O despertar

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5.800 palavras


— Leandro?

Uma voz tentava me chamar enquanto eu lutava para abrir os "olhos", sendo atingido por fachos de uma luz de led que eram como facas na minha "cabeça".

— Leandro? – A voz tentou novamente.

Ela ecoava nos meus "ouvidos" como se estivéssemos num galpão vazio e abandonado. Aos poucos, fui conseguindo ver os painéis quadrados num teto baixo, que tanto me maltratavam com sua luminosidade. Era difícil porquê a luz parecia querer me impedir de enxergar tudo com clareza.

De repente, vi aquela luz diminuindo a sua intensidade e eu conseguindo reagir.

— S... – a voz voltou a dizer e se mostrava mais nítida que antes, uma voz conhecida. – S, sete, sete, sete, A...? – Disse, por fim.

Não entendia que ele chamava a mim, só depois de conseguir desvendar a silhueta diante de mim, foi que percebi que parecia querer detectar algum sinal de resposta da minha parte.

Era a coisa que me olhava, a mesma que encontrei no porão, a mesma que por semanas se prostrou ao meu lado para onde quer que eu fosse. Mas não exatamente a mesma pessoa, pois tinha como característica distinta da que eu conhecia, um filete cor de chumbo que ia do meio de sua testa até à nuca, bem no centro de sua cabeça enorme. Na ponta da testa, um objeto brilhava num tom azulado diferente do de sua pele, e parecia haver muita coisa ali dentro. Fitei-o com estranheza.

— Está me ouvindo? – Ele perguntou.

Não que eu escutasse... O som não chegava até mim através do aparelho auditivo, mas tocava em mim através de vibrações pelo ar, e eu compreendia que ele se comunicava comigo.

— Você está aqui? – Insistiu.

Onde e quando vi uma pergunta assim antes? Ou simplesmente essas palavras?

— S, sete, sete, sete, A... Você está aqui?

Anteriormente não tinha sido uma pergunta, lembro que era só uma frase numa tela, sem pontuação, logo, sem objetivo.

Mas ali, tinha.

— Leandro? – Ele tinha paciência, me parecendo estar habituado com uma situação assim.

— Aonde estou? – Consegui perguntar sem sentir vibração pelas cordas vocais, mas por toda a extensão do ambiente.

Olhei ao redor, sem sentir que músculos ou o pescoço se movessem, girei e me localizei ao centro de uma sala redonda. Havia vidros em ambos os lados, acompanhando a curva da parede e através de onde se enxergava outra sala que, por sua vez, apresentava outra janela de vidro e assim sucessivamente e até onde minha "visão" alcançou. Dali, via-se uma parafernalha tal qual testemunhei no local aonde me encontrei.

As paredes curvadas eram brancas, com canaletas que saíam de uma espécie de switch ao lado esquerdo de quem entrasse pela porta de folha dupla. No vidro da porta, da direita para a esquerda do meu campo de visão, lia-se S-777 e abaixo do acrônimo: em operação.

Ao lado direito de quem entrasse pela porta, um cilindro que lembrava aqueles de oxigênio, mas bem mais avantajado e alto que um comum e emitia constantemente um som agudo.

Voltei os olhos para a coisa que esperava algo de mim. Com sua mão direita, fez sinal para o lado dos fundos da sala sem cantos:

O que via, ainda me causa arrepios. Nunca vou entender como isso foi possível!

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