capítulo único.

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O dia estava sendo como qualquer outro, monótono, cansativo e chato. As vezes, o garoto se perguntava do porquê havia largado tudo em seu país de origem para ficar frustrado desse jeito. Não que ele não gostasse da América, pelo contrário, tinha feito ótimas amizades e estava em busca do seu sonho, mas sentia falta de como tudo era antes.
Jungwon bebeu sua xícara de café em segundos e levantou da mesa apressado. Ainda estava no horário, mas sabia que Ni-ki já estava esperando e não queria deixar o japonês sozinho com as crianças, poderia ser um desastre. Ele pegou a bolsa com o seu computador dentro e saiu pela porta da frente, mas não antes de checar a correspondência na caixa de correio como sempre fazia todas as manhãs.
A maioria eram folhetos de propaganda, coisas que Jungwon não ligava e jogava no lixo, mas uma carta meio amarelada se destacou entre o resto. O Yang a analisou com as sobrancelhas franzidas, cartas eram algo ultrapassado em sua opinião, com a tecnologia atual elas eram muito pouco usadas e ele nunca nem havia recebido algo do tipo.
Jungwon já estava decidido a deixar para ler a tal carta depois do trabalho, mas o remetente da mesma o chamou atenção. Seoul, Coréia do Sul, seu país de origem. Mas quem havia mandado? Seus pais? Sunoo? Isso ele não podia deixar para depois, e logo mandou uma mensagem a Ni-ki avisando que ia demorar um pouco mais para chegar.
Assim que botou os olhos na saudação do texto, seu coração falhou uma batida. "Querido", só uma pessoa o chamava assim, ele o chamava assim. Lágrimas se formavam em seus olhos conforme ia lendo e quando finalmente terminou não pôde segurá-las e desabou.
O garoto se sentia tão culpado, mas tão culpado que evitava pensar na vida que levava no outro país, e ao ler a carta, as memórias voltaram como um furacão em sua cabeça. A saudades bateu com força em sua porta, e mesmo que não a deixasse entrar, ela invadiria seu coração.
Jungwon não podia mais fazer aquilo consigo mesmo, muito menos com a pessoa que mais amava na vida. Precisava vê-lo, tocá-lo e amá-lo. Precisava de Jay, então não tardou em ligar seu computador para procurar a passagem de avião mais próxima da data atual para Seoul. Sabia que estava fodido e que provavelmente nunca receberia outra oportunidade boa como aquela de realizar seu maior sonho, mas o seu amado era mais importante no momento e ele não podia mais adiar aquilo.

***

15 horas depois, o avião em que o Yang se encontrava pousou no aeroporto de Seoul e ele foi acordado com o impacto do trem de pouso batendo no asfalto quente. Sunoo o esperava na área de desembarque com um sorriso de orelha a orelha e os olhos marejados com a emoção. Jungwon logo correu em direção ao garoto de fios rosa e se jogou em seus braços.

– Sun, que saudades! – disse o mais baixo, choroso.

– Wonnie! – Sunoo o abraçou com força e o ergueu do chão – É impressão minha ou você cresceu?

– Cala a boca! – disse rindo. Sunoo o colocou no chão novamente e encarou o amigo com afeição, sentia tanto a falta do outro que poderia cair no choro ali mesmo. Jungwon percebendo o que o Kim sentia, sorriu – Preciso que me leve até Jay.

– Mas já? Pensei que ia arrumar suas coisas na casa da sua mãe primeiro.

– Não posso, preciso falar com ele o quanto antes. Você entende, não é?

– Claro, Wonnie. Vamos, eu sei bem onde ele está agora.

Ninguém entendia o Yang melhor do que Sunoo. Os dois garotos foram melhores amigos antes mesmo de nascerem, já que suas mães também eram amigas, e nunca viveram mais de uma quadra longe um do outro, claro, até o mais novo mudar de país. Era difícil a distância, mas nem mesmo isso conseguia separar os pocketz, apelido dado aos mesmos pelo grupo de amigos no ensino médio.
Quando o carro do Kim estacionou em frente a uma casa grande em um dos bairros mais ricos da cidade, Jungwon pôde sentir o ar faltar em seus pulmões. Ele conhecia cada mínimo canto daquele lugar, pelo tanto de vezes que já esteve ali, e nunca poderia se esquecer dos momentos junto de seus amigos no terraço da mansão.

Quando bate aquela saudade - jaywonOnde histórias criam vida. Descubra agora