuía um segundo par de braços, segurando um vidro em cada mão, Louis respirou fundo, sabia que aquilo era apenas uma tática da bruxa para sentir o cheiro do medo que o homem iria exalar por seus poros.

- Apenas um frasco já é suficiente - sussurrou olhando para os pés, tentando se manter calmo, não se sentia confortável quando mulheres, sendo das trevas ou não, flertavam com ele, era como se comunicar com um porta, Louis William era incrivelmente gay.

- Não se assuste, rapaz - a bruxa se moveu rapidamente, estando a centímetros de seu rosto - é apenas... como você disse mesmo? mágica... - a mulher soltou uma longa e rouca gargalhada, batendo seus longos cílios, Louis achou melhor se fazer de desentendido.

- Eu sinto muito, não queria lhe ofender - Louis pôs uma quantidade de dinheiro sobre o balcão - isso é suficiente?

- Para você? Sim! - Louis estava desconfortável, querendo apenas sair daquele lugar estranho.

- Certo, eu sou imensamente grato, uma boa noite - os dedos de Louis agarraram o vidro da mão da bruxa, puxando com força quando ela pareceu um tanto obstinada a não entregá-lo, cedendo em algum momento.

O homem foi em direção a porta, quando escutou uma baixa e assustadora risada, que vinha dos lábios vermelhos da mulher presente. Enquanto abria a entrada para sair de vez daquele lugar, escutou a voz da bruxa.

- Eu tomaria cuidado, todos os olhos estarão sobre você essa noite, eu posso sentir no seu cheiro - ela levou o cachimbo à boca, soltando uma fumaça que se espalhou pelo recinto - porém não por muito tempo - o homem viu os dentes da mulher se tornarem mais pontudos e seu rosto se deformar por breves segundos, tentando ignorar o que seus olhos o mostravam.

Louis fechou a porta com uma força que alguns segundos depois, julgou desnecessária, porém, a rua ainda parecia pior do que a loja que havia acabado de deixar. O cheiro doce havia sumido, assim como a pequena multidão de pessoas.

O garoto estava sozinho.

Louis pôs o verniz no bolso e iniciou sua caminhada em direção a casa, porém, algo estava diferente, o pintor não se sentia sozinho, mesmo ao ver que não havia ninguém à sua volta. Jurou que sua visão periférica o estava pregando peças.

Foi quando Louis sentiu.

Aquela estranha movimentação.

Louis se sentiu observado, o homem se apressou, apertando o casaco no corpo, tentando conter os arrepios.

Seus olhos permaneciam atentos quando uma espécie de gosma preta começou a vazar das paredes de tijolos, seu corpo enrijeceu, Louis não fazia ideia do que era aquilo, mas trazia uma sensação de morte e uma infinita escuridão, ele sabia que não podia tocar naquilo, ou se arrependeria para sempre.

Neste momento o pânico já tinha tomado conta do rapaz, seus pés rápidos desviavam da gosma preta. Uma angústia terrível preencheu o homem, como se aquela criatura estivesse sugando toda sua força.

Sua cabeça latejava e Louis achou que iria desmaiar, ou morrer, e pior, morrer pensando na pintura do Senhor Carlo.

Quando lágrimas já vazaram de seus olhos e pequenos gemidos de medo saiam das suas cordas vocais, Louis sentiu alguém contornar sua cintura fina, segurando-a de uma maneira protetora.

Antes mesmo de ver a face de Harry Edward pela primeira vez, Louis escutou sua voz calma, derretendo seu coração instantaneamente.

- Não chore anjo, nada irá acontecer com você - a voz era grossa, com um sotaque carregado, as mãos do homem permanecem agarradas a Louis. 

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