Capítulo 1

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Narradora

A única coisa que elas sentem é a dor, a única coisa.

A dor moveu a angústia, que moveu o desespero, então, moveu o terror, o medo.

Eram tantos sentimentos que elas não poderiam se concentrar apenas em um, mas tentavam.

— Não aguento mais. -geme Pandora.

A última vez que sua cela fora visitada, foi por três guardas tempestuosos que abusaram de todas as três, elas já não tinham forças para se debater, outra nem tentava.

Lilith vira devagar seu rosto dolorido pelas agressões na direção da amiga do meio.

— Sabrina não fala nada há anos, Pandora. -ela guincha.

— Eles acabaram com ela. -soluça a bruxa.

— Não parece ao menos estar aqui. -diz Lilith.

Era verdade, a mente de Sabrina vagava em outro lugar, como um campo de defesa ela entrou em estado de meditação profunda, ela ao menos abre os olhos.

Em algum lugar de sua mente, ela está em uma queda dágua, sentada nas pedras, sentindo o vento com a umidade da água tocar seu rosto, gotas de água baterem no mesmo, seus cabelos serem soprados pela brisa do vento.

Ela está em sua própria prisão meditativa.

— Isto não é o paraíso. —murmura Pandora— é o inferno!

— Nem me fale. -arqueja Lilith, os olhos de um azul vívido que demonstra cansaço.

Os cabelos ruivos vinho grudando em seu rosto.

Pandora sopra uma mecha castanha de seu cabelo, a pele morena está pálida, havia perdido parte da cor trancada naquele lugar, os olhos de um belo castanho perdem seu foco por segundos, então, retornam.

— As bruxas ainda pagam por serem assim, até mesmo no outro mundo. -ela diz.

— Queria que houvesse uma forma de sair. -disse Lilith.

Em sua prisão meditativa, Sabrina inspira e respira fundo, buscando sua calma e paz, serenidade.

Uma abertura, ela precisa de uma abertura, então, poderá trocar sua prisão.

Ela precisa de ajuda.

Concentração, como uma agulha ela atravessa o rasgão de sua mente, surgindo em uma caverna úmida, água pingando.

Luz avermelhada brilha pouco no fundo da caverna, um cheiro de mofo pulgente atinge suas narinas, um odor forte e horrendo.

Ela se aproxima, vendo uma criatura óssea sentada no canto da caverna, dormindo, cheia de teias de aranha, as longas pernas fechadas, os joelhos batendo em seu queixo, os longos braços apertando as pernas.

Ela sentia um frio na barriga se instalando, uma espécie de pânico a invadindo, ela sabia o que era, a magia da criatura, o poder e o terror que a estavam fazendo ficar paralisada aos poucos, mas ela lutou contra aquela amarra.

— Está acordado? -questiona.

— Nem sempre o que fecha os olhos, está a dormir. -aquela voz antiga e gasta soa.

— Por isso perguntei. -ela rebate.

— Sempre de língua tão afiada.

— Graulas, preciso de sua ajuda. -ela diz.

— Quão duvidoso deve ser uma bruxa pedindo ajuda a um demônio milenar? -ele questiona baixo.

— Vai mesmo começar com os seus enigmas? -os cabelos brancos como a neve chicotearam a cintura da bruxa.

Corte De Laços E EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora