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Tudo começou quando eu tinha 12 anos, no ano de 1985. Na época, eu não o via com tais olhos que hoje vejo, porém ele já me encantava como um colega de turma. Seus cabelos sempre foram negros como carvão, naquele tempo seus fios batiam um pouco antes de seus ombros, mas algo que nunca mudou foi a bondade e gentileza que contia em seus profundos olhos amarelos, tais olhos que agora encharcam meu ombro com dolorosas lágrimas que terei de carregar em meu coração pelo resto de minha mieravel vida.

Sempre tive uma vida abastada, carrego o sobrenome de minha mãe, porém meus dois irmãos mais novos receberam o de meu pai. Acontece que meu avô insistiu que o primeiro Afilho de meus pais recebesse seu sobrenome, depois de longas discussões foi decidido que eu recebesse meu nome, Paul Verlaine. Vim de uma mesclagem entre um japonês e uma francesa, nunca me faltou nada. Puxei de minha mãe os cabelos loiros, fui o único loiro. Ganhei minha primeira irmã com 8 anos, Nakahara Kouyou, uma garota de cabelos rosados, herdou bastante das características asiáticas de nosso pai. Já o segundo foi um garotinho ruivo, cabelos que pareciam fogo e olhos azuis, Nakahara Chuuya, eu tinha 12 anos quando ele nasceu.

Esta é a minha família, mas tem alguém que conheci que considero tanto quanto aqueles com quem partilho o meu sangue. Seu nome é Arthur. Arthur Rimbaud. Meu querido e amado amigo de longa data.

Amigo. Eu estava certo disso, mas não é esse tipo de afeto que sinto por ele.

Mas não seria ultrajante? Um homem prestando seus sentimentos à outro? Eu já li sobre isso em livros e filmes, mas na vida real é um tabu. Mas, não estaria eu pecando, certo? Errado seria não me encantar por aquele jeito de falar, forma de escrever, seus gostos, sorriso, manias, até como anda. Poderia facilmente listar e criar poemas sobre suas qualidades. E defeitos? Claro que tinha, todo ser humano tem, mas isso que mais admiro nele, sua humanidade. Um ser próximo a um anjo, aquele que me salvou nos momentos de maior perturbação, aquele que chamou meu nome, mas não era um anjo, nem alguma criatura divina, era um humano, mas humanos são belos também, ao menos, esse é.

Sinto que quebrarei seu coração, como se eu fosse para trás dele e disparasse um tiro pelas suas costas. Poderia ser capaz disso? Não, claro que não, até mesmo eu, o mais asqueroso ser, seria incapaz de ferir aquele que ama.

Me lembro da primeira vez que nos declaramos. Claro, ele mostrou primeiro seus sentimentos. Fiquei surpreso pelo fato dele ter falado comigo diretamente do que ter me dado uma carta ou coisa semelhante. Confesso que fiquei bem envergonhado, mas não pude me conter, segurei suas mãos e as juntei, as beijei e disse que sentia o mesmo. Me lembro de seu sorriso as vezes, ele deu para mim, e unicamente para mim aquele apaixonante sorriso. Nosso primeiro beijo demorou um pouco mais. Foi numa noite chuvosa, me recordo plenamente daquele momento. Éramos bem jovens, devíamos ter o que? 14 anos? Ah, mas foi mágico, como foi. Eu e ele estávamos indo para casa mas começou a cair um temporal, nós corremos para a primeira árvore que encontramos e ela serviu de cobertura. Ficamos encharcados, Rimbaud sempre foi sensível ao frio, então estava tremendo, eu dei uma risadinha, Rimbaud me encarou feio e questionou meus sentimentos por ele, em resposta, segurei seu rosto da mais delicada forma e perguntei se poderia, ele assentiu devagar. Demos vários beijinhos.

Alguns meses depois, começamos a namorar de verdade. Ora, meu amor por ele poderia ser imenso, do tamanho do vazio do espaço, mas não ousaria expor meu bem para aqueles que oprimem este meu tipo de amor. Meus pais nunca aprovariam e eu, bem, não suportaria que fizessem algo de mal a meu querido Rimbaud. Ele entendeu, sempre entendeu, nunca questionou ou se pôs a opor sobre isso. Como poderia me achar digno de um ser como ele? O maior medo da minha vida é que um dia ele me veja da forma como me vejo.

Quando fiz 17, me lembro do presente que ele me deu: Um chapéu. Um chapéu preto de aba arredondada. Não era deslumbrante ou impactante, era só um chapéu, mas me fez mais feliz que qualquer coisa quando o recebi. Naquele dia, lembro-me de não ter sabido reagir, mas ele não ligou. Eu poderia ter o beijado ali mesmo, mas era meu aniversário, um grande salão de festa com várias pessoas ao redor, não gostaria de chamar atenção, então o puxei pelo braço e levei para uma parte mais escondida do local e o beijei. O beijei e beijei até me cansar. Meu interesse por aqueles lábios não acabariam, sejam eles encostando nos meus ou recitando poemas.

Je Te Laisserai Des MotsOnde histórias criam vida. Descubra agora