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Passado
Abril, 2012

" Hey, sinto muito mas vou me mudar. Tô voltando pra casa dos meus pais, passo no apartamento pra pegar as minhas coisas mais tarde. "

Assim que leu a mensagem Aurora estancou sua caminhada de volta para casa. O dia estava frio e chuvoso, e sua sombrinha estava tão velha que quase desabava com o peso da água, porém Aurora focou no que aquela mensagem de Sheron significava.

Sheron iria se mudar. Provavelmente já havia buscado suas coisas já que passava das 20 horas e a mensagem dela havia sido enviada antes do almoço. Dificilmente Aurora tinha tempo para pegar no celular nas horas que ficava na universidade e isso a levava a situações desse tipo: não havia o que ela fazer agora.

Mesmo que tivesse visto a mensagem na hora, tudo indicava que Sheron tinha a bloqueado em todas as redes sociais logo após enviar a mensagem, evitando que a ex- colega de quarto a cobrasse sobre os meses atrasados. O que faria agora? Não tinha condições de pagar o aluguel sozinha. Com o dinheiro que seus pais enviavam ela comprava comida e pagava sua metade, e era muito raro sobrar ao menos um tostão. Graças a Deus havia ganhado bolsa na faculdade, do contrário com certeza já estaria passando fome.

Trabalhar fora estava fora de questão se ela quisesse dormir o mínimo de horas possíveis para ser uma pessoa saudável. Sua rotina incluía sair de casa antes das 6 para pegar o ônibus e chegar até a universidade, onde ficava das 7 as 19. Suas aulas terminavam as 16, mas na maioria dos dias ela era voluntária na distribuição de comida aos necessitados, que muitas vezes duravam várias horas, então muitos dias por semana ela chegava a sair do campus depois das 20. Das 21:30 as 23 ela ajudava uma vizinha, cuidando de seu filho pra que ela pudesse ir trabalhar. Esse serviço era pago, claro, mas Aurora não mexia nesse dinheiro específico, que guardava para uma emergência.

E por mais que essa situação com Sheron fosse uma, Aurora ainda não usaria essa quantia. Ela daria um jeito, sempre dava.

Talvez a solução fosse se mudar também. Era bastante raro encontrar algo respeitável e que coubesse nos bolsos de Aurora em Chicago, mas se algo aparecesse, quem sabe valeria a pena. Também havia a questão da Sr. Monroe, a proprietária que vivia enchendo o saco de Aurora, mesmo ela tendo pago certo em todo o tempo de aluguel.

"Senhora Monroe, __ ela começou, escrevendo uma mensagem para mandar a ela. __ acho que a senhora bem sabe que esse atraso não é culpa minha. Peço que não me atormente mais com coisas de que não sou culpada, Sheron, minha ex-colega de quarto se mudou hoje mesmo e não me deixou com o dinheiro. Estou mandando abaixo o número dela para que entre em contato 👇🏼"

" Contudo, vou continuar morando aqui por enquanto, pagarei pelo o que usar, mas de maneira alguma vou pagar o que ela deve. Espero que não fique com raiva de mim, tente entender meu lado, por favor. Fique bem e tenha uma boa noite. "

Assim que enviou viu que ela ficou online. Não tinha mais paciência no seu estoque diário, então guardou o celular na bolsa e começou a subir os lances de escadas até o 4° andar.

Hoje era um dos poucos dias em que a vizinha, mais conhecida como Anna, ficava com seu filho. Aurora já havia conversado mais cedo com ela, e tudo já estava acertado, então foi direto para sua casa. O prédio era pequeno e não ficava em um local muito privilegiado, mas pelo menos era limpo e os moradores eram boa gente. Aurora conhecia todos seus vizinhos e inclusive era amiga deles, e exatamente por esse motivo soube que o homem de pé na porta de sua casa não seria coisa boa.

Nove horas da noite. O que um cara estaria fazendo parado ali?

Seu coração acelerou. Ela deu um passo para trás mas o homem deveria ter uma super audição porque imediatamente se virou na direção dela. Agora ela não poderia mais correr. Ele era bem alto e sem sombra de dúvidas a alcançaria rapidamente.

Pense. Pense. Pense.

Agindo como se nada estivesse errado ela foi dando pequenos passos, ao longo do corredor. Pegou a chave de casa na bolsa e se aproximou o máximo da parede possível. Aparentemente seu plano estava dando certo... Até que não deu mais.

Ela parou exatamente de frente para sua porta, de costas para o homem. Com certeza aquilo era uma coisa estupidamente burra pra se fazer no momento, mas Aurora não estava pensando.

Ergueu a mão para destrancar a porta e tardiamente percebeu que tremia demais. A chave caiu aos seus pés. O homem, obviamente não perdeu a oportunidade de pegá-la.

Aurora não estava mais entendendo nada. Ele não iria a roubar, abusar, sequestrar ou algo assim? Por que não fazia isso logo? Pra que todo esse tempo de tortura?

Ele estava cutucando as costas dela.

__ ei princesa, você deixou cair isto. __ disse ele.

Não parecia a voz de um abusador. Na verdade Aurora não tinha como saber isso, mas em sua cabeça aquela voz nunca poderia pertencer a alguém... Assim.

Será que ele tinha uma faca? Ela com certeza estava com seu spray de pimenta em mãos.
Virou de frente pra ele tão rápido que o prendeu na parede, com o spray exatamente apontado para os olhos.

__ quem é você? __ perguntou.

O homem, (que na verdade agora não era tão velho quanto ela imaginava) engoliu em seco.

__quem é você? __ ela repetiu.

Ele sorriu. Aurora franziu a testa para o gesto. Aquilo era um ato bem estranho para o momento. Que porra estava acontecendo ali?

__ esses dias eu... Bem, é uma história engraçada.
Eu sem querer te vi pela janela no outro dia então...

Oh meu Deus. Agora fazia sentido. Ele era o cara da janela, o pervertido que a viu se trocar. É óbvio que ele estava ali para terminar o que havia começado.

__ sinceramente, não foi intencional, eu juro. Eu simplesmente estava ajudando um amigo e você somente.... Apareceu ali.

Aurora o revistou e não achou nada que pudesse ser usado como uma arma, então tirou o spray de perto dele e finalmente abriu a porta de sua casa.

__ qual o seu nome? __ ele perguntou.

__ não vejo como isso é relevante aqui. De qualquer forma, obrigada pelas desculpas e boa noite.

__ eu sou Kyle. __ ele continuou, como se ela não tivesse dito nada antes __ talvez eu poderia te levar para ...

__ obrigada mas vou ter que recusar. Sinceramente Kyle? Estou morrendo de cansaço e não te conheço, então,adeus.

A porta se fechou.

Várias horas depois Aurora estava deitada em sua cama, e com certeza pensava sobre os acontecimentos do dia. Estava tão agradecida por estar segura dentro de casa... Mas mesmo assim ainda tinha medo dele dar um jeito de se aproximar novamente. Aquele cara era bem estranho. Extremamente estranho.

A verdade é que ela quase não prestou atenção nas coisas que ele disse. Estava com tanto medo que seu cérebro somente agiu por impulso e então tudo já estava feito. De qualquer forma, agora não fazia mais diferença. Ela faria o possível pra não cruzar com aquele homem novamente.

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De Volta Pra VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora