Dois dias depois, Vincent Price, o duque de st. Albans, estava sentado em seu coche, rapidamente ajeitando as vestes de seu melhor amigo, enquanto voltavam do White's e contornavam a St. James Square.
Fizera seu melhor para que as cortinas da carruagem permanecessem fechadas, pois a luz daquela manhã parecia perfurar os olhos de ambos. Beber demais era uma de suas diversões, das quais se orgulhava por não prestar um vexame e manter certo apreço de seus companheiros, porém Phineas Black, lorde Montgomery, não poderia dizer o mesmo.
Se olhados de longe, eram uma dupla formidável por sua beleza, mas se visto de perto, as falhas começam a aparecer.
Na verdade, a maior falha de Phineas estava em ter perdido seu casaco em algum lugar do White's, e agora seu colete revelava-se imundo e azedo de uma bile viscosa que escorrera de sua boca conforme, de forma nem um pouco charmosa, vomitava em um dos vasos do clube de cavalheiros.
Viraram a noite bebendo em mesas de carteado e fazendo comentários duvidosos sobre certas mães que os caçavam, ansiando por pretendentes enquanto toda a dor de cabeça que lidavam no parlamento tinha de ser colocado em segundo plano. Por sorte, a situação para com Price era a oposta.
As mães é que fugiam dele como o Diabo foge da cruz.
E com razão.
Fazia dois dias que havia tomado a virgindade mais deliciosa e ainda conseguia sentir seus resquícios em seu corpo. O calor de Charity Blunt, o quão apertada ela era envolta ao seu membro e como seus gemidos e o chamar por seu nome foram deliciosos de ouvir.
Fora uma primeira vez espetacular, ele pensava, a tal ponto de ainda não ter definido quem seria sua próxima vítima. Seriai difícil de encontrar alguém tão interessante quanto ela, que conseguisse sustentar uma conversa diante dele sem desmaiar ou falar frivolidades.
Talvez por isso seus beijos tenham tido um gosto diferente.
Quiçá até mesmo fosse a razão de ainda a ter em pensamento.
Charity Blunt era, sem dúvidas, um diamante da alta sociedade. Um diamante que ele corrompera.
— Do que está... — um arroto — sorrindo, seu babaca? — Resmungou Phineas, bêbado e fedendo como um gambá.
Os lábios de Vincent se alinharam. Nem percebera que estava sorrindo.
— Cale a boca e não vomite em minha carruagem — aconselhou em uma ordem. — O que sua senhora esposa irá pensar vendo-o assim, hein? — Suas mãos tentavam ajeitar as roupas do rapaz; escândalos correm tão rápido quanto seus cavalos, e ele temia que a esposa dele já soubesse sobre sua patética postura no clube.
Vincent fora ao casamento. Cerimônia linda, diria, mas que nunca aconteceria para seu coração tão liberto. Veja só o caso de Phineas Black, um jovem tão promissor, que frequentara Covent Garden até esgotar seu cardápio seleto de prostituas, beberrão e ótima companhia — quando sóbrio — e agora tinha de voltar para a própria residência com a preocupação do que a esposa pensaria a seu respeito.
A esposa que o receberia com bile e o fedor de um homem derrotado antes que seus criados o levassem para um banho.
Ao menos, se colocasse a si próprio naquela situação vergonhosamente hilária, Vincent limpar-se-ia sozinho. Era dono de si, de seu mundo e destino.
Não havia espaço para um casamento em seus planos.
— Precisa ficar com a cabeça erguida, meu amigo — alertava-o conforme lhe dava pequenos tapas contra o rosto. — Ande, olhe para mim! Black!
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Um herdeiro inesperado (Degustação)
Historical Fiction*Uma verdadeira dama nunca deve se envolver com um libertino...* Charity Blunt, a joia da alta sociedade londrina, tinha seu destino planejado na pauta do que era o certo e lhe garantiria uma boa vida, mesmo que tediosa. Porém, quando seu pretendent...