dia agitado

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Clhoe estava mais uma vez percorrendo as ruas se esquivando de turistas e outros pedestres apressados. Seu estresse havia voltado e parecia maior do que antes, sentia como se fosse explodir a qualquer momento. O clima estava quente e a aglomeração de pessoas nas calçadas tornava o pior.

Tudo que queria era ir para casa, tomar um banho relaxante e dormir. Ou talvez, e mais provável que ela faria, seria ir a casa de Marcos, eles poderiam pedir uma pizza, assistir a um filme e conversar jogados no chão ou no sofá como faziam quando eram adolescentes e queriam se esconder do resto do mundo. Bom, ela com certeza queria isso agora.

A única diferença é que não precisavam mais fazer isso trancados no quarto se escondendo de pais que queriam saber tudo que acontecia com eles. A lembrança fez Clhoe sorrir brevemente.

Ela tenta equilibrar as pastas que segurava enquanto abre com dificuldade a porta do Starbucks. Tudo que precisava era de um café para aguentar o resto do dia, mas estava muito quente para tomar café então acaba pedindo uma vitamina de morango.

Ela então se senta em uma mesa enquanto espera, verificando o celular. Havia várias mensagens que ignora e lê apenas a mensagem de uma paciente avisando que não poderia ir à consulta daquela tarde.

Clhoe suspirou, ela adora seu trabalho, mas também era humana, também precisava tirar um tempo para si mesma, coisa que não fazia a muito tempo e que precisava desesperadamente. E com sua última consulta cancelada ela poderia ir para casa mais cedo.

— Vitamina de morango para Clhoe — diz o caixa. Clhoe pega sua vitamina e paga.

Estava saindo do local quando alguém no mesmo instante entra fazendo com que os dois trombassem e Clhoe quase derruba sua vitamina.

— Desculpe — Clhoe fala, ao se levantar o olhar encontra um par de olhos castanhos te fitando.

— Parece que o destino nos uniu novamente — fala Alphonso sorrindo.

— Arg, você está me seguindo por acaso?

— Não. Você é alguém que precisa ser seguida?

Clhoe revira os olhos e se vira, começando a andar pela rua.

— Vejo que seu humor esta tão adorável quanto antes — Alphonso diz com certo divertimento na voz. Ele começa a andar junto com ela, sem nem saber ao certo porque de estar fazendo aquilo.

— Você não estava entrando no Starbucks? — pergunta Clhoe.

— Sim estava — ele responde sem dar mais explicações, apenas continuando a andar ao seu lado.

— Então, aonde estamos indo? — Clhoe dá um pequeno pulo de susto quando ele fala depois de um tempo, tinha se esquecido de que ele estava ali — Não que eu não aprecie a companhia, mas…

— Eu estou indo trabalhar e você devia ir fazer o que quer que você faça — fala Clhoe. O que ele quer? Porque não vai simplesmente embora ao em vez de ficar aqui, quando eu claramente não quero falar com ele? Clhoe pensa. Ela para e se vira para ele, colocando a mão em seu abdômen para faze-lo parar também e então retira rapidamente. Ele apenas esboça um pequeno sorriso de divertimento.

— Olha aqui você pode parar de me seguir. Estou começando a achar que você é louco ou sei lá, mas agora eu tenho coisas importantes para fazer e não preciso e nem quero alguém atrás de mim, principalmente alguém que eu sequer conheço — ela fala com o seu tom de voz rude, ela então se vira e começa a andar, depois ela se vira novamente  — E se me seguir de novo eu vou chamar a polícia.

Falando isso ela se vai. Alphonso fica ainda um minuto parado vendo ela sumir ao entrar em um prédio a frente do outro lado da rua. Mesmo diante daquela situação ele sorri enquanto volta para o Starbucks. Pois  Clhoe tinha alguma coisa que ele achará interessante.

***

Algumas horas depois Clhoe sai do seu escritório voltando para as ruas tumultuadas até chegar ao seu apartamento.

Chegando ela manda uma mensagem para o amigo avisando que iria lá, enquanto deixava as suas coisas no sofá e vai ao banheiro tomar um bom e relaxante banho, podendo sentir quase toda a tensão do dia desaparecer de seus ombros. O resto que ficou só passaria quando estivesse sentada na casa do amigo, com uma boa pizza e uma taça de vinho suíço.

Terminando o banho ela se arruma e chama um táxi. Antes de sair pega uma garrafa de vinho que tinha, sua bolsa e sai. O taxista, um senhor de uns quarenta anos, que exibia orgulhosamente uma foto de seus dois filhos no painel do carro, que acaba iniciando uma conversa agradável que durou por todo o trajeto ao prédio.

Quando chegaram ela se despediu e foi em direção ao prédio. Estava esperando o elevador chegar, e quando o mesmo fez aquele apito indicando que havia chegado, Clhoe estava pronta para entrar quando alguém sai de dentro no mesmo instante fazendo as duas pessoas se chocarem.

— Desculp… — Clhoe para de falar quando olha para pessoa — É sério, você de novo?!

Era ele. Alphonso saia da porta do elevador junto com um senhor de idade, que logo sairá para fora do prédio.

— Também é muito bom te ver de novo — fala Alphonso sarcasticamente.

Ele estava com os cabelos bagunçados, jogados em todas as direções, com uma blusa de alguma pizzaria e uma bolsa nas costas, daquelas de entregador.

— Estou pensando seriamente se você não está mesmo me seguindo.

— Eu?! Eu estou trabalhando — ele fala apontando pra si mesmo indicando a roupa — Ou será que não é você que está me seguindo. Ele dá um sorrisinho.

— Me poupe, como se eu fosse querer seguir você.

Clhoe aperta o botão para chamar o elevador novamente, já que nesse meio tempo havia fechado.

— Sou uma pessoa muito interessante, muita gente gostaria de me seguir — Alphonso fala com um sorriso convincente. Clhoe senti vontade de bater nele e arrancar o sorriso de sua boca, esse cara conseguia irrita-lá sem fazer nenhum esforço. Por não poder fazer nada, ela apenas lança um olhar ameaçador, soltando um suspiro profundo.

— A única coisa interessante em você é o seu cabelo — ela fala franzindo a testa — Qual o problema de pentea-lo? Posso te indicar um shampoo muito bom que daria um jeito. Além do mais, isso é um galho nele?

O sorriso de Alphonso vacila por um momento, até se desmanchar e ele ficar sério. Sorri então novamente, mas não tão abertamente como antes.

— É bom ficar aqui com você, enumerando meus defeitos e tudo mais, mas eu tenho que voltar ao trabalho. Espero não atrapalhar mais o caminho da senhorita.

E então sem dizer mais nada ele se vai. Clhoe então fica parada encarando a porta do elevador que se abre. Finalmente! Ela se sentiu estranha, nunca havia falado com alguém assim, ao menos é claro quando precisava defender o amigo, mas agora sentia que havia feito algo de errado.

Balançando a cabeça para afastar esses pensamentos ela entra no elevador antes que as portas se fechem. Só precisava de uma noite regada a pizza, vinho e conversas para esquecer esse dia cansativo. Amanhã seria um novo dia e seria muito melhor. Esperava ela.

Algo novo em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora