007

2.1K 292 78
                                    

◇❖S͓̽t͓̽r͓̽a͓̽y͓̽K͓̽i͓̽d͓̽s͓̽❖◇

Felix não conseguia parar de pensar na bondade do mais velho enquanto fazia o seu caminho para casa.

Todo o cuidado e atenção que estava ganhando para si, além de palavras sutis e gentis do outro, ao invés de palvras horríveis que continuava a escutar todos os dias.

Ele não ganhava nada disso em casa, era o completo oposto e ele já tinha medo do que poderia acontecer por chegar tarde.

E do mesmo modo, os pensamentos bons foram substituídos pelo tremor das mãos e a imensa vontade de chorar pelo medo que sentia agora.

Entrar em casa... Essa era sua grande missão. E chegar tarde era pedir para apanhar... Ou pior.

As mãos seguraram a maçaneta e a chave com força, destrancando e entrando o mais rápido possível para tentar não ser pego. O que foi impossível com seu pai bloqueando a passagem do corredor e o olhando daquela forma. Aquela forma. Odiava quando o olhava assim, porquê não conseguia ter nenhuma reação além de ficar encarando e encolher os braços, esperando que ele decida não fazer nada consigo. Mas nunca acontecia isso.

As mãos rudes puxaram o garotinho para o quarto tão conhecido e que o dava arrepios.

-Motivos – rugiu contra o rosto dele – Uhm?

-E-eu tava v-voltando e tentaram me levar... – ele começou a chorar com a respiração travada e os olhos fixados no mais velho – U-um am-amigo me ajudou e-e eu demorei u-um pouco...

-Não minta – segurou o pulso dele e o empurrou para baixo – Você não tem amigos – o barulho da fivela do cinto já estremecia o mais novo, que queria sair correndo para o mais longe possível – Isso é por ser um mentiroso de merda.

Um tapa dolorido da mão pesada deixou uma marca vermelha no rosto clarinho, entrando em contato com as lágrimas salgadas e fazendo mais delas escorrerem pelo rostinho sensível pela ardência.

Não lembrava a última vez que seu pai esteve sóbrio, ou a última vez que sua mãe se importou em intervir na situação.

Ela costumava passar na frente com um pedaço de bolo ou alguma bebida e sentava no sofá, ligava a TV e fingia não ouvir as súplicas e toda a violência que o menino sofria.

Enquanto o cinto chicoteava seus ombros, ele não conseguia fazer nada além de abaixar o rosto e segurar a barra da camiseta fortemente nas mãos, engolindo o choro para evitar ganhar mais doses doloridas do cinto em si.

Qual é, ele era um adulto na mente de uma criança por passar por tudo isso. Suportar isso o deixava esgotado e ele não pensava. Apenas voltava para casa como se fosse sua única opção.

Talvez lá no fundinho, ele esperava que seu se pai estivesse sóbrio ele diria que o ama e compraria uma pizza para uma noite de filme. Mas isso nunca sequer acontecer, e ele, mesmo tendo querendo, já tinha perdido as esperanças a muito tempo.

Ele não tinha pra onde ir, e ficar ali podia parecer sua única opção para o momento.

Apenas quando seu pai se cansava de fazer os movimentos abusivos, ou sentia falta de alguma bebida é que o loiro tinha tempo suficiente para correr e se trancar no quarto, evitando uma noite mais longa e cheia de dores e apenas chorando.

E foi isso que fez, correu quase que caindo até o quarto assim que o homem mais velho questionou-se da garrafa de bebida.

O menino tinha tanto medo que uma tranca não bastava. A cama era posta entre a porta e a parede, evitando que alguém entre caso a trava seja destravada.

E ele passava as noites encolhido no montinho de cobertores mais longe da porta enquanto tentava se acalmar para descansar.

Os pézinhos encolhidos se mexiam tentando afastar o friozinho, enquanto tudo que fazia era se afundar no cheirinho da camiseta e tentar não sentir o cheiro de álcool que se espalhava por toda a casa.

O choro não parava e ele não sabia mais o que fazer além disso. Então chorou, chorou até a última lágrima escorrer de seus olhos e sua mente ficar turva o suficiente para descansar num sono gostoso.

Ele dormiu, turbulento feito um mar e frágil feito uma pena, enquanto segurava a pontinha do cobertor entre os dedos.

Amanhã seria um novo dia.

◇❖S͓̽t͓̽r͓̽a͓̽y͓̽K͓̽i͓̽d͓̽s͓̽❖◇

𝐰𝐡𝐚𝐭𝐞𝐯𝐞𝐫 ♥ 𝐜𝐡𝐚𝐧𝐠𝐥𝐢𝐱Onde histórias criam vida. Descubra agora