Se Tudo Fosse Fácil: Capítulo 78

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05/10

Marília Mendonça

Perder um amigo que você considera como irmão, é como se você estivesse perdendo uma parte de si mesmo. Perder três amigos de uma pancada só, é como se perder por inteira.

O luto.

O que realmente o luto significa para as pessoas?, dizem que existem cinco estágios do luto e eu por ironia (ou não) estou no primeiro estágio. Negação e isolamento.

Não consigo acreditar que Deus tirou as minhas irmãs de mim, como isso seria possível?, ele não iria me devolver uma que estava perdida (no caso, a Maiara) para depois me tirar duas, isso não seria justo.

Seria a negação a pior parte do luto?, tenho as minhas dúvidas.

É tão sem nexo perder pessoas, sabe?, são coisas que a gente nunca acha que vai acontecer com as pessoas próximas de nós. Por que temos que morrer?, do que adianta você passar anos na escola ou na faculdade e trabalhando para no final de tudo isso, você morrer?, isso não é tudo em vão?.

Todo mundo já perdeu alguém, mãe ou pai, tio ou tia, irmão ou irmã, família sabe?, artistas que você admira. Todo mundo já perdeu alguém.

Tiraram meus amigos de mim, me tiraram três pessoas que eu amo. Minhas meninas que praticamente cresceram comigo, me apoiaram, me amaram, puxaram a minha orelha quando era preciso. Minhas companheiras de copo, de balada, de choros, de risadas, companheiras de vida. Elas estiveram presentes nos momentos mais difíceis da minha vida e com toda certeza, nos melhores. Mathias foi uma pessoa que eu aprendi a amar, um homem que chegou em um momento triste da vida da Lara e que veio para ficar, tratar ele como irmão não estava nos meus planos, mas aconteceu.

Nos tornamos parceiros, ele fazia a minha amiga feliz e me dói perde-lo.

Enfim. Sozinha nessa casa eu já chorei, já gritei, já quebrei tudo o que tinha na minha frente e mesmo assim, a dor não foi embora. Como vai ser o meus dias daqui pra frente?, como vou suportar viver em um mundo onde não tem mais aqueles três sorrisos?, sem ouvir as vozes impactantes, como?, como vou seguir em frente sem os conselhos sábios?, como?.

No meu quarto tinha um violão e acho que ele foi a única coisa que eu não destruí, a única coisa que eu escolhi preservar. Peguei ele e me sentei em frente há um porta-retrato que eu estava com elas duas e fiquei cantarolando sem me dar conta que tinha acabado de inventar uma pequena letra.

Eu: "Pare o avião
Meu grande amor está aí
E se eu ficar sem ele
Meu mundo acaba hoje aqui"

"Sete e meia já passou
E o telefone tocou
Seu número eu tinha apagado
E uma voz me disse alô"

Desligou o telefone
E um print eu recebi
Vôo 3067 e o destino é longe
daqui"....

Eu podia escutar o meu celular vibrar e aposto que estava cheio de ligações da minha mãe.

Eu: "Voando pro aeroporto
Meu Deus, que sufoco, me
desesperei
Chorando no portão de
embarque
Eu já tava louca
Então eu gritei"

"Pare o avião
Meu grande amor está aí
E se eu ficar sem ele
Meu mundo acaba hoje aqui"

Sinto um nó se fazendo na minha garganta e sinto que vou desabar mais uma vez.

Eu: "Pare o avião
Seu comandante, por favor
O anjo da poltrona 7 na janela
é meu, amor".....

O amor da vida da gente, nem sempre se trata de relacionamento amoroso.

Deixo o violão de lado e abraço o porta-retrato como se eu dependesse exclusivamente dele, e desfaço o nó na garganta deixando o choro me atingir novamente. Choro rezando para que alguém passasse por aquela porta e me acordasse dizendo que tudo isso foi só um sonho que passou, um pesadelo bobo e que os três estavam aqui de novo, e que eles nunca, nunca, NUNCA foram embora.

Mas não aconteceu, ninguém passou pela porta, ninguém me disse nada e eles não voltaram aqui.

Meu celular não parava de tocar, mas eu não queria saber de ninguém e por isso o deixei tocar, ignorei todas as ligações e mensagens. A única coisa que eu queria, era ter os meus amigos de volta. Quando a Maiara disse que o avião que eles estavam caiu, meu cérebro desligou e se recusou a acreditar (e ainda se recusa), a única palavra que estava ligada era "não".

Eu sei que preciso ser forte por mim e pela a Maiara que, de nós, ela é a mais frágil. Ela é que mais precisa de cuidado, sabe?. Mas no momento, eu estou nem aí se sou a Marília Mendonça boazuda que mostro ser, a Marília Mendonça cheia dos conselhos coerentes e a Marília Mendonça inabalável. Nesse momento eu quero ser a Marília Dias Mendonça, a Lila, aquela moleca que ainda pede ovos de páscoa pra mamãe, aquela Lila que senta na beira da escada e chora, a Lila que tem as suas inseguranças e que ama fazer bagunça, eu quero ser ela. Não preciso ser forte por ninguém o tempo todo.

Uma hora vai entrar na minha cabeça que os três viraram estrelinhas, viraram apenas saudade dentro da minha casa. Uma hora eu vou aceitar que os meus amores voaram para bem longe de mim, uma hora eu aceito, só não precisa ser por agora.

As minhas lágrimas pareciam não ter fim, chorei tanto que nem vi a hora que eu apaguei, só lembro de ter acordado horas depois abraçada no porta-retrato. Fui olhar a hora e vi que já estava tarde da noite, não almocei e muito menos jantei, apenas "comi" o café da manhã que a Maraisa preparou e que aliás, agora eu entendo o aperto no peito que ela e eu sentimos, agora entendo o desespero dela. Vou para o meu banheiro e coloco a banheira para encher, e enquanto ela não enche, eu pego o meu celular para avisar a minha mãe que estou viva e bem. Ela obviamente implorou para eu deixar ela vir cuidar de mim, mas eu recusei dizendo que precisava ficar sozinha e ela entendeu que eu precisava de espaço para organizar a minha cabeça.

Quando a banheira finalmente encheu, eu retirei toda a minha roupa e me enfiei lá dentro. Não derramei nenhuma lágrima dentro daquela banheira, apenas deixei os milhares de pensamentos e questionamentos invadirem a minha mente vazia, de todas as perguntas que me fiz, não cheguei a nenhum resultado e isso é frustrante.



















Marília Dias Mendonça no comando🥺❤
#NãoRevisado

Se Tudo Fosse Fácil: Segunda TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora