Misunderstood

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Capítulo Cinco: Misunderstood?
Christian

Não gosto de pensar muito na minha história de vida, lembrar de alguns detalhes faz com que me sinta chateado e angustiado. Dói muito, por isso costumo tentar esquecer de tudo e focar somente no presente, em como eu quero ser feliz e superar tudo. Queria poder desligar os meus sentimentos ou ter alguma forma de esquecer de tudo, começando do zero, as coisas seriam bem mais fáceis.

Quando era pequeno era bem sociável, todos ao meu redor me elogiavam e me admiravam. Eu era uma criança que conversava com literalmente qualquer pessoa e estava sempre disposto a fazê-las felizes. Era uma essência de mim que tinha medo de perder.

Nasci em um lar cristão, meus pais eram evangélicos e desde que sempre tentavam me levar para esse caminho também, mas nunca deu certo. Nunca tive um apego grande em religiões, acreditava apenas naquilo que fazia sentido na minha vida, sem contar que não gostava de freqüentar nenhum lugar onde pregavam alguma fé, muito menos a igreja de meus pais.

Não tinha uma relação muito boa com eles, eles simplesmente não me entendiam, tudo para eles era falta de Deus e se não fizesse as coisas de seu jeito estava totalmente errado. Odiava falar sobre como me sentia com eles, pois nem se esforçavam para me entender e sempre diminuíram meus problemas, fazendo com que me sentisse inferior e não importante. Isso me traumatizou um pouco, mas agradeço por não ter crescido dessa forma.

Sem contar que meus pais se importavam muito com o dinheiro. Tínhamos uma condição financeira muito boa e morávamos em um dos melhores apartamentos de Manhattan. Eu não tinha nada para reclamar em relação à isso, mas o problema era que tudo para eles tinha relação com riqueza e dinheiro, o tempo todo. Não deixavam que eu andasse com pessoas que tinham uma inferior a nossa, sempre julgavam as classes mais baixas como pessoas inferiores.

Eu tinha um amigo de longa data, o nome dele era Rafael. Éramos inseparáveis e ele era um dos únicos no qual eu me sentia confortável para falar de absolutamente qualquer coisa, a outra pessoa era minha avó. Ele sabia de tudo sobre minha vida e eu sabia tudo sobre a dele, era como se ele fosse meu irmão perdido, pois tínhamos uma conexão muito forte.

No início do último ano Rafael foi diagnosticado com câncer no pulmão. Ainda estava no início da doença, mas ela estava se espalhando muito rápido. Seus pais tinham dinheiro de sobra para pagar seu tratamento e eles fizeram absolutamente tudo para conseguir salvar seu filho. Pediram ajuda dos melhores médicos da cidade e gastaram rios de dinheiro com isso, mas não foi suficiente.

Em menos de quatro meses de tratamento ele já estava acabado. Tinha emagrecido muito e quase não tinha consciência do que estava acontecendo, ele não tinha mais forças para lutar, vê-lo daquela forma e saber que iria perdê-lo me matava. Seus pais não iriam desistir, admirava muito como eles cuidavam de seu filho e como faziam de tudo por ele, Rafael tinha sorte de tê-los, assim como eles tinham sorte de tê-lo também. Ele era uma pessoa cheia de luz que se ofuscava por onde ia.

Eu ia visitá-lo todos os dias no hospital e fazia de tudo para que ele se animasse um pouquinho. O problema era que eu também estava fraco, meu psicológico estava destruído, era difícil de mais ver meu irmão de alma sofrendo tanto. Queria muito ter feito alguma coisa que pudesse tê-lo tirado daquele sofrimento.

Lembro-me perfeitamente do dia que Rafael foi embora, mesmo que parecesse um grande borrão em minha memória. Foi o pior dia da minha vida. Eu tinha acabado de acordar, era uma quarta-feira, quando peguei meu celular tinha uma dezena de ligações perdidas da mãe de Rafael. Na hora que vi meu coração acelerou e transbordei de preocupação. Assim que liguei de volta e ela atendeu fiquei sabendo da notícia. Ele havia falecido naquela madrugada, depois de muita luta e muito esforço para tentar vencer essa doença horrível.

Failed Suicide - KRAS (Chase Atlantic)Onde histórias criam vida. Descubra agora