Capítulo 04 - Violetas 4

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Sem muito o que fazer por estar de folga e não ter qualquer outro passatempo, além do trabalho, verifico a dispensa para anotar o que estava faltando e ir às compras. Após passar por cada cômodo da casa e acrescentar alguns itens de decoração na lista, deixo o pequeno escritório por último, sorrindo ao recordar das reclamações de Fred sobre minha casa de bonecas, já que os maiores cômodos eram a cozinha e meu quarto. Ele e Lola costumavam reclamar por eu ter transformado a maior suíte da planta original em dois quartos menores com um banheiro social entre eles.

Caminho direto até a estante que ficava ao lado da janela, passando os dedos pela lombada dos livros que estavam na primeira prateleira até chegar ao que possuía letras gregas gravadas em relevo. Desço o dedo pelas letras, parando ao sentir a segunda tau, da palavra Tártaros, sob minha digital. Pressiono a letra, baixando meus olhos para acompanhar uma parte do piso se mover e mostrar uma escada que dava acesso ao subsolo. Movo meu dedo, descendo agora para a omicron e a pressiono da mesma forma que fiz com a letra anterior. Logo as luzes nas laterais da escada se acendem e começo minha descida à parte subterrânea de minha casa.

Cada vez que minha irmã ou Lewis sugeriam que fizesse uma reforma para expandir a casa, adicionando o andar superior, eu recusava com a desculpa de não gostar muito de escadas, mas a verdade é que possuía um bunker logo abaixo da minha residência oficial, com a diferença de conter o tamanho total do terreno como perímetro. Meu segredo havia custado a venda de um pequeno negócio que havia iniciado quando tinha dezesseis anos, um empréstimo e vários serviços extras ao longo desses três anos em que estive na agência. Ainda levaria cerca de dois anos para concluí-lo, uma vez que não teria mais tanto tempo disponível para missões extras, mas já era possível armazenar algumas coisas ali.

Anotado o que faltava em meu arsenal, retorno pela escada para o escritório bem a tempo de ouvir meu celular tocando. Me atrapalho um pouco para conseguir fechar a entrada e ir até meu quarto, praguejando ao não conseguir chegar antes do som cessar. Suspiro aliviada ao ver que era da joalheria e não demoro em retornar, acrescentando o estabelecimento em meu itinerário para pegar os anéis personalizados que havia encomendado, já que cada instrutor escolhia o modelo do acessório que identificaria os integrantes de todos os esquadrões pelos quais fosse responsável no futuro.

Diferente do que esperava, finalizo todas as compras em duas horas e logo estou novamente em casa, onde me distraio ao guardar tudo em seus lugares. Reviro os olhos ao ver uma mensagem de Lewis em meu telefone que consistia em uma ordem para almoçar no horário correto.

Havia considerado buscar alguma ajuda psicológica e até agendei uma consulta com uma nutricionista no mês anterior, pois o cuidado de Fred já me incomodava há certo tempo. Porém acabei não indo, uma vez que era preferível ter seus constantes avisos a falar sobre a morte de meus companheiros com algum estranho.

Enquanto pensava sobre ajuda profissional, uma nova mensagem chegou. Embora o conteúdo fosse semelhante, dessa vez o destinatário era Edgar.

Meus pensamentos agora seguiam para a postura indiferente do Weller sobre a garrafa de tequila que mantinha em minha sala e suas motivações ocultas. Não era o tipo de coisa permitida na agência, mas eu tinha certeza que, de certa forma, era seu jeito de tentar cuidar de mim. Afinal, nenhum de nós três sabia exatamente como demonstrar afeto.

Balanço a cabeça para afastar esses pensamentos e a melancolia incômoda que sempre os acompanhava, decidida a sair de casa e comer em qualquer lugar. Faço uma breve careta assim que fecho a porta de entrada, por perceber que não tinha pedido o carro de Fred emprestado para usar durante minha folga, já que ele não me deixava chegar perto da moto dele. Suspiro ao encarar a rua, escolhendo caminhar até o restaurante que localizava-se no final desta por não querer pedir comida pelo telefone.

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