8. O perigo bate à porta

46 5 0
                                    

Ally entrou na sala da doutora Evans e se sentou assim que esta lhe cumprimentou e lhe pediu que se sentasse.
    — Devo ser sincera com você, Ally. Não sei até quando ela aguenta… Alguns dias, talvez… Um ou dois meses no máximo, se pudermos contar com a sorte, mas não acredito em sorte. Por isso, aconselho que se despeça dela.
   — Não! — Ally levou a mão a boca, chorando.
   — Sinto muito. Infelizmente, não há mais nada que possamos fazer por ela.

† † †

No quarto de Patricia, Ally se aproximou da cama da mulher que aparentava estar na casa dos quarenta anos. Afastou o cabelo de seu rosto e depositou ali um beijo, antes de abraçar a mulher e dizer-lhe, ainda que ela não pudesse lhe ouvir:
    — Eu amo você!

† † †

Dinah estranhou quando foi chamada até a direção e logo se preocupou quando soube que seus pais atrasaram a última mensalidade. Dinah assegurou que falaria com seus pais e que, certamente havia acontecido algum mal entendido. Foi o que fez ao deixar a direção. Ligou para seu pai.
— Sinto muito, Dinah, mas perdi meu emprego. Estou procurando outro, mas talvez demore a encontrar.
— Como isso aconteceu, pai? — Dinah perguntou nervosa. Não queria trancar sua matrícula, não no último ano. E ela dera tão duro para chegar onde estava.
— Não vem ao caso, Dinah… Olha… Eu… Vou ver se consigo algum dinheiro emprestado com um amigo, mas… Se não conseguir logo um trabalho, infelizmente, essa será a última parcela que poderei pagar, querida.
— Tá, pai. Não se preocupa com isso. Vou procurar um emprego.
— Mas não fica pesado para você estudar e ao mesmo tempo trabalhar?
— Muitas pessoas fazem isso, eu dou conta, pai. — Dinah disse deliberada.

            † † †

Lauren achou melhor entregar o bloco de recibos de Ally a Dinah, pois, talvez, Dinah visse por si mesma que Ally pagava muito dinheiro a duas mulheres, não podia ser uma mesada, a menos que Ally fosse bilionária e, mesmo assim… Naquele ritmo, fortuna nenhuma resistiria.
— O que é isso? — Dinah perguntou a Lauren quando esta lhe entregou o bloco de recibos.
Lauren deu de ombros e respondeu:
— É da Ally, ela deixou cair na sala.
— Ah, obrigada. Entregarei a ela quando a encontrar.
— Tá tudo bem, Dinah? — Lauren perguntou ao notar que Dinah parecia preocupada.
— Sim, tudo. Não se preocupe. Só estou cansada. — Dinah disfarçou rápido.
— Tá… Vou indo, então. Vê se descansa? — Lauren disse sorrindo, antes de ir.
Dinah fechou a porta do quarto. Encarou o bloco em sua mão, mas em nenhum momento passou por sua cabeça olhar o que tinha escrito naquelas páginas, isso, porque ela confiava em Ally. Dinah guardou o bloco nas coisas de Ally e então voltou a procurar um emprego nos classificados.

† † †

Ally passou a noite ao lado de Patricia e quando finalmente pegou no sono, os primeiros raios de sol despontavam no céu. Os pássaros cantaram em um harmonioso coro, mas os sons dos monitores que apitavam descontrolados roubaram a cena. Ally despertou sobressaltada e gritou por socorro. As enfermeiras vieram e uma delas agarrou Ally e a afastou para longe de Patricia. Ally protestou, agarrando com força a mão de Patricia, mas foi inútil. Ela foi retirada do quarto e só pode observar através da janelinha de vidro na parte superior da porta, a médica e os enfermeiros agirem apressados. Fizeram tudo o que poderiam fazer, mesmo tendo consciência que seria em vão.
— Hora da morte… 5:26AM.

† † †

Ally cuidou sozinha dos preparativos do funeral. Não avisou na universidade que se manteria mais alguns dias, ausente, e quando Dinah lhe ligou, ela não atendeu a ligação. Enviou uma mensagem depois, dizendo que explicaria tudo quando voltasse, mas que agora precisava ficar sozinha para resolver um assunto urgente.
Dinah se preocupou com a mensagem, mas não teve alternativa senão confiar que Ally esclareceria tudo quando voltasse. Ela tinha certeza de que se tratava de algo importante, pois Ally, não era irresponsável a ponto de se ausentar da universidade daquele jeito, sem mais nem menos.
Ally só deu as caras, uma semana depois. Dinah a reencontrou no horário de almoço quando voltou ao quarto para buscar um casaco.
— Ally?
Ally a encarou e exibiu um sorriso triste antes de chorar. Dinah foi até onde ela estava e a abraçou.
— O que houve, Ally? — Dinah perguntou.
— A minha mãe… Ela… Morreu.
— O quê? Quando? Como?
— Me desculpe, mas eu não posso falar sobre isso, ainda. É muito doloroso para mim.
— Eu entendo, mas você deveria ter me contado antes. Eu devia estar ao seu lado nesse momento tão difícil. Não precisava passar por isso, sozinha.
— Você está ao meu lado agora, Dinah.

† † †

Lauren e Camila almoçavam quando Lauren parou de prestar a atenção ao que Camila dizia e passou a encarar alguém. Camila logo percebeu e seguiu o olhar fixo de Lauren que observava uma jovem bem vestida.
— Quem é ela? Você a conhece? — Camila perguntou sentindo ciúmes.
— É amiguinha da Ally… Aquela para quem ela entregou um envelope no pub. Está lembrada?
— E o que será que ela faz aqui?
— O que mais? Veio ver a Ally! Não é óbvio? — Falou Lauren se levantando.
— Espera? — Camila agarrou o pulso de Lauren. — Não vai lá, não, sua louca!
Lauren puxou seu pulso e se aproximou da conhecida de Ally.
— Oi? Você parece perdida… Posso ajudar? — Lauren disse para a estranha.
— Oi. Estou procurando uma amiga, mas talvez, você não a conheça… — Disse a estranha sorrindo e ajeitou uma mecha de seu cabelo atrás da orelha.
— Oh, quem sabe… Sou uma garota popular por aqui e conheço quase todo mundo! — Lauren sorriu se esforçando para passar a imagem que queria.
— Bem, ela está no último ano de jornalismo e se chama Allyson Brooke.
— Allyson? — Lauren fingiu uma leve surpresa. — Sim, eu a conheço. Só que ela esteve ausente por alguns dias… Não sei se já retornou ao campus, mas… De qualquer forma, posso te levar até o quarto dela, assim, da próxima vez que vier, já saberá onde encontrá-la.
— Oh, isso seria ótimo.
Camila esperou Lauren e a estranha deixarem o refeitório e pegou o celular, ligando para Dinah. Demorou, mas ela atendeu.
— A Ally está aí com você? — Camila perguntou.
— Sim, por quê? — Dinah perguntou estranhando e encarou Ally.
— Me deixe falar com ela, agora! É importante! — Camila disse.
— Olha, Camila… Não sei se é uma boa hora…
— Droga, Dinah! AGORA! — Camila disse impaciente.
Dinah entregou o telefone a Ally. Ally não perguntou quem era, apenas pegou o celular da mão de Dinah e o atendeu:
— Alô?
— Oi, Ally, é a Camila. Só escuta, tá bem? Não sei no que é que você está metida e não me importo. Mas precisa saber que a Lauren está indo aí nesse momento com a aquela garota que você encontrou no pub. Não conte a ninguém que foi eu que te disse. — Camila desligou em seguida deixando Ally nervosa.
— O que aconteceu, Ally? O que a Camila queria? — Dinah perguntou.

† † †

Lauren bateu à porta do quarto de Ally e Dinah, e esperou. Levou alguns minutos até que Dinah abrisse a porta e encarasse Lauren e a estranha atrás dela.
— Oi, Dinah? Essa é a Normani, uma amiga da Ally… Ela já voltou? — Disse Lauren.
— Não. — Mentiu Dinah. — E estou preocupada por isso. O que será que aconteceu? Ally nunca ficou tantos dias sem dar as caras assim.
— Pois é… Algo muito sério deve ter acontecido para ela esquecer certos compromissos… — Falou Normani desviando o olhar e cerrando os punhos com força.
— Mas aviso que esteve procurando por ela, assim que a vir… — Dinah disse a Normani.
— Obrigada e desculpe por incomodar. Diga a Ally que mandei lembranças. — Normani se virou e após se despedir, foi embora.
Lauren teria ido também, mas Dinah a segurou pelo braço com força e disse-lhe, irritada:
— A próxima vez, ligue e pergunte se pode trazer uma estranha até o MEU quarto! — Dinah então soltou o braço de Lauren e fechou a porta com uma batida.
Lauren balançou a cabeça e saiu pisando duro.

† † †

— Pronto, Ally. Ela já foi. — Falou Dinah abrindo a porta do closet.
— Obrigada, Dinah. — Disse Ally, agradecida.
— Será que, agora, você pode me explicar quem era ela e o que queria? — Dinah perguntou encarando Ally.
Ally mordeu o lábio inferior e desviou o olhar antes de dar as costas a Dinah.
— Está tudo bem, Ally. — Dinah disse se aproximando dela e tocando seu ombro. — Sabe que pode me contar qualquer coisa.
— Sim, eu sei, mas… Tem coisas no meu passado que… Talvez, você não deva conhecer… Para o seu próprio bem. — Ally disse se virando e a encarando.
— Se teme que eu a julgue por qualquer coisa que tenha feito antes de me conhecer… Eu não sou assim.
Ally suspirou.
— Está bem, então… Espero que continue me olhando da mesma forma depois que descobrir o que eu fiz. Eu sou uma assassina, Dinah.
Dinah engoliu a seco e continuou encarando Ally, esperando que ela lhe contasse tudo. Ela não podia ser uma assassina, quer dizer… Ally? Não.

Enquanto Não te Esqueço (Dinally e Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora