Capítulo 2

9 2 4
                                    

   O Doutor não apareceu naquele dia, ainda estava internado. Não consegui segurar o suspiro de alívio quando vi a Doutora Cissa entrando, ela disse que em uma semana ele voltaria. Os médicos estavam esperançosos com sua melhora e que eu não devia me sentir culpada por lhe fazer mal.
   Deimos riu, e sua gargalhada se fez como um vento frio que passou pela janela aberto do meu quarto.
- Está frio, não está querida ? Não quer colocar uma roupa mais quentinha? Vem muito vento por essa janela, não devia usar roupas tão curtas... vai acabar pegando um resfriado.
- Ela está ótima com esse shorts, não é você que irá me impedir de vê-la linda assim.
   Porém, mais uma vez, sua fala se manifestou apenas para mim, e para a médica uma brisa enfurecida de ar quente soprou em sua cara enquanto eu dizia a ela :
- Estou bem assim.
   Um pouco sem jeito ela decidiu começar a consulta, fazia as mesmas perguntas básicas de sempre e eu respondia da forma mais curta o possível. Meu demônio de estimação, como apelidei Deimos a seu contragosto, estava deitado em minha cama entediado, suas pernas que ficava para fora da cama devido ao seu tamanho, não paravam de balançar, e seus pés inquietos demonstravam que estava gostando mais da consulta do que eu.
- Querida, eu sei que não é fácil pra você mas tem que se abrir de novo a terapia, não vamos ver resultado se não nos deixar ajudar.
- Não quero ajuda, não preciso estar internada, já falei mil vezes que a culpa é do Paulo, ele que relava em mim sem eu permitir !
   A medida que vou falando, meu tom de voz aumenta e as últimas palavras sairam em um grito. A raiva que sentia das pessoas que não acreditavam em mim era quase tão grande quanto a raiva que eu tinha dele.
- Se eu fosse você, mi amore, mostraria a ela uns segundos do que você passou, o que acha ?
   Ele andou até mim e parou ao meu lado com as mãos no bolso olhando fixamente a Cissa, eu gostava dela, mas eu precisava que alguém acreditasse em mim.
- Consegue fazer isso? Como? - Disse virada para ele.
- Com quem está falando querida? Está tudo bem?
- Ela se assustou, mas que peninha - o deboche estava estava expresso em sua fala e seu olhar chegava a ser cruel - Sei que é difícil, mi diosa, mas apenas se lembre de alguma vez que aquele nojento te tocou, apenas uns segundos, e deixe o resto comigo.
   Fechei os olhos e me esforcei para não chorar enquanto aquelas cenas voltavam em minha mente, mas para minha surpresa, não foi meu choro que irrompeu o silêncio do quarto, foi o dela.

Senhora da Escuridão Onde histórias criam vida. Descubra agora