quatro e cinquenta

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Durante milênios, a escuridão fora a coroa do princípio e o cetro dos solitários.

No início, afirmaram que houve a criação do céu e da terra, esta na qual era sem forma e vazia. Trevas dançavam sobre a face do abismo; e o espírito divino movia-se sobre a face da água.

Em seguida, veio a luz.

A separação de opostos. A existência do dia e noite em horários complementares e iguais. Para o raiar do sol, existiria o momento que este iria se pôr. Em um ciclo eterno; até o fim do mundo.

Acontece que as noites sempre pareciam muito mais longas que os dias.

Eu os vejo passar da janela do quarto. Vejo a areia cair da ampulheta de grão em grão. Vejo as pontas das velas afogando-se na cera e perdendo sua chama tão rápido quanto um trovão ricocheteando o chão. Vejo as formas que trovões lembram lágrimas. Vejo essa infinidade de lágrimas casando com as estrelas floridas do céu. Vejo os pássaros saudando em cantos melodiosos após fugirem dos tiros de uma madrugada na cidade grande. E como o amor é, sobretudo, feito da fragilidade. Do coração desse pássaro que fugira dos tiros. Dos trovões. Das lágrimas que ricocheteavam.

Aquilo era perturbador. Questionava-me sobre tudo, desejando fugir do subjetivo. Onde estava a luz que fora criada? Em que momento eles caíram dentro do abismo? Ou fora dentro da água após tentarem mover-se sobre sua face e falharem? Esta que reflete o céu de naneira irregular. O dia e a noite. Esta mesma água que cai da torneira da pia; lubrifica meus olhos; é engolida por minha garganta seca e rachada, e inunda toda a minha caixa torácica.

As noites sempre são mais frágeis que os dias, eu percebo. Através da sua respiração curta no pescoço, dos pés buscando calor, dos cílios tremulando em sonhos distantes. Os trovões não te alcançam como as lágrimas. A luz não lhe incomoda. Você poderia andar sobre as águas se desejasse. Encarar esta face que repousa na linha de seu pescoço. Pois você esbanja essa coragem natural. Eu admiro. Genuinamente. Você poderia segurar e proteger o coração deste pequeno pássaro assustado com os tiros. Poderia fazer a noite não ser tão longa assim para mim.

Você poderia, se desejasse. Se soubesse quão longa é para mim.

Mas eu permaneço em silêncio como sempre. Enchendo os pulmões de ar, porque é o que sobrou. Desse sentimento ansioso. Dessas palavras perdidas.

Então, você me chama de volta para a cama com esses olhos pequenos e brilhantes. E a luz da criação acalma minhas palavras, dessa vez não tão longas quanto a noite que esvai.

Não tão longas quanto essa poesia às quatro e cinquenta da manhã que eu deixo em seus lábios adormecidos, estes que fazem-me querer ficar e nunca ir embora.

Breaths Away from Myself by Styles, Edward.Onde histórias criam vida. Descubra agora