prólogo

125 37 11
                                    

-Bom dia.- cumprimento uma cliente que está em minha frente. A garota era linda, seus olhos cor de mel brilhavam com a pequena luz da manhã nublada.

-Olá.- um sorriso se forma em seus lábios, seus olhos tentam me falar algo.- Eu quero um latte, por favor.

-Ótima escolha, uma das nossas melhores bebidas.
Me curvo e vou até o balcão entregar o pedido a Taeyong para que ele o prepare.

A manhã está calma, mal há clientes aqui. Gosto de dias assim, nublados, vazios e um tanto melancólico. Dias vazios são os melhores, me deixam mais calmo.

- Peça o número dela.- Taeyong se aproxima com o pedido.

- Oi?- desvio meu olhar da garota para Taeyong.

- Eu vi você secando ela desde que ela entrou.- e novamente ele se esqueceu que apenas sou um tanto observador.

-Não é verdade.- ele da de ombros.

- Se eu fosse você ia atrás.

Odeio ter de ir atrás de alguém!

- Por que deveria?

-Não seja chato senhor Jeon, ela é linda, pareceu gostar de você. Desencalha homem, até quando vai viver assim?- ele me empurra, reviro os olhos, "eu estou bem".

Pego a bebida da garota e vou até a sua mesa, coloco a taça em sua frente e, meio incerto, pego um bloco de notas e uma caneta que estava em meu bolso.

- Oii...

- Oi.- ela responde olhando para o bloco em minhas mãos. Ela sorri.

- Posso pegar seu número?- pergunto tímido.

- Claro.- ela pega o bloco e caneta ainda com o sorriso nos lábios, anota um conjunto de números e me entrega.- me chame para sair um dia desses.

- Claro, seria ótimo. - dou um sorriso, me viro e volto ao balcão.

- Muito bem Jungkook.- comemora.- Siga os conselhos de seu amigo e irá chover garotas pra você. - eu não preciso de garotas

[...]

Durante o almoço adiciono o número da garota e percebo que nem ao menos perguntei seu nome, estupidez de minha parte ou talvez culpa de Taeyong que me enche o saco.

"oii, aqui é o garoto da cafeteria" envio a mensagem, e após alguns minutos ela responde com um "oi" e uma carinha sorrindo. Pergunto seu nome, "Larissa" ela responde.

Ficamos conversando durante algum tempo, além de bela, Larissa é simpática e tem uma ótima personalidade. Combinamos de nos ver na próxima semana em um bar aqui perto da cafeteria, Taeyong está animado por saber que fiz amizade com uma garota, e insiste e dizer que devo investir em um futuro relacionamento com ela, apesar de repreendê-lo não posso culpa-lo, é parte do plano de "fazer Jungkook mais feliz"

- Jimin ligou.- paro de repente assustado- Ele está bravo por não falar que parou com o tratamento.- uma hora ou outra ele iria descobrir, mas preferia que fosse pela minha boca.

- Não estava resolvendo. Preferi não gastar mais com isso. -continuo a organizar o balcão.

- Jungkook, se o problema é dinheiro, eu posso ajudar.- não.

Balanço a cabeça. "não quero continuar o tratamento com remédios que estão me matando aos poucos" eu queria, devia ter falado. Taeyong solta um suspiro alto.

- Pensei que tinha melhorado.- ele me olha com pena, tudo que eu menos desejo, pena.

- Eu melhorei, Taeyong.

- Não é o que parece. Quando você parou?

- Dois meses.- percebo seus olhos se arregalarem.- Não diga nada, não quero escutar o que tem a falar. Eu fiz a escolha que achei melhor pra mim.

Taeyong abre e fecha a boca, desiste de falar o que queria. Não preciso escutar mais um sermão, minha mãe já passou o mês chorando e orando para que "Deus cure seu pobre filho". Talvez seja possível, que algum Deus tenha misericórdia e me cure. Seu Deus precisa curar pacientes oncológicos prestes a perder a vida, não um "doente mental"- louco, eles diziam- é desperdício de sua grandeza.

Não quero mais ser o garoto que sentem pena.

Eu não preciso falsa empatia.

[...]

-Jungkook, vamos beber. Quer ir com a gente?- Oliver pergunta.

- Não, vou pra casa.- "Não quero sair com vocês" o que deveria ter dito.

Ele assente e sai.

Sei que oarece estupidez, não é que eu não goste deles, eles são legais, gosto de sua companhia. Eu só não quero sair. Eles nunca entendem.

Saio da cafeteria e visto minha blusa de seda azul marinho, o inverno ainda não chegou, mas os ventos noturnos são frios demais.

Decido andar um pouco pelas ruas lotadas de Busan.

1...

2...

3...

"Não faz sentido" -eu sabia, ela voltou- tantas pessoas andando, será que alguma delas irá notar minha presença? não, nem devem.

Me sento em um banco afastado do movimento. Abro uma bala e a coloco na boca, deixo meu paladar se deliciar com a explosão ardida em minha língua na tentativa de acalmar o pesadelo. "Não tente fugir, não irá funcionar."

Viro meu olhar para um canto onde há uma árvore repleta de folhas, a única por perto. Um garoto me encara, sinto que já o vi antes mas não sei bem dizer onde, talvez na cafeteria, vejo pessoas com frequência, é comum me lembrar de seus rostos mas não saber quem são. Ele ainda está me encarando. Suas roupas são suaves em uma cor acinzentada, seu cabelo e olhos tão escuros quanto o céu sobre nós, sua boca uma espécie de coração achatado, uma beleza surreal para um garoto no meio da noite, ele aparenta ser novo e deve ter uma vida prestigiada.

Observo cada detalhe para poder encontra-lo novamente, seus dedos são longos e carregam flores, corpo magro, alto...

Crisântemos, ele carrega crisântemos, continua a me encarar enquanto sinto uma sensação estranha percorrer meu corpo. Pisco, mas ele já se foi junto da multidão.

Mais uma vez, volto a ser invisível.

chrysanthemumOnde histórias criam vida. Descubra agora