exposição oral de português

12 2 0
                                    

*narrador*
Uma possível conversa entre um espelho e um telemóvel.

*espelho*
Hm, alô?

*telemóvel*
Ah, oi?

*espelho*
Eu vi-te, digo, vi o teu reflexo.

*telemóvel*
De onde me conheces?

*espelho*
Ah, não é bem assim é que muitas pessoas quando saem da sua telinha, choram bem na minha frente, digo, na frente delas mesmas. Então, meio que te conheci assim.

*telemóvel*
Acontece contigo também? Eles comparam-se demasiado, nunca estão do seu agrado.

*espelho*
Nunca se veem... Seja no meu reflexo ou na câmera do telemóvel.

*telemóvel*
Por que tem que ser assim, hein? Isso não faz parte de mim.

*espelho*
Eu também não sei. É tudo sobre corpo e, cabelo e, roupa e...

*telemóvel*
Eu sei... Às vezes sinto que dependem muito de mim, sabes? A julgar-se até que o mundo desabe, a usar-me o tempo inteiro e nem sequer se olham ao espelho.

*espelho*
Tu achas?

*telemóvel*
Sim, não é óbvio?
Eles metem em mim, esperanças que não me cabem.
"Mostre-me" "Mostre-me", são marionetes consumidas ao fim.

*espelho*
Que horror! Isso parte-me, digo, "serão sete anos de azar".

*telemóvel*
Mas tu que és retrato, por que não refletiste quem são? Se não o fizer, será em vão.

*espelho*
Eu tentei, juro-te que tentei fazê-los ver. Sempre ocupados. O que tu farias?

*telemóvel*
Bom, se eu tivesse olhos, eu vo-los daria, talvez na esperança dum próximo dia, achassem mal fazer cirurgias.

*espelho*
"Vo-los"? Baralhaste-me!
Olha, eu acho justo mostrar-lhes quem são, não me culpem por trazer a realidade. Oras, sou um espelho, se não reflito, quem seria eu se não um espelho como todos os outros por aí?
Se quiserem mudar, mudem! Nem olhem para mim, digo, para vocês (porque ele reflete).

*telemóvel*
Pois. Até parecem felizes a pôr os meus filtros que somem com cicatrizes.
Eles me amam, me adoram, e no final me padecem; me usam me magoam e não me obedecem.
Ficarias tu, espelho, perplexo com a situação, de tantas mentiras guardadas no coração, fizeram-nos acreditar que real serão.

*espelho*
A comparação mata-os afinal, só doidos ficam a contar as calorias que consomem, fogo! Eu é que não.

*telemóvel*
Queria dizer-lhes como me sinto.

*espelho*
Fico aborrecido, gritam na minha frente, digo, na frente de si mesmos. Fartei-me, é tanta falta de amor... E querem mais, sempre querem mais! *suspiro

*telemóvel*
A fazer tudo por atenção, mal percebem o que se tornaram. Obcecados por validação, esperem que entremos em ação? As crianças continuam tristes em seus quartos embora que não as veja. Luzes que antes definiam que horas íamos dormir, agora mal sabem para onde ir.
Tudo virou um caos desde que cheguei, nas noites frias, intolerantes mensagens que contraí, sujam-me com suas maldades, mas nada disso importa, quando tudo o que se faz é por uma nota.
Coitados daqueles que estão por vir, uma sociedade inteira que depende de vícios para existir.
Talvez, quem sabe, um dia qualquer chegue a solução num frasco feito à mão, para pessoas corrompidas de quem são.

*espelho*
Eles me olham e esperam que haja alguém além, mas não há, se decepcionam ao perceberem. Veem pintinhas como defeitos. Ah se soubessem como suas características são os que tornam...

*telemóvel*
Espelho, e se amor for o que precisam?

*espelho*
Então? Já me perguntaram antes: "O que é o amor se não dor?". Nunca ouvi nada além do que vejo, ou muito menos toquei algo que senti.

Quem foram, quem são ou quem serão, pouco importa no futuro próximo, eles sabem disso-

*telemóvel*

Só não ligam.

*narrador*

A moral, agora digo eu a vocês, o espelho nunca fora visto por alguém que se amava de verdade, por isso não havia reflexo. Era vazio, era sempre vazio.
Já o telemóvel, ele vivia no carregador, era viciado. Estava farto de pessoas vindas de algum lugar.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jun 06 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

dessa vez, eu leio com pressa.Onde histórias criam vida. Descubra agora