Gomas de morango

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Era uma tarde de outono calma e quente, as pessoas sem nada para fazer variam suas calçadas em busca de fofoca ou observavam alguns animais silvestres que esperavam alguma oportunidade para atacar os observadores e conseguir alguma comida, porém não era o caso de Karl ou de Ranpo que corriam loucamente por Yokohama.
Ranpo não costumava sair de casa ou da agência para lugares novos sem companhia, mas dessa vez tinha algo muito importante em risco: seu último pacote de gomas de morango que tinha ganhado de Fukuzawa por um trabalho. Aquilo era algo importante e ele não podia deixar Karl sumir com o pacote pela janela.
Após algumas travessas e ruas atrás de ruas o detetive estava perdido, a única orientação de direção restante era o guaxinim, que de forma alguma soltava o pacote de doces e o encarava com aqueles escuros olhos afiados.
Ranpo não morava muito distante do centro, onde eles estavam agora, embora ele odiasse andar naquela área. Tudo se tornava uma bagunça em sua cabeça, eram informações de mais. Para ajudar, quando ele foi seguir Karl novamente, o tinha perdido de vista.
Ainda assim, em meio a sua confusão ele percebeu que estava ao lado do mercadinho que foi algumas vezes com Dazai. Entrou no lugar, podia aproveitar e pedir ajuda de alguém para achar Karl e se não desse certo voltar para casa ou achar a casa de Poe. Ele provavelmente não acharia mais seu doce uma vez que o guaxinim sumiu de vista.
Uma campainha escandalosa com uma música de natal tocou quando ele adentrou a loja e uma música com um ritmo chiclete tocava de fundo, contudo havia algo incomum, o lugar estava completamente vazio, provavelmente porque neste horário a maioria das pessoas estaria trabalhando, porém, nem mesmo tinha alguém no caixa, Ranpo percebeu pelo estado do local, que a loja deveria ter sido roubada recentemente e o atendente foi atrás da ladra. Claro que ninguém com capacidades normais saberia disso, mas estamos falando de Ranpo.
De todo modo, o fato era: ele não tinha a quem pedir ajuda para chegar a algum lugar.
Edogawa passou alguns minutos olhando o local para ver se o trabalhador não tinha deixado o celular para trás, o que para sua infelicidade, não era o caso.
Depois de algumas voltas entre as prateleiras, encontrou uma com ursinhos de pelúcia e um em especial chamou sua atenção, um corvo fofinho com olhos que pareciam até mesmo inteligentes.
Ele imediatamente se lembrou de Poe, e algo tão bonitinho não deveria ser deixado para trás. Contudo, havia um problema: Ranpo tem certa dificuldade para lidar com notas e moedas, ele preferia muito mais pagar com um cartão por aproximação, para fazer a transferência seria necessário um cartão ou celular, o que ele não tinha no momento, já que saiu de casa correndo. Dinheiro físico, por outro lado, poderia ser deixado em cima do balcão, só que isso demandaria energia excessiva.
O detetive ficou alguns minutos olhando para o corvo e decidindo o que fazer, subitamente seus pensamentos foram interrompidos pela campainha que alertava o movimento do mercadinho.
As câmeras do local logo se depararam com um rosto diferente do habitual, um homem de cerca de 1,80 vestia o uniforme de caixa e sentou-se rabugentamente na cadeira atrás do balcão.
Ranpo que até então estava espiando por de trás das prateleiras se manifestou.
- Mushitarō?
- Ranpo.
- No fim você realmente tem que fazer um trabalho extra né?
O caixa apenas soltou um som de amarga concordância enquanto contava as notas do caixa.
- Vou levar esse corvo de pelúcia.
- Custa 20.
Edogawa, um pouco surpreso com o preço, pagou a pelúcia, na verdade, ele deu o dinheiro ao amigo e ele separou, aproveitando que quem estava trabalhando era alguém conhecido.
- Me ajuda a encontrar o Karl, ele me furtou.
- Estou trabalhando, não posso te ajudar. Vai para casa.
- Você sabe que eu não sei chegar lá.
- Ranpo... sua casa fica a três ruas daqui.
- Me empresta seu celular então.
- Fui roubado.
Perdido e chateado com a atitude do amigo ele se jogou na mesa do balcão e ficou olhando para a porta.
- Tem um jeito de você ir para casa sozinho.
- Qual?
- Uma bússola. - Ranpo ficou encarando o mais alto enquanto pensava.
- Como eu faço isso?
- Aqui na loja tem bússolas, posso te emprestar uma, é só seguir o Norte.
Mushitarō foi pegar o objeto, quando voltou o detetive tinha decidido que essa provavelmente era a melhor escolha no momento.
Colocando seu presente no bolso do casaco e segurando a bússola, Ranpo foi encontrar sua casa.
Seguindo na direção indicada, ele passou por duas ruas, mas depois de um tempo ficou claro que aquela não era a sua rua. As construções eram muito diferentes. Mushitarō mentiu?
Mais uma vez se concentrou e tentou se localizar, não, dessa vez ele estava realmente perdido no centro da cidade ou qualquer lugar que aquele amontoado de construções fosse.
- Com licença, gostaria de participar do nosso festival moço? Começa daqui 30 minutos. - Convidou uma mulher mais velha que estava entregando panfletos sobre um festival de kpop na rua.
- Onde vai ser? - Questionou Ranpo interessado.
- Venha, eu te levo.
O local não era muito longe e só exigiu uma curta caminhada, os dois chegaram até um local com um palco para shows.
- Vamos ter apresentações de covers de alguns grupos, vai ser uma competição. - O garoto ficou olhando para tudo animadoramente.
Ele agradeceu a senhora e se aproximou de algumas fãs que estavam dando mimos de diversos grupos gratuitamente.
Ranpo não gosta muito de conversar com tantas pessoas, contudo como era um grande fã do Super Junior fez um esforço e conversou com outras pessoas que também eram fãs, quando se tem um assunto em comum a conversa flui bem mais fácil.
O detetive ficou por volta de uma hora assistindo a covers e aproveitando o festival, em seguida ficou totalmente cansado e achou melhor voltar a sua busca.
Depois de passar quase o dia inteiro perambulando pela cidade ele estava morrendo de fome e seus pés doíam. O que resultou em um Ranpo sentado na guia da calçada tentando se acalmar.
Após alguns momentos de uma mente enuviada, Edogawa ouviu passos próximos a si.
- Está tudo bem Ranpo?
- Atsushi!
- Sim.
- Me ajuda a ir para casa por favor.
- Ah, claro.
Ele não conseguia parar de sorrir aliviado enquanto se levantava prontamente, e logo os dois começaram a ir de encontro com o tão almejado destino de Ranpo.
- Aliás, o que você estava fazendo aqui Atsushi?
- Eu vim para um festival de kpop com a Kyouka. Ela conheceu alguns grupos e me apresentou, então vimos que iria ter esse encontro e viemos, só que acabamos encontrando o Akutagawa no meio do festival e ela decidiu que preferia ir a um festival de rock depois com ele, por isso eu estava voltando sozinho.
- Eu também fui ao festival. - Comentou.
- Poderíamos ter visto juntos.
- Sim, mas eu fui parar lá por coincidência.
- Espera um segundo. - Disse Atsushi parando bruscamente no meio da multidão na rua.
- Só lembrei agora que eu nunca fui na sua casa, eu não sei onde você mora.
Todo o espírito de Ranpo morreu imediatamente, ele só queria ir para casa, porém levaria mais tempo e provavelmente teria que falar com outra pessoa que o levasse até lá, agora estava exausto e sua barriga não parava de roncar.
- Sinto muito, acho que você está com fome, quer comer alguma coisa?
O detetive apenas concordou com a cabeça e eles seguiram para um restaurante no final da rua.
Eles entraram em um restaurante pequeno e rústico cheio de luzinhas, o lugar tinha apenas duas pessoas, a cheff e um homem alto com um longo cabelo e um par de botas.
- Poe! - Exclamou Ranpo alegre correndo na direção do outro.
- Ranpo. - Chamou enquanto se abraçavam, ambos sorrindo contentemente.
- Quer jantar? - Perguntou Poe olhando atentamente para ele.
- Sim.
- Tenho que ir, Dazai acabou de me chamar para uma emergência. - Anunciou Atsushi segurando o celular.
- Pode ir Atsushi, tchau. - Disse Ranpo se despedindo sem desgrudar de Edgar.
- O que você está fazendo aqui? - Perguntou se sentando e olhando o ambiente, mesas organizadas, um lugar limpo e cheira bem, com certeza um lugar que atrai clientes, Poe deveria ter reservado o local.
- Preparei uma surpresa para você Ranpo, acho que você acabou demorando mais que o esperado no fim. Karl chegou aqui horas atrás.
- Então foi você mesmo, eu não sei andar por aí sozinho.
- No fim você chegou aqui, mesmo com alguns desvios.
- Atsushi, Mushitarō e Karl faziam parte disso, certo?
- Sim, e não se esqueça de Kyouka, a ladra.
- Verdade. - Concordou o castanho com um som afirmativo.
- Quero minhas gomas de morango de volta.
- Claro, desculpe. - Disse devolvendo o doce.
- Tem uma coisa, minha casa realmente fica a três ruas daquela loja?
- Fica, contudo, Mushitarō roubou aquela bússola e quebrou a agulha, conseguimos fazer que as provas fossem apagadas de forma que o Norte, indicasse na verdade, o Sul, assim levando-o até aqui.
- Isso foi inteligente.
- Estou tão feliz que você gostou. - Confessou Poe com um sorriso tímido.
- O kpop não fazia parte dos seus planos né.
- Não, era para você ter chegado muito tempo antes.
- Então, vai me mostrar porque estamos aqui?
- Com licença, o pedido está pronto. - Interrompeu a cheff segurando os pratos.
- Espetinho de polvo. - Olhou surpreso.
- Sei que você gosta muito e eu queria fazer uma surpresa.
Ranpo deixou um selo na bochecha de Poe em agradecimento, claro que o outro ficou completamente vermelho, se a cheff estivesse precisando de pimenta, não seria necessária muita procura porque havia uma logo ali.
O casal de namorados começou a comer os espetinhos e outros aperitivos que haviam chegado, na verdade, eram muitos, o suficiente para que toda a ausência de comida durante o dia fosse preenchida.
- Posso te levar a um lugar? - Perguntou Edgar depois deles terem terminado de jantar.
- Eu andei a cidade inteira, o dia inteiro. - Reclamou.
- Mas tudo bem, vamos Poe. - Chamou Ranpo animadoramente.
Com o Poe guiando Ranpo pelas ruas, de mãos dadas, cintilando graças aos pontos de luz no céu, eles chegaram a uma área um pouco mais afastado do movimento, uma pequena praça, a muito abandonada.
- Feche os olhos. - Pediu Edgar um pouco nervoso.
Edogawa apenas se virou rapidamente sem muitas delongas, estava curioso para saber o que exatamente o tinha feito andar como um bobo pela cidade o dia inteiro.
Após alguns barulhos metálicos e bateres nervosos de bota no chão, Poe pediu para ele se virar.
Em sua frente estava seu grande sonho, algo que tinha sonhado há muito tempo e nunca lhe fora permitido, algo que acabaria até com os seus piores dias: uma máquina de algodão-doce e ao seu lado Poe, com um pote de açúcar em mãos.
Ele se jogou em cima do mais alto e seus lábios se tocaram, assim iniciando um beijo apaixonado.
Ranpo estava completamente extasiado com o presente e não demorou a colocar um monte de açúcar na máquina e girar.
Enquanto girava o doce, realmente sentiu a vontade de retribuir, mesmo que um pouco, então se lembrou do presente que tinha comprado.
- Poe! Eu tenho um presente para você também.
- Quê? - Falou completamente confuso, isso não estava em seus planos.
O detetive tirou a pelúcia de seu casaco e entregou ao namorado, deixando a máquina virar sozinha por um momento.
- Eu sei que você gosta de corvos, são tão astutos e esse em especial é muito fofo.
Em resposta ele abraçou Ranpo por um longo tempo e sussurrou um "obrigado" feliz em seu ouvido. Eles ficaram assim por um longo tempo até ouvirem a máquina fazer um barulho estranho. O açúcar tinha endurecido.
Depois de alguns minutos eles conseguiram fazer um algodão-doce decente e ficaram assim o resto da noite, comendo doces e aproveitando o lugar silencioso onde seus corações se encontravam.
No fim era isso que o tinha feito andar como um bobo pela cidade o dia inteiro: amor.

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𝐆𝐨𝐦𝐚𝐬 𝐝𝐞 𝐦𝐨𝐫𝐚𝐧𝐠𝐨-𝐑𝐚𝐧𝐩𝐨𝐞Onde histórias criam vida. Descubra agora