Espectro solar

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 Espectro solar

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- Amor...

A intensidade com que amo ouvir essa palavra ser pronunciada por seus lábios, não pode ser descrita. A simplicidade e importância relacionadas a ela e o fato de ser você a direcioná-la a mim, torna tudo único.

Apenas a sua presença desperta em mim uma enxurrada de sentimentos, mas quando me toma para si e nossos corpos se fundem em um, as sensações extrapolam minha capacidade de expressá-las. Ter seu corpo quente em mim, sua pelve chocando-se contra a minha, a boca que me devora, as mãos que instigam e olhos que não desprendem dos meus... Fazem-me ver estrelas, o sistema solar completo, o orgasmo em cosmo.

Em uma noite em particular, após partilharmos uma garrafa de vinho, uma comemoração sem motivo aparente, além de estarmos juntos, os beijos no sofá nos levaram à cama. Suas mãos trilhavam meu corpo, explorando a parte interna de minhas coxas, os seios, apalpando, apertando, excitando cada centímetro da minha pele. Com olhos fixos nos meus pude observar o desejo latente a queimar em suas íris, derramando-se em mim.

- Amor... - Agarrei-me a ti ao ouvir o sussurro rouco, desejando que pudesse sentir o mesmo, o espectro de sentimos a extrapolar as sensações, quando nos entregavamos um ao outro e nosso amor tornava-se uno.

Três semanas depois daquela noite, no momento em que tomávamos café da manhã com o resto da pizza do outro dia, um forte enjoo me atingiu e vomitei duas vezes seguidas. O mesmo ocorreu nos dias seguintes e na quinta-feira preferi não comer antes de sair, com um pensamento fixo a seguir-me.

Mais tarde, naquele mesmo dia, você me entregou, de rosto corado, um teste de gravidez que comprou na volta do trabalho, sem saber que após sair fiz o mesmo e lutei o dia todo contra a ansiedade para chegar em casa e fazê-lo. Rimos juntos, um riso nervoso, ao passo que eu ia com as duas caixinhas de marcas diferentes para o banheiro e você me aguardava do lado de fora. Cinco minutos nunca passaram de forma tão lenta enquanto, ainda no banheiro, aguardava as linhas surgirem nas canetas de plástico dos testes.

Ao abrir a porta me deparei com seu rosto pálido, os olhos bem abertos, ansiosos. Em cada uma das mãos eu segurava um dos testes, ambos marcados com duas linhas, duplo positivo. Os segundos em que levou para decodificar a informação apresentada pelos dispositivos, fez meu estômago revirar-se de medo. Claro que havíamos conversado antes sobre uma família, mas não tínhamos planejado dar início a uma aquele momento de nossas vidas, e admito, fiquei com receio de qual seria sua reação, mas como sempre, você me surpreendeu.

- É positivo, certo?

- Sim... - senti minha própria voz falhar, porém, qualquer temor que minha mente pudesse jogar sobre mim foi varrida para longe.

Suas mãos enfiaram-se por debaixo dos meus braços e com um impulso me fez rodar brevemente, quando meus pés tocaram novamente o chão e me envolveu em seu abraço, pude sentir a umidade em suas bochechas. O medo não existia mais e a alegria por saber que esperava um filho me acometeu por completo. Choramos juntos de alegria, para em seguida começarmos a conversar, com muito entusiasmo, sobre as mudanças que precisamos realizar - e foram tantas! Nosso amor floresceu uma vida em mim e não poderia ser mais feliz.

Nos nove meses seguintes você me acompanhou em todos os momentos, incluindo nos exercícios pélvicos sobre uma bola, apenas para me fazer rir e sair correndo para o banheiro. Durante o parto segurou minha mão nas quatro horas que passei gritando de dor, que pareceram não terem existido quando o pequeno rapazinho foi entregue a mim para nosso primeiro contato. Você disse que nunca viu um sorriso cansado tão bonito quanto o meu, e eu sabia que meu contentamento estava nas orelhas ao ter o pequeno em meu peito. Em contrapartida, eu nunca vira seus olhos âmbar com um brilho tão intenso. As lágrimas que os marejaram logo se puseram a cair no momento em que um sorriso amplo tomou seu rosto, por ter a mão pequenina a abrir-se e segurar seu dedo indicador.

Uma luz nova tomou nossas vidas, novas cores nos nossos dias. Eu tinha um pequeno pedaço seu - e um pequeno pedaço meu - que crescia forte e risonho, como se nosso amor ganhasse pernas e pudesse conquistar novos horizontes.

E no dia em que vocês dois foram me buscar no trabalho, vestindo ternos iguais para levar-me a um jantar de comemoração pela minha promoção, chorei em agradecimento e pedidos, desejando que nosso filho tivesse a mesma sorte que tive e pudesse viver um amor como o nosso.

Hoje nosso menino está mais crescido e você diz, passando as mãos pelo cabelo rajado de grisalho, que não tem mais pique para correr com ele ou ficar muito tempo de cócoras a cavoucar no jardim nos fundos da casa, mas nunca deixa de fazer ambos. Eu dou risada, brincando sobre estar ficando velho, apenas para que me beije e faça-me uma troça ou provocação.

- Encontrei o tesouro no final do arco-íris ao escolher partilhar a minha vida com você.

As cores em vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora