capítulo 3

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Arrastei-me mais para dentro da casa da árvore. Era um cubículo de um metro e meio; nem mesmo Gerad podia ficar de pé lá dentro. Mas eu amava aquela casa.
Tinha uma entrada pela qual só se passava agachado e uma janela minúscula na parede oposta.  Havia uma banqueta velha em um dos cantos para servir de suporte para a vela, e um carpete tão gasto que era quase o mesmo que sentar diretamente na madeira.
Não era muita coisa,mas era o meu paraíso. Nosso paraíso.

— por favor,  não me chame de lindo. Primeiro minha mãe, depois a May e agora você. Isso está me dando nos nervos.

Pelo jeito que Brett me olhava, notei que minhas palavras não me deixavam mais feio. Ele sorriu.

— não consigo evitar. Você e a coisa mais linda que já vi na vida. Não me condene por me dizer isso quando posso.

Ele me segurou meu rosto com as mãos, e olhei bem no fundo dos seus olhos.

Foi o suficiente. Seus lábios tocaram os meus, e eu não consegui pensar em mais nada. Não havia seleção, família pobre ou Illéa.  Havia apenas as mãos de Brett nas minhas costas. Minhas mãos passaram por seus cabelos loiros, ainda úmidos do banho — ele sempre,tomava banho à noite —,e se uniram em um nó perfeito. Brett cheirava ao sabonete que a mãe dele fazia. Eu sonhava com  aquele cheiro. Nós nos afastamos, e eu não consegui esconder um sorriso.

As pernas dele estavam bem abertas. Sentei-me no meio delas, como uma criança que pede colo.

— desculpe, não estou de bom humor hoje. É que ... Nós recebemos aquele aviso idiota pelo correio.
— Ah, sim , a carta — suspirou Brett.— a gente recebeu duas.

Enquanto falava, ele observava cada detalhe do meu rosto.
Brett fazia isso quando estávamos juntos, como se quisesse fixar uma vez mais no meu rosto em sua memória. Já fazia uma semana, e uns poucos dias sem nos encontrar bastavam para deixar os dois ansiosos.
Eu também o observava . Brett era o garoto mais bonito de toda a cidade, de todas as castas. Ele era loiro, olhos castanhos e um sorriso que fazia você pensar que ele estava escondendo algo
Era alto, mas não alto demais, magro, mas não magros demais. A luz fraca revelava pequenas olheiras. Com certeza ela tinha Trabalhado até tarde a semana inteira.

Sua camiseta preta estava gasta, assim como o jeans surrado que ele usava quase todos os dias.

Se eu pudesse pelo menos me sentar e costurar sua roupa...

Era isso que eu queria. Não queria ser o príncipe de Illéa.

Queria ser o príncipe de Brett.

Doía ficar longe dele. Alguns dias eu ficava maluco tentando imaginar o que ele estaria fazendo. Quando não aguentava mais, praticava música. Eu devia agradecer Brett por ser o musicista que era. Ele me levava a loucura.

E isso é ruim.

Brett era um  Seis. Eles trabalhavam como ajudantes e estavam apenas um degrau acima dos Sete,  porque tinham uma educação melhor e aprendiam a trabalhar em ambientes fechados. Brett era mais inteligente do que qualquer pessoa que eu conhecia e era muito bonito,  mas dificilmente uma mulher ou homem se casava com alguém de uma casta mais baixa. Um homem casa inferior podia até pedir sua mão, mas raramente recebia um " sim" como resposta. E,quando a pessoas de castas diferentes se casavam, tinham que preencher um monte de papeladas e esperar esperar uns noventa dias para tomar outras medidas legais necessárias. Já ouvi mais uma de pessoa que essa burocracia pretendia dar ao casal a chance de mudar de ideia
Assim a intimidade bem depois do toque de recolher de Illéa poderia nos meter em um problema sério. Isso sem falar no quanto minha mãe me infernizaria se soubesse.
Mas eu amava Brett, fazia quase dois anos. E ele me amava. Com ele ali sentado, alisando meu cabelo, eu era incapaz até de pensar em participar da seleção. Eu já estava apaixonado.

a seleção versão thiamOnde histórias criam vida. Descubra agora